Numa cerimónia presidida pela secretária de Estado da Cultura, o presidente da Câmara Municipal de Mafra, Hélder Sousa Silva, anunciou que, dos cinco concorrentes, foi escolhido o Ateliê Carvalho Araújo Arquitetos.
“O júri selecionou aquela proposta por ser aquela que de forma mais inovadora responde a um caderno de encargos com elevadas exigências técnicas e se inscreve no território, situado nas proximidades do Real Edifício de Mafra, inscrito na lista do Património Mundial da UNESCO”, justificam o município e o Ministério da Cultura numa nota de imprensa conjunta.
O futuro edifício do Arquivo Nacional do Som é entendido pelos arquitetos como uma “caixa-forte de um património inestimável”, explicou Joel Moniz, da equipa projetista.
O projeto de arquitetura, que deverá ser concluído e entregue ao município em setembro para ser lançado o concurso para a empreitada, prevê a construção de raiz de um edifício enquadrado na zona envolvente, tirando partido do declive do terreno, com jardim de uso público e espaço para ampliação futura do arquivo.
Joel Moniz explicou que o edifício vai ter cinco pisos: um primeiro enterrado com a entrada com zonas de serviço, outro aberto para infraestruturas técnicas, o piso de entrada com gabinetes administrativos e as zonas de maior interação com visitantes, outro com laboratórios e o último para os depósitos.
“Estamos conscientes de que corremos contra o tempo na recuperação de informação que se encontra em suportes de som que exigem e aguardam por condições de conservação mais adequadas quando os equipamentos de leitura passam pela obsolescência tecnológica”, afirmou a secretária de Estado da Cultura, Maria de Lurdes Craveiro, considerando o projeto um “marco na preservação do património sonoro”.
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Com a missão de preservar os documentos sonoros e os respetivos suportes, o Arquivo Nacional do Som vai reunir esse património em espaços de depósito adequados à sua conservação e proceder à sua digitalização.
A estrutura de missão criada em 2019 para o Arquivo Nacional do Som encontrou “documentos sonoros ameaçados” pela degradação física ou tecnológica dos suportes em que foram gravados, disse à agência Lusa o seu coordenador, Pedro Félix.
Foram identificados meio milhão de registos pertencentes a várias entidades, 90% das quais se situam na Área Metropolitana de Lisboa, daí o interesse da localização do arquivo em Mafra.
O Plano de Recuperação do Edifício financia em 4,5 milhões de euros a construção e em mais dois milhões de euros a aquisição do equipamento.
Do Arquivo vão constar desde os primeiros cilindros de cera e discos de sulco largo da viragem do século XIX para o século XX, até aos recentes CD, sem esquecer os documentos nado-digitais que tanto podem ser gravações de paisagens sonoras e sons de pássaros até música publicada em plataformas digitais e ‘podcasts’.
O projeto resultou de uma parceria estabelecida entre o Município de Mafra e a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas e tem sido desenvolvido por uma estrutura de missão tutelada pelo Ministério da Cultura e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
A criação do Arquivo Nacional do Som foi sendo adiada desde 2006 e voltou a ser referenciada em janeiro de 2016, quando o então Governo o incluiu nas Grandes Opções do Plano, o que foi visto como cumprimento de uma das promessas do programa eleitoral do PS.
Em março de 2018, a Assembleia da República recomendou ao Governo a criação de um Arquivo Nacional do Som, prometido desde 2006, com o objetivo de conservar a produção musical e registo fonográfico e radiofónico nacionais.
Um ano depois, o Governo aprovou uma Resolução de Conselho de Ministros que criou a equipa de instalação do Arquivo Nacional do Som, liderada pelo investigador Pedro Félix, que apresentou um plano de atividades dois meses depois.
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Em 2021, nova Resolução de Conselho de Ministros renovou o mandato da equipa de missão do arquivo, em particular à luz da aprovação do Plano de Recuperação e Resiliência e “de forma a concluir os trabalhos iniciados, bem como para garantir a adequada instalação física do Arquivo Nacional Sonoro”.
Em 2022, a estrutura de missão entregou o dossiê técnico do Arquivo Nacional do Som e, em comunicado na altura, era explicitado que “ao longo dos últimos três anos, a equipa procedeu a um extenso levantamento (mais de 3.500 entidades foram contactadas) para conhecer em detalhe a dimensão, as características e as condições em que se encontra esta importante domínio do património documental, cultural e científico”.
“O levantamento permitiu identificar mais de 500.000 suportes de som, dos quais 170.000 necessitam de urgente intervenção. Esses documentos vão desde som musical a transmissões radiofónicas, de entrevistas a sons da natureza, de audiolivros a peças de teatro radiofónico. Os documentos identificados datam do final do século XIX à atualidade e encontram-se em suportes tão distintos como cilindros de cera e fio de arame até à cassete e aos ficheiros áudio, passando por bobinas de fita magnética e discos de todas as tipologias”, podia ler-se no comunicado da altura.