Espanha foi a única equipa que venceu os três jogos da fase de grupos do Euro 2024 e entre a ausência de qualidade de Inglaterra e França, os deslizes de Alemanha e Portugal e as dúvidas à volta de Países Baixos e Itália tornou-se a grande favorita à conquista do troféu. Algo que fez com que Luis de la Fuente não poupasse as palavras na hora de assumir esse favoritismo.

“Os jogadores espanhóis são os melhores do mundo. Sei o que esta equipa vale e não vejo limites, mas ainda não conseguimos nada. Vencemos alguns jogos importantes, mas o futebol pode ser muito cruel e precisamos de ser cautelosos e humildes, mostrar respeito. Nenhuma equipa é melhor do que nós, mas precisamos de continuar a trabalhar arduamente, melhorar, manter os pés no chão e não baixar a guarda”, disse o selecionador espanhol.

Era neste contexto que, este domingo e em Colónia, Espanha defrontava a Geórgia nos oitavos de final do Campeonato da Europa. Os espanhóis tinham o aviso da derrota de Portugal na última jornada do Grupo F, enquanto que os georgianos tinham a motivação da vitória contra Portugal na última jornada do Grupo F — e a eliminação de Itália perante a Suíça e as dificuldades que a Eslováquia provocou a Inglaterra permitiam espaço para acreditar no absolutamente improvável.

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Ambos os selecionadores lançaram o onze inicial mais expectável, com De la Fuente a manter Nico Williams e Lamine Yamal no apoio a Morata e Pedri, Rodri e Fabián Ruiz no meio-campo, enquanto que Willy Sagnol não abdicava de Kvaratskhelia e Mikautadze no setor ofensivo. Uma certeza, porém, estava no adversário dos quartos de final: a Alemanha, que este sábado afastou a Dinamarca e assegurou a presença na próxima fase.

Espanha dominou os primeiros 20 minutos de uma forma impressionante, somando 10 ações na área adversária em menos de um quarto de hora e encostando a Geórgia ao último terço. Pedri teve a primeira situação de perigo, com um remate em esforço que Mamardashvili segurou (5′), e o guarda-redes do Valencia voltou a ser crucial na hora de parar um cabeceamento venenoso de Carvajal (10′). Pouco depois, porém, a Geórgia voltou a fazer das suas.

Numa transição muito rápida e letal, a primeira que a equipa de Willy Sagnol alcançou em todo o jogo, Kakabadze recebeu na direita e cruzou para a área, onde Le Normand acabou por desviar para a própria baliza (18′). Espanha manteve o controlo total depois de sofrer o golo, mas sentiu a desvantagem e perdeu critério e qualidade nas soluções, demonstrando muitas dificuldades para criar verdadeiras oportunidades.

Ainda assim, mesmo antes do intervalo, os espanhóis conseguiram chegar ao empate. Rodri recebeu à entrada da área e no corredor central, abriu na esquerda em Nico Williams e voltou a receber do avançado do Athl. Bilbao para atirar forte e bater Mamardashvili (39′). No fim da primeira parte, em Colónia, estava tudo empatado.

Nenhum dos selecionadores fez alterações ao intervalo e Espanha demorou pouco mais de cinco minutos para carimbar a reviravolta. Num lance de insistência depois de um livre direto que Mamardashvili defendeu, Lamine Yamal tirou um cruzamento perfeito da direita e encontrou Fabián Ruiz completamente sozinho ao segundo poste, com o médio do PSG a cabecear para assinar o segundo golo neste Europeu (51′). 

Luis de la Fuente mexeu logo depois, trocando Pedri por Dani Olmo, e Espanha nunca perdeu o controlo das ocorrências, ainda que a Geórgia tenha tentado esticar mais a equipa e incomodar Unai Simón. Gvelesiani também fez autogolo mas o lance foi anulado por fora de jogo de Yamal (74′), Nico Williams aumentou a vantagem logo depois com um grande remate cruzado (75′) e Olmo fechou as contas com um pontapé seco após deixar um adversário para trás (83′).

No fim, Espanha goleou a Geórgia e carimbou o passaporte para os quartos de final do Euro 2024, onde vai defrontar a Alemanha. Os georgianos despedem-se de uma competição onde foram uma das equipas-sensação, ultrapassaram a fase de grupos na estreia em Europeus e ainda levaram para casa o bombom de terem derrotado Portugal.

O joker

  • De forma natural, Nico Williams. O avançado do Athl. Bilbao, com apenas 21 anos, tem sido aposta constante e estrutural de Luis de la Fuente e está a justificar o porquê de forma absoluta. Contra a Geórgia, para além de ter sido um dos principais desequilibradores a partir da esquerda, fez a assistência para o golo de Fabián Ruiz e ainda assinou um momento extraordinário em que se estreou a marcar no Campeonato da Europa.

A pérola

  • Lamine Yamal. Com apenas 16 anos e tal como Nico Williams, o jogador do Barcelona é indiscutível para Luis de la Fuente e voltou a assinar uma exibição que o justifica. Compensou as investidas de Williams na esquerda com os mesmos desequilíbrios na direita, fez uma assistência brilhante para o golo de Fabián Ruiz e quase provocou um autogolo que acabou por ser anulado — tudo na mesma semana em que soube, através de um telefonema, que passou nos exames que lhe permitem terminar o ensino secundário.

A sentença

  • Com esta goleada, Espanha elimina a Geórgia e segue para os quartos de final, onde vai defrontar a Alemanha já na próxima sexta-feira. Em teoria, o vencedor dessa eliminatória encontra Portugal nas meias-finais, isto se a Seleção Nacional afastar a Eslovénia já esta segunda-feira e também superar o adversário dos quartos. A Geórgia despede-se do Campeonato da Europa de estreia, onde já fez história ao ultrapassar a fase de grupos.

A mentira

  • A confiança de Luis de la Fuente não é desmedida. Espanha é a melhor equipa do Euro 2024, entre o que joga e o que não permite que os outros jogam, e assume-se cada vez mais como a grande candidata à conquista do troféu. Se é certo que o selecionador espanhol tem razão quando diz que o futebol é cruel e que tudo pode acontecer, também é certo que tem razão quando garante que, nesta altura, nenhuma equipa é melhor do que a La Roja.