O candidato eleitoral da oposição venezuelana, Edmundo González Urrutia, que reivindica vitória nas últimas presidenciais, voltou esta terça-feira a não comparecer para prestar declarações na investigação criminal contra si no Ministério Público (MP), que a oposição considera assédio judicial.

Na clandestinidade há três semanas, González Urrutia já tinha ignorado uma intimação para comparecer na segunda-feira, o que levou o MP a emitir uma nova convocatória para esta terça-feira, a que ainda não compareceu, segundo a imprensa local.

Na intimação, o MP refere que os factos estão “relacionados com a publicação e manutenção do sítio Internet resultadosconvzla.com, a alegada prática dos crimes de usurpação de funções, falsificação de documento público, instigação à desobediência à lei, crimes informáticos, associação para a prática de crime e conspiração“.

Entretanto, a aliança opositora Plataforma Unitária Democrática (PUD) emitiu esta terça-feira um comunicado denunciando “perante o país e o mundo o assédio judicial a que está sujeito o candidato presidencial Edmundo González Urrutia que ganhou por esmagadora maioria as últimas eleições presidenciais de 28 de julho”.

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“A reiterada intimação do Ministério Público procura justificar um mandato de condução contra o nosso candidato vencedor, para acentuar a sua perseguição“, sublinha.

No comunicado, a PUD expressa “solidariedade e apoio” a González Urrutia por “estar a ser perseguido, porque o Governo considera um crime que tenha obtido não menos de oito milhões (8.000.000) de votos por vontade do povo venezuelano” nas últimas eleições presidenciais.

Na segunda-feira, num vídeo divulgado nas redes sociais, González Urrutia acusa o procurador-geral, Tarek William Saab, de ser um “acusador político” e insiste que as atas das eleições devem ser divulgadas publicamente.

“O Ministério Público pretende submeter-me a um interrogatório sem especificar em que condições devo comparecer e pré-qualificando crimes que não foram cometidos. O procurador-geral da República tem-se comportado repetidamente como um acusador político. Condena por antecipação e agora insiste numa convocação sem garantias de independência e de um processo justo”, explica.

Dirige-se também ao Presidente, Nicolás Maduro, vincando que “a solução não está na repressão, mas na verificação internacional independente e fiável das atas, que não pode ser substituída por uma sentença [do Supremo Tribunal de Justiça] ditada à margem da Constituição”.

Na passada quinta-feira, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela, controlado pelos chavistas, declarou Nicolás Maduro vencedor das eleições presidenciais de 28 de julho — uma validação de vitória rejeitada por numerosos países que pedem às autoridades venezuelanas que divulguem os resultados eleitorais pormenorizados.

González Urrutia insiste em que “a bem da paz e do bem-estar do país”, o regime “apresente as atas” eleitorais e mostra abertura a fórmulas que permitam uma transição ordenada de poder, pacífica e com garantias para todos.

O Ministério Público abriu a 6 de agosto um inquérito contra González Urrutia e a líder da oposição, María Corina Machado, por “usurpação de funções, difusão de informações falsas, incitamento à desobediência à lei, incitamento à insurreição e associação criminosa”.

Os dois dirigentes da oposição vivem na semi-clandestinidade desde o início do mês.

Nicolás Maduro, de 61 anos, foi proclamado vencedor das presidenciais, com 52% dos votos, pelo Conselho Nacional Eleitoral que, no entanto, não divulgou as atas das assembleias de voto, afirmando-se vítima de um ato de pirataria informática.

Tal argumento é considerado pouco credível pela oposição e por numerosos observadores, que nele veem uma manobra do poder para evitar ter de apresentar a contagem de votos exata.

A oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia, obteve quase 70% dos votos.