Cerca de 300 pessoas concentraram-se esta terça-feira junto à residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa, para reivindicar a melhoria das condições dos trabalhadores da função pública, numa manifestação convocada pela Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública.

Isto é um plenário de sindicatos da Frente Comum, atrás de mim estão dirigentes de todos os sindicatos da Frente Comum e a intenção do dia de hoje é manifestar ao primeiro-ministro [Luís Montenegro] um absoluto descontentamento com o caminho que as negociações estão a levar”, explicou o coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana, em declarações à comunicação social.

O responsável sindical defendeu que deve haver um aumento intercalar dos salários ainda este ano “porque é hoje que os trabalhadores estão com dificuldades em pagar as contas ao final do mês”.

A Frente Comum diz que há dezenas de milhares de trabalhadores na administração pública a receber o salário mínimo nacional e exige ao executivo atual um aumento mínimo de 150 euros, com uma percentagem mínima de 15%, para que os trabalhadores façam frente ao aumento do custo de vida.

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Sebastião Santana apontou que estão em cima da mesa “todas as formas de luta“, incluindo de “formas superiores de luta, naturalmente, como são a greve e as manifestações nacionais”.

Entre as cerca de 300 pessoas presentes, Maria Correia, assistente técnica numa escola, disse estar presente para que se ouvissem as suas reivindicações — não só na administração pública em geral, mas na educação em particular.

Há que sensibilizar o novo Governo, como já fizemos anteriormente, para a necessidade de olhar para os trabalhadores da educação. A valorização passa não só pelas questões salariais, mas pelas questões de carreira e, como também já foi aqui dito, com a abolição deste sistema muito injusto do SIADAP”, afirmou à Lusa.

Na concentração, onde também esteve a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, os manifestantes gritaram pelo fim do SIADAP.

O SIADAP tem sido alvo de críticas por ser um sistema que “continua sujeito a cotas e que, portanto, não permite que o trabalhador seja avaliado pelo seu real desempenho, mas em função do número de vagas”.

Maria Correia defendeu que são precisos mais trabalhadores e uma valorização destes, de modo a conseguir dar resposta à comunidade educativa e aos alunos.

Já a investigadora Amélia Palma assinalou que a sua carreira foi das que mais cortes sofreu.

Para além da solidariedade com todos os outros trabalhadores que ganham muito menos do que nós, e que têm tarefas duríssimas na saúde, no ensino, eu também estou aqui por mim, e pela carreira de investigação dignificada, porque o país precisa de ciência, precisa de investigadores, e só aí é que o tal progresso científico e social pode acontecer”, defendeu.

Para a investigadora do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária “falta, sobretudo, vontade” para mudar os estatutos numa carreira que enfrenta cada vez mais situações de precariedade.

“Uma das maiores pragas ao desenvolvimento da investigação em Portugal é a instabilidade laboral das pessoas que começam e continuam e, até aos 50 e muitos anos, são precárias”, denunciou.

Além do aumento intercalar para mil euros, a Frente Comum pede negociação de medidas para o reforço dos serviços públicos e das funções sociais do Estado, a calendarização de negociações para a valorização das carreiras e profissões e o fim da precariedade na administração pública.