Os especialistas do órgão consultivo da ONU para Inteligência Artificial (IA) consideram as Nações Unidas o “lugar certo” para discutir e decidir o futuro dessa tecnologia, sendo a “única organização” com histórico em abordar questões de governança global.

Num ‘briefing’ à imprensa, em Genebra, a copresidente do conselho consultivo de Alto Nível da ONU para a IA, Carme Artigas, defendeu a capacidade das Nações Unidas de terem o “papel de guarda-chuva” nesta questão, de forma a garantir que haja eficiência na alocação de recursos, mas também, “pela primeira vez, uma reunião dos setores privado, académico, investigadores e governos em torno de um tópico tão complexo” como o da Inteligência Artificial.

“O tópico de IA é muito complexo, é horizontal, afeta todos os setores. A maioria das ferramentas tem uso duplo. Há muitas questões em torno da segurança, mas também dos direitos humanos. E é por isso que achamos que há um défice global importante que não foi abordado e não está a ser abordado pelas iniciativas internacionais já existentes”, observou Artigas, ex-secretária de Estado para a Digitalização e Inteligência Artificial de Espanha.

“Acho que nem mesmo um único país, nem mesmo uma única empresa, nem mesmo uma única organização pode fazer tudo. É por isso que estamos a propor uma abordagem mais holística e colaborativa”, disse, defendendo a ONU como “lugar certo” para sediar o tema, uma vez que o que se faz com IA “deve estar sob o direito internacional, a Carta da ONU e a declaração de direitos humanos”.

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De acordo com Carme Artigas, essa visão estará refletida no relatório do órgão consultivo de Alto Nível da ONU para a Inteligência Artificial, a ser divulgado no próximo dia 19 de setembro.

Em outubro do ano passado, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lançou um órgão consultivo multissetorial de alto nível sobre IA, que junta representantes do Norte Global, Sul Global, academia, setor privado e decisores políticos, para ajudá-lo nas questões da IA e o futuro da sua governação global.

Tendo em conta o défice de governança global existente, os especialistas veem três pontos a melhorar: equidade, eficácia e eficiência.

Questionado sobre os receios que o impacto e avanço da IA geraram em criadores e trabalhadores, Seydina Moussa Ndiaye, professor na Universidade Digital Cheikh Hamidou Kane no Senegal, admitiu que a IA levará à extinção de alguns postos de trabalho, algo que considera “normal”, mas frisou que “muitos empregos também serão criados”.

“Acho que é uma questão de adotar a tecnologia para que possamos melhorar a nossa maneira de trabalhar. Acredito que é mais uma oportunidade do que um peso para os trabalhadores”, avaliou Seydina Moussa Ndiaye.

No relatório final, que contará com uma lista de recomendações para Estados-membros “baseadas em evidências científicas”, será feita uma análise “sobre os riscos, mas também sobre as oportunidades, porque recentemente a discussão é apenas sobre os riscos e acho que não podemos esquecer as grandes oportunidades” associadas à inteligência artificial, advogou Carme Artigas.