Siga aqui o conflito no Médio Oriente

Nota: as imagens e a descrição do vídeo podem apresentar conteúdo sensível

Já começa a tornar-se um padrão. Para pressionar o governo israelita a firmar um acordo com o Hamas — que permita o regresso a casa das pessoas ainda sequestradas em Gaza — , os familiares dos reféns estão a autorizar a divulgação do vídeos dos raptos do dia 7 de outubro de 2023. As últimas imagens divulgadas, esta segunda-feira, mostram o rapto de três jovens que tentavam esconder-se dos homens do Hamas depois de terem fugido do festival Supernova — que tinha sido atacado momento antes pelos elementos do grupo islamita palestiniano.

No vídeo, de pouco mais de um minuto e meio, podem ver-se os militantes do Hamas a dispararem, com recurso a metralhadores automáticas, contra a entrada de um abrigo anti-bomba onde se tinham refugiado três jovens: Hersh Goldberg-Polin, de 23 anos; Or Levy, de 33; e Eliya Cohen, de 27 anos. Sem que se perceba o que acontece a seguir, ou se algum dos jovens foi atingido pelos disparos, o vídeo mostra depois os membros do Hamas a empurrarem os reféns para a parte de trás de um carrinha de caixa aberta (ou pick up), já ensaguentados. Os terroristas gritam “Allahu akbar” (Deus é Grande) enquanto o veículo se dirige para a Faixa de Gaza.

O mais novo dos jovens raptados que surgem no vídeo é Hersh Goldberg-Polin, um cidadão com nacionalidade israelita e norte-americana. Tinha ido ao festival Supernova (que decorria numa zona próxima do kibbutz Re’im, a poucos quilómetros da fronteira com a Faixa de Gaza) com o amigo Aner Shapira, que acabou por morrer no abrigo. Nas imagens, percebe-se que Goldberg-Polin tem um dos braços amputados. Algo que já era do conhecimento público, uma vez que, em abril, o Hamas divulgou um vídeo em que o jovem surge a criticar a inoperância das forças de segurança israelitas no dia 7 de outubro e as tentativas falhadas de resgate por parte das forças armadas.

“Benjamin Netanyahu e governo israelita, vocês deviam ter vergonha de me abandonar a mim e a milhares de cidadãos naquele dia. Estamos aqui há quase 200 dias e todas as tentativas das IDF [Forças de Defesa de Israel] para nos resgatar falharam. Os bombardeamentos da Força Aérea mataram cerca de 70 reféns como eu e devia ter vergonha de o seu governo rejeitar todos os acordos que chegam à sua mesa”, dizia o jovem.

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Outro dos reféns que aparece nas imagens agora divulgadas é Or Levy, de 33 anos, que tinha ido ao festival Supernova com a mulher Einav Levy — morta pelos terroristas. Os dois têm um filho pequeno.

Também o produtor musical Elia Cohen, de 27 anos, acabou por ser também levado para a Faixa de Gaza. O amigo, Ziv, que o acompanhava no Supernova conseguiu escapar aos homens do Hamas, escondendo-se debaixo os corpos das vítimas mortais.

As imagens, captadas pelo bodycams dos próprios elementos do Hamas, foram partilhadas pelo Fórum dos Familiares dos Reféns e Desaparecidos. “Este vídeo duro é uma séria acusação à negligência que a que vimos assistindo há 262 dias”, diz o movimento, citado pelo jornal Haaretz. “Está claro para todos que o regresso de todos os 120 reféns só será possível através de um acordo”, defendem as famílias dos reféns, em mais uma tentativa de pressionar o governo de Benjamin Netanyahu a firmar um acordo com o Hamas que permita o regresso dos reféns a Israel.

Entretanto, o primeiro-ministro israelita já reagiu à divulgação das imagens, que, diz, mostram a “crueldade” do Hamas. “Este vídeo parte os nossos corações e mais uma vez enfatiza a crueldade do inimigo que nos comprometemos a eliminar”, disse Benjamin Netanyahu, reforçando a ideia de que Israel não vai parar a guerra enquanto os 120 reféns não regressarem a casa.