Ao fim de quase cinco anos, a Coreia do Norte vai reabrir as suas fronteiras a turistas, com viagens organizadas à cidade de Samjiyon, no norte do país, avançaram duas agências de viagens que operam no país. Kim Jong-un fechou as fronteiras no início de 2020, como prevenção contra a pandemia de Covid-19.
O anúncio da reabertura foi feito na quarta-feira pela agência KTG Tours, na sua página de Facebook. “Ótimas notícias! As fronteiras da RDPC [República Democrática Popular da Coreia] vão abrir finalmente! Acabamos de saber que os turistas vão poder ir a Samjiyon (área do Monte Paektu) este inverno. As datas exatas ainda vão ser confirmadas. Até agora, só Samjiyon foi confirmado oficialmente, mas achamos que Pyongyang e outros lugares também vão abrir”, escreveu o operador turístico, que opera a partir da China, na publicação.
Informações idênticas foram partilhadas no mesmo dia, por uma outra agência, que opera igualmente a partir de Pequim. “A Koryo Tours, líder em viagens na Coreia do Norte desde 1993, está animada por anunciar que o turismo em Samjiyon e potencialmente no resto do país vai ser retomado em dezembro de 2024. Recebemos confirmação dos nossos parceiros locais”, escreveu a Koryo Tours em comunicado.
Ambas as operadoras tinham sido obrigadas a encerrar as suas operações no início de 2020, quando Kim Jong-un decretou o encerramento das fronteiras e cancelou os voos e transportes regulares com cidades chinesas e russas, que representavam a maior parte do turismo da Coreia do Norte. O líder norte-coreano declarou, à data, que as medidas tinham resultado e o país não tinha registado nenhum caso de Covid-19.
Nos últimos meses, Kim Jong-un tem dado pequenos passos para reverter esta medida. Em fevereiro, cerca de 100 turistas russos tiveram os seus vistos aprovados e embarcaram num voo direto entre Vladivostok e Pyongyang para uma viagem de esqui, controlada ao pormenor. Já em julho, o líder visitou Samjiyon, onde, ao longo dos últimos quatro anos foi desenvolvido um projeto de renovação da cidade para a transformar numa “cidade cultural de montanha e num modelo de uma cidade regional”, segundo informou a agência estatal KCNA.
Nesta visita, Kim Jong-un declarou ainda que Samjiyon iria tornar-se “num complexo turístico de montanha de quatro estações para satisfazer as necessidades culturais e emocionais da população ao mais alto nível e revitalizar o turismo internacional”.
Ora, é precisamente nesta cidade que a KTG Tours e a Koryo Tours vão fazer as suas viagens, a partir de dezembro deste ano. A cidade é publicitada como o local ideal para uma viagem de inverno, com uma estância de esqui barata, poucos turistas e muita neve. Samjiyon localiza-se no norte do país, perto da fronteira com a China, no sopé do Monte Paektu.
Segundo as informações disponibilizadas pelo país, este tem uma importância histórica e simbólica. Histórica, porque era aqui que se localizavam os campos secretos de resistência coreana contra a ocupação japonesa — que durou entre 1910 e 1945 –, que ainda podem ser visitados. Simbólica, porque Kim Jong-Il, pai do atual líder e segundo “líder supremo da Coreia do Norte”, terá nascido no Monte Paektu.
A Koryo Tours confirmou à BBC que serão bem-vindos nas viagens cidadãos de todos os países, exceto da Coreia do Sul. Já o presidente-executivo do grupo de análise norte-americano Korea Risk Group mostrou-se cético sobre esta abertura: “Acredito quando vir”, declarou ao canal britânico.
“Se [o plano de renovação] for completado a tempo, só consigo imaginar que apenas turistas russos e talvez chineses consigam visitar em números significativos a princípio. A não ser que a Coreia do Norte ofereça voos diretos a partir de um país neutro, como a Mongólia”, argumentou Chad O’Carroll.
Para além da proibição de sul-coreanos, é difícil que norte-americanos façam parte desta nova vaga de turismo no país isolado. Isto, porque os Estados Unidos exigem uma aprovação do Departamento de Estado para permitir que os seus cidadãos adquiram o visto para a República Democrática Popular da Coreia.