Em comunicado de imprensa, o Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR) avança que o Catálogo Raisonné da obra de Aurélia de Souza integra “471 obras, de 107 proprietários privados e nove entidades públicas”.

Em 2020, MNSR e o Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa, em parceria com a Universidade Católica do Porto e as Câmaras Municipais do Porto e Matosinhos, lançaram-se na tarefa de identificar, catalogar e fotografar toda a obra conhecida da pintora Aurélia de Souza, fazendo um apelo público para que os proprietários dessem a conhecer as obras em sua posse.

O apelo público através de vários meios de comunicação social revelou-se de dimensão “avassaladora”, com Aurélia de Souza a surpreender com uma produção de volume inesperado”, refere a historiadora de Arte e coordenadora do projeto Raquel Henriques da Silva, na nota de imprensa.

“Atingimos mais de 470 números de catálogo, em que incluímos algumas obras de que temos fotografias, mas que não foi possível localizar. A produção é superior, o que significa que não se trata de um estudo fechado como bem assume o seu caráter de catálogo digital, sendo de admitir revisões regulares”, explica Raquel Henriques da Silva.

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A presente versão do Catálogo Raisonné inclui fotografias de Aurélia de Souza, pertencentes ao conjunto composto por cerca de duas centenas de negativos de vidro, recentemente adquirido pela Comissão para a Aquisição de Obras de Arte para os Museus e Palácios Nacionais, para enriquecer o acervo do Museu Nacional Soares dos Reis, o qual integra várias obras de Aurélia de Souza, entre elas o Autorretrato, classificado como Tesouro Nacional.

“Este espólio fotográfico encontra-se ainda por inventariar e estudar, mas tratando-se de um conjunto muito importante para a plena valorização da artista, entendeu-se incluir algumas das fotografias desse conjunto no catálogo, como documentação associada a outras obras”, sublinha Raquel Henriques da Silva.

A edição do Catálogo Raisonné de Aurélia de Souza é uma das atividades realizadas no âmbito da evocação do centenário da sua morte, que incluiu a exposição “Aurélia de Souza Vida e Segredo” e um congresso internacional.

Em entrevista à Lusa, na altura da inauguração da mostra, Maria Ortigão de Oliveira, comissária da exposição e mestre em História de Arte, explicava que a aquela se repartia em quatro grandes áreas — Vidas, Espaços, Temas e Cores –, e que todas revelavam pedaços da vida de Aurélia, uma “mulher feminista radical”, que teve cinco irmãs, que nunca se casou nem teve filhos, e que morreu aos 57 anos, vítima, supõe-se, de tuberculose.

O levantamento e estudo da obra completa de Aurélia de Souza foi desenvolvido nos últimos três anos por Ana Paula Machado, conservadora, Maria Aguiar, conservadora-restauradora, e Raquel Henriques da Silva, que foi diretora do Museu do Chiado (1993-1997) e do Instituto Português de Museus (1997-2002), e Elena Komissarova, também historiadora.

O trabalho contou com o apoio do Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes da Universidade Católica Portuguesa, Câmara do Porto e Matosinhos, Universidade do Porto, Laboratório Hercules — Universidade de Évora, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Laboratório José de Figueiredo, colecionadores privados, sobretudo os familiares da pintora, e Fundação Millennium BCP.

“A produção artística de Aurélia de Souza assenta num conjunto diverso de temáticas: as que preferiu e trabalhou ao longo de toda a carreira foram o retrato, a paisagem e as cenas intimistas do quotidiano doméstico. Além do seu próprio rosto, Aurélia de Souza procurava os motivos para as suas pinturas no universo familiar, fonte inesgotável de inspiração: as pessoas, os recantos da casa, os aspetos do jardim, os trechos de paisagem com o rio ao fundo”, pode ler-se na página do MNSR.