Mais embrulhado era complicado. Sim, havia aquela questão dos golos que teria sempre o seu peso e que não estava propriamente igual, mas um grupo a entrar na última jornada com quatro equipas com três pontos era como antecipar a fase a eliminar por um encontro. Quem ganhasse, passava; quem perdesse, corria esse sério risco de deixar o Europeu (havendo ainda possibilidade de ficar como um dos quatro terceiros melhores classificados). E era neste ponto que a Bélgica enfrentava a Ucrânia, com esse peso da derrota a abrir o Euro com a Eslováquia que colocou os Diabos Vermelhos a jogarem sem margem de erro. Mais uma vez, a decisão passava pelas duas principais referências da equipa. Mais uma vez, olhos em Kevin de Bruyne e Lukaku.

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Jérémy Doku assume-se cada vez mais como o expoente máximo da nova vaga belga, Casteels tem estado em plano de destaque na baliza e as experiências na defesa e no meio-campo mostram que a equipa não é apenas passado e presente. No entanto, e na hora da verdade, é sobre os mais experientes que recaem as atenções até pelo momento que ambos atravessavam na competição. Para cima, Kevin de Bruyne: abriu o livro frente à Roménia, marcou o segundo e último golo, fez vários passes para finalização, agarrou na equipa tendo esse quase “privilégio” de poder receber e olhar o jogo de frente sem pressão. Para baixo, Romelu Lukaku: após golos anulados frente aos eslovenos, voltou a celebrar sem efeito um golo diante da Roménia, viu Florin Nitá negar-lhe por mais do uma vez o primeiro golo. No final, celebraram juntos e puxaram um pelo outro.

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Os anos vão passando e, no melhor e no pior, a dupla está sempre junta no melhor e no pior, entre o terceiro lugar no Mundial de 2018 ou a eliminação na fase de grupos no Mundial de 2022. Já não há Eden Hazard e companhia, sobram os resistentes que tinham agora uma última missão nestes grupos frente a uma Ucrânia motivada mas com a pressão para “resistir”. E havia essa dúvida antes da partida: que equipa ucraniana iria surgir em Estugarda? O encontro com a Eslováquia foi exemplo dessa bipolaridade de rendimento, com uma primeira parte que pouco ou nada acrescentou à derrota com a Roménia e um segundo tempo de redenção que permitiu a reviravolta e jogar bem e que deixou o adversário sem capacidade de resposta.

A primeira e mais flagrante oportunidade até pertenceu à Bélgica, com Kevin de Bruyne a ter um passe de génio para a diagonal na profundidade de Lukaku que começou aí mais um desfile de chances perdidas (7′), mas a Ucrânia não foi inferior ao adversário nos 45 minutos iniciais. Mais: em termos táticos, de preparação e de capacidade de potenciar os pontos fortes nas fragilidades belgas, este foi o melhor período do conjunto de Rebrov no Europeu, capaz não só de controlar os movimentos de Doku e Lukaku como de criar também as suas oportunidades como aconteceu num remate de Yaremchuk para defesa de Casteels e numa jogada bem gizada pela procura do espaço entre linhas de Shaparenko que teve Dovbyk a chegar atrasado. Só mesmo o suspeito do costume, KDB, fazia mexer a Bélgica, tentando um golo de génio de livre direto que saiu ao lado da baliza de Trubin, que estava como toda a defesa à espera de um cruzamento (33′).

O segundo tempo prometia, o segundo tempo “comprometeu”. Por um lado, a Ucrânia foi afundando mais as linhas, o que deixava Yaremchuk e Dovbyk demasiado isolados na frente. Por outro, a Bélgica estava a jogar muitos metros à frente mas continuava sem criar desequilíbrios no último terço. Foi assim que os minutos foram passando sem sequer haver remates com perigo a não ser uma tentativa de Lukaku para defesa de Trubin (65′), com o jogo a entrar naquela fase em que a Ucrânia teria de mexer para não ficar eliminada mesmo com quatro pontos e a Bélgica estava obrigada a outro tipo de gestão tendo em conta que um golo mudava por completo as contas. Ficou assim mas com assobios para quem passou e muitos aplausos para quem ficou pelo caminho, naquele que foi o melhor resumo possível do jogo em Estugarda.

A pérola

  • Há vários jogadores da Ucrânia que mereciam mais. Até Dovbyk, que foi provavelmente aquele jogador de quem mais se esperava e que não correspondeu, esteve uns furos acima dos encontros anteriores mesmo sem conseguir desequilibrar na finalização. No entanto, e e depois da grande exibição de Shaparenko com a Eslováquia, desta vez foi Sudakov que fez de tudo à procura de um destino melhor que o nulo, tendo a última oportunidade da partida que morreu nas mãos de Casteels nos descontos.

O joker

  • Castagne não fez uma exibição muito feliz, tinha acabado de falhar na marcação de um canto onde saiu do primeiro poste e Casteels salvou em cima da linha o golo olímpico mas acabou por dar o corpo ao manifesto (literalmente) num lance que poderia ter mudado o encontro nos minutos finais quando Malinovskyi apareceu em zona central à entrada da área, atirou forte mas a bola bateu no lateral.

A sentença

  • Com este resultado, a Bélgica acabou por sair melhor, passando na segunda posição aos oitavos onde vai defrontar a França, ao passo que a Ucrânia se tornou a primeira seleção de sempre a ser eliminada da fase de grupos do Europeu fazendo quatro pontos (mas tendo saldo negativo de golos).

A mentira

  • A perceção que existia antes deste Europeu, também um pouco à luz daquilo que foi o trabalho de Roberto Martínez no comando, era que a Bélgica poderia ser uma candidata ao título. Sim, podia estar numa segunda linha menos “óbvia”, mas fazia parte do lote de conjuntos que poderiam aspirar a vencer a competição, algo reforçado com a máquina de golos que demonstrou ser durante a qualificação. Afinal, eram só promessas não cumpridas. Mais: tirando Kevin de Bruyne, que basta ser e estar para melhorar o rendimento de qualquer equipa, esta nova vaga belga não tem nada a ver com a anterior…