Fotografias de personalidades do cinema e registos de filmagens no Chile nos anos 1970 integram uma exposição do fotógrafo português Armindo Cardoso que inaugura na sexta-feira na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa.

A exposição, que ficará patente na Cinemateca até 26 de setembro, intitula-se “Chile 1971-1973: Costa-Gavras, Ruiz, Guzmán” e remete para um período em que Armindo Cardoso viveu e trabalhou naquele país sul-americano.

Esta nova exposição resgata as fotografias que Armindo Cardoso fez na rodagem do documentário “A batalha do Chile”, de Patrício Guzmán, e da ficção “Estado de sítio”, de Costa-Gavras.

Dois anos depois de ter iniciado carreira na Fotografia em 1967 em Paris, Armindo Cardoso mudou-se para o Chile, onde viveu até ao golpe militar de 1973 no país.

Durante aquele período, Armindo Cardoso foi editor gráfico e fotógrafo do semanário Chile Hoy e colaborou com diversas instituições e publicações chilenas, tendo testemunhado e registado os acontecimentos do país durante o Governo de Unidade Popular, sob a presidência de Salvador Allende.

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A coleção de fotografias de Armindo Cardoso desse tempo faz parte atualmente do acervo da Biblioteca Nacional do Chile, que as adquiriu, pelo seu valor histórico, tendo sido classificadas como “património cultural nacional”.

De acordo com a Biblioteca Nacional do Chile, a coleção cobre os principais acontecimentos da época do Governo de Unidade Popular, manifestações de apoio a Salvador Allende, atos de violência nas ruas e marchas da oposição, retratos de políticos, artistas e intelectuais, paisagens chilenas, arte de rua e muralismo nas ruas de Santiago, registos inéditos de comunidades Mapuches e da vida quotidiana.

Na página oficial da biblioteca é possível ver alguns dos retratos que vão estar na Cinemateca, de Casta-Gavras ou do cineasta Raul Ruiz. É possível ainda ver, por exemplo, fotografias do ator Ives Montand, do diretor de fotografia Jorge Muller e dos escritores Antonio Skarmeta e Carlos Droguett.

Armindo Cardoso nasceu no Porto em 1943 e exilou-se em França nos anos 1960, onde comprou uma Leica em segunda mão e iniciou a formação em Fotografia.

No Chile, Armindo Cardoso trabalhou na Universidad de Concepción, colaborou com a revista Atenea, a editorial Quimantú e fez parte da equipa fundadora do semanário Chile Hoy. Em setembro de 1973, com o golpe militar que impôs a ditadura, o jornal foi destruído e Armindo Cardoso refugiou-se na Embaixada da Venezuela, até conseguir asilo do governo francês.

O fotógrafo conseguiu enterrar duas caixas com negativos num jardim, que foram depois recuperados pelo adido cultural de França no Chile, e levados para Paris em 1974.

A Cinemateca Portuguesa lembra que, já em Portugal, onde regressou em 1974, Armindo Cardoso trabalhou com vários municípios e com companhias teatrais, nomeadamente a Seiva Trupe do Porto, o Teatro de Animação de Setúbal, a Barraca (Lisboa) e a Companhia de Teatro de Almada.

A exposição na Cinemateca Portuguesa junta-se a outras mostras que têm divulgado o trabalho de Armindo Cardoso, nomeadamente “Memória Resgatada” (2018, Braga), “Heróis, povo e paisagem chilena” (2017, Lisboa), “Os olhos da memória” (2020, Lisboa) e “Armindo Cardoso, um fotógrafo humanista em Coruche” (2024).