O líder do PS apareceu esta segunda-feira “muito satisfeito” com a vitória, em França, da coligação de esquerda na Nova Frente Popular, mas sobretudo porque “a esquerda direita foi travada”. É que, ao mesmo tempo, essa vitória da junção da França Insubmissa, socialistas, ecologistas e comunistas levanta um passado que Pedro Nuno Santos não quer que se torne o centro do debate político em Portugal neste momento: a organização de uma frente de esquerda em Portugal.

Mal foi questionado, esta tarde em Vila Real nas Jornadas Parlamentares do PS, sobre essa possibilidade em solo nacional, o socialista nem deixou que a pergunta terminasse: “Estamos sempre a tentar trazer novos temas… Não há nenhuma frente de esquerda, esse debate não existe. Estamos a falar da realidade francesa, cada país tem a sua realidade e uma resposta adequada à realidade nacional. Ponto final”.

Perante a insistência dos jornalistas– questionado concretamente sobre o PS nunca ter ganho à AD em legislativas –, Pedro Nuno disse que em 2015 também “nunca tinha acontecido ter um Governo apoiado pelo BE e PCP”. “Coisas novas vão continuar a acontecer”, disse desejando: “Também haverá o dia em que o PS derrotará a AD”.

Nesta altura sobem de tom os desafios à esquerda — e Mariana Mortágua foi uma das vozes que se fez ouvir, precisamente no rescaldo das eleições francesas, ao pedir diálogo à esquerda para um “programa de ruptura com o passado”. Mas o que o socialista quer fixar da noite eleitoral francesa deste último domingo é mesmo que “a ideia de que a Europa virou à direita e de que isto é uma viragem estrutural é falsa. A direita foi travado no Reino Unido e em França”.

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Pedro Nuno foi o rosto da solução política à esquerda com que António Costa conseguiu chegar a primeiro-ministro em 2015, mas, por agora, quer travar conversas sobre uma esquerda que possa organizar-se com tempo para concorrer de forma conjunta a eleições no futuro mais ou menos próximo.

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E sobretudo numa altura em que Luís Montenegro levantou uma ameaça, ao dizer que prefere “ir embora” do que “fazer o contrário” do que prometeu em campanha. “Se o primeiro-ministro tem essa atitude, nós estamos mal”. Pedro Nuno Santos avisa que não se pode “exigir ao PS que esteja a votar a favor de matérias com as quais discorda profundamente” quando Montenegro “não mostra nenhuma vontade de ceder” no Orçamento do Estado.

É a grande questão que vai colocar-se depois do verão e o PS continua a manter tudo em aberto. A única pretensão que mantém bem delimitada é a de se manter afastado da responsabilidade de ter provocado uma crise política, por isso mesmo tenta empurrar Luís Montenegro para IL e Chega.

São ele, diz o socialista, que têm “uma visão próxima do Governo” e que, por isso mesmo, se devia deixar “de pressionar o PS sobre o Orçamento. Quem tem de apresentar OE e garantir condições para a sua viabilização é o Governo e não o PS”. E apontou para um “conjunto vasto de medidas fiscais que têm a oposição” do PS e “têm a concordância do Chega e da IL”. “Os grandes compromissos que o PSD e Luís Montenegro assumiram durante a campanha são partilhados com o Chega e a IL e não com o PS. Temos de deixar de insistir com o PS, isso não é justo”, reclamou.

“Temos uma visão diferente da política económica, da política fiscal, para nós é muito importante que não se acentuem as desigualdade que é o que as propostas do Governo farão”, considerou Pedro Nuno Santos que atirou ainda aos jornalistas que insistiam no tema: “Se calhar deixávamos de insistir com o PS, insistam com uma direita que, no que é estruturante para o Governo — o IRC parece ser fundamental — tem uma visão próxima nessa matéria”.

À AD deixou mais um recado: “Se não estão disponíveis para ceder em matérias fundamentais, vão ter de procurar noutro sítio”. E também um ataque cerrado, aproveitando estar a visitar o Agrupamento de Escolas de Vila Real: “Aqui percebemos que temos um Governo impreparado. Depois de anos sem problemas no arranque do ano lectivo, voltamos a ter”. Apontava para os problemas que existiram nas matrículas e  também já pressionada o Executivo para o processo de colocação de professores que se segue. “Não deve haver Governo do PSD que não tenha problemas no início dos anos lectivos”, atirou a Luís Montenegro.

Nas declarações aos jornalistas durante umas jornadas que o PS dedica ao interior, Pedro Nuno Santos ainda foi questionado sobre a presença da procuradora-geral da República esta noite na RTP para uma entrevista, quando já tem uma audição marcada no Parlamento.Pedro Nuno Santos disse que “todos” têm de “olhar com respeito para a Assembleia da República que pode fazer as perguntas que entender sobre matérias de justiça. “Não há problema de dar entrevista — era só o que faltava — mas há uma Assembleia da República, que é um órgão base do sistema democrático, e é natural que seja o órgão onde esses debates sejam feitos e deve ter mais respeito”, atirou sem falar diretamente em Lucília Gago.