Correr uma maratona não é propriamente uma tarefa fácil. Os 42,195 quilómetros da prova-rainha dos Jogos Olímpicos nasceram de uma lenda, são o ex libris do espírito olímpico e incluem algumas das histórias de superação mais inacreditáveis do desporto. E Rose Harvey, atleta britânica de 31 anos, decidiu juntar-se a esse lote.

No passado domingo, no último dia dos Jogos Olímpicos de Paris, Rose Harvey terminou a maratona feminina com o tempo de duas horas, 51 minutos e três segundos, cruzando a meta no 78.º lugar. O que ninguém sabia, porém, era que a atleta britânica terminou a maratona com uma fratura no fémur, algo que revelou nas últimas horas através das redes sociais e com uma fotografia onde já surge de muletas.

“Estes não foram os Jogos Olímpicos com que sonhei, mas continuaram a ser a experiência de uma vida. Estava tão ansiosa por aparecer naquele palco, por mostrar que tenho aquilo que é preciso para fazer parte da equipa olímpica da Grã-Bretanha e, mais importante do que isso, para deixar orgulhosos todos aqueles que me ajudaram a chegar a este ponto. Há umas semanas estava ótima, os treinos tinham sido ótimos. Depois comecei a desenvolver alguma resistência na zona da anca”, começou por escrever.

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Mais à frente, a atleta britânica explica que, apesar de já ter sentido algumas dificuldades físicas ainda antes do dia da prova, arrancou com a ideia de que estava em plenas condições. “A minha equipa incrível esforçou-se muito para que eu estivesse bem e em forma e estávamos todos muito otimistas, achávamos que a adrenalina do dia da corrida ia ajudar-me a fazer a corrida que sabia que podia fazer. Mas bastaram uns quilómetros para perceber que isso não ia acontecer. Aqueles 35 quilómetros foram uma batalha dolorosa. Tinha uma fratura de stress no fémur”, acrescenta.

Rose Harvey explica ainda que, se não estivesse nos Jogos Olímpicos, teria desistido nas várias alturas em que sentiu que “não conseguia dar mais um passo”. “As descidas foram um inferno. Mas, mesmo com a certeza de que os meus objetivos não iam ser alcançados, ainda existia uma pequena parte do meu sonho olímpico a que me podia agarrar. E isso era terminar a maratona. Não podia desistir. Dizia a mim mesma para sorrir, aproveitar a energia da multidão incrível e limitar-me a pôr um pé à frente do outro”, disse a atleta, que casa daqui a três semanas.

“Fiquei de coração partido. Mas fazer parte dos Jogos Olímpicos é algo que nunca vou esquecer e ter a possibilidade de partilhar a corrida com tantos amigos fantásticos e com a minha família significou o mundo para mim”, terminou Rose Harvey, que se estreou nos Jogos Olímpicos e que só se tornou atleta profissional em 2020, quando foi despedida do escritório de advogados em que trabalhava durante a pandemia de Covid-19.