Nascida em 2012, a aliança que une, na Europa, a PSA à General Motors (GM), e de que tem resultado o desenvolvimento e a produção conjuntos de diversos modelos de ambas as partes, poderá redundar numa integração da marca alemã no grupo francês. Seja por via de uma fusão, seja através da própria aquisição, por parte do fabricante gaulês, da divisão europeia do seu congénere norte-americano – a Opel/Vauxhall, detida pela GM desde 1929.

Estas possibilidades terão sido abordadas ao abrigo da constante avaliação que ambos os construtores fazem das possibilidades de expansão da cooperação que mantêm entre si. Sempre com o objectivo de “melhorar a sua rentabilidade e eficiência operacional, incluindo uma possível aquisição da Opel” – pode ler-se no comunicado hoje divulgado pela PSA. Uma declaração que sublinha, ainda, não existir qualquer garantia de que um acordo será alcançado.

A sê-lo, em causa poderá estar a criação do segundo maior construtor automóvel europeu, logo atrás da Volkswagen, o que relegaria a Renault para o terceiro lugar do ranking. Segundo dados de 2016, o Grupo Volkswagen detém uma quota de mercado na Europa de 24,1%, e PSA e Opel juntas passariam a deter 16,3%.

Segundo dados avançados pela Reuters e pela Bloomberg, as vantagens de um acordo deste género para a PSA incidirão, principalmente, num aumento significativo da sua escala, no acesso às soluções de engenharia da Opel (sobretudo no domínio dos automóveis eléctricos) e numa substancial redução dos custos. Já a GM poderia encontrar, aqui, uma forma airosa de sair da Europa, algo que será ainda mais do agrado dos norte-americanos desde que o Reino Unido votou favoravelmente o Brexit e decidiu sair da União Europeia.

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O português Carlos Tavares está a ser o grande obreiro da recuperação financeira da PSA, grupo que une a Peugeot e a Citroën, mas onde a primeira tem a predominância. Agora está em vias de liderar um dos maiores grupos europeus

Vender a Opel? Sim, pela segunda vez

O desejo da GM em vender a Opel não é algo novo. Antes pelo contrário, pois já em 2008/2009, em plena crise da economia americana, esta mesma manobra foi tentada. Desde então, e apesar dos enormes investimentos realizados pelos americanos para salvar a sua divisão europeia, a Opel continuou aquém dos objectivos e, mais grave do que isso, a acumular prejuízos.

Se a vontade da GM em desfazer-se da Opel não é novidade, já o facto de ser a PSA (Peugeot/Citroën) o comprador causa alguma surpresa. Isto porque, há cerca de três anos, estava à beira da falência. E, ainda hoje, continua em fase de recuperação. O aglomerado francês foi salvo por dois factores que decorreram quase em simultâneo. Por um lado, recebeu uma injecção de capital, através da venda de duas tranches de 14% da empresa, uma ao Estado francês e outra ao fabricante Dongfeng, controlado directamente pelo Estado chinês. Por outro, a contratação do português Carlos Tavares (ex-Renault), para trazer a PSA de regresso aos lucros, revelou-se uma boa aposta.

Na altura,o objectivo do gestor português parecia uma tarefa ciclópica em que poucos acreditariam, depois da PSA ter perdido 5.000 milhões de euros em 2012 e 2,3 mil milhões em 2013, “buraco” de que só saiu com a já mencionada venda de acções. Valeu-lhe os bons dotes de timoneiro de Carlos Tavares, que superou todas as expectativas ao acelerar a recuperação da PSA, a ponto de colocá-la perante a possibilidade de se tornar líder de um grupo de dimensão média a nível mundial, com uma produção anual próxima de 4,3 milhões veículos. Ainda assim, longe da fasquia dos 10 milhões onde figuram os grupos Volkswagen, Toyota, GM, além da Aliança Renault-Nissan.