Um estudo coordenado pela equipa portuguesa do Sexlab concluiu que não há relação direta entre a sexualidade mental e a excitação sexual fisiológica. O estudo acaba de ser publicado no Journal of Sexual Medicine e pode ser a entrada para mais investigação sobre o tema da sexualidade feminina.

O que afeta a excitação nas mulheres – o corpo ou a mente? O tema ainda é pouco estudado, mas o que a equipa de investigadores das universidades do Porto, Aveiro e Indiana (nos Estados Unidos) verificou é que “a resposta física das mulheres e a sua perceção dessa resposta não correspondiam”, referiu a primeira autora, Sandra Vilarinho, no site Ciência Hoje.

Vinte e oito mulheres, com idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos, foram convidadas a ver filmes com sexualidade mais e menos explícita e a partilhar o que estavam a sentir e a pensar durante o filme – excitação subjetiva -, ao mesmo tempo era registada a resposta fisiológica do organismo – o fluxo de sangue nos capilares da vagina. O que se verificou foi “a ausência de qualquer relação entre a resposta sexual percebida pelas mulheres (excitação subjetiva) e a resposta medida (excitação fisiológica) perante os filmes”, refere a psicóloga do Sexlab do Centro de Psicologia da Universidade do Porto.

A escolha das candidatas incidiu sobre mulheres que não apresentassem problemas de saúde física ou mental nem problemas sexuais, para que estas condicionantes não afetassem a resposta – estudos anteriores haviam demonstrado que indivíduos com disfunções sexuais tinham pensamentos negativos em relação ao prazer e sexualidade. De facto, esta discrepância entre as respostas físicas e mentais publicadas na edição de novembro da revista científica Journal of Sexual Medicine está, segundo a autora, de acordo com outros estudos internacionais. Mas os investigadores admitem que estudos mais aprofundados precisam ser feitos.

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O estudo conclui que “a excitação objetiva (do corpo) não tem qualquer relevância para a noção que a mulher tem de estar excitada”, refere Sandra Vilarinho, terapeuta sexual. Estudos anteriores já haviam demonstrado que a falta de coincidência entre as medidas subjetivas e objetivas de excitação sexual era comum nas mulheres saudáveis, e ainda mais em mulheres com disfunções sexuais, refere o artigo científico.

Os pensamentos e as emoções, embora pouco relacionados com a excitação física, mostraram-se determinantes na excitação subjetiva. Não só o afeto positivo, mas sobretudo os pensamentos de excitação. Os autores do estudo especulam que pensamentos como: “Quero tocar-me”, “Apetece-me fazê-lo” ou “Isto é mesmo bom”, podem funcionar como estímulos internos adicionais, aumentando a excitação.

Embora este estudo possa fornecer indicações importantes, para a prática clínica, sobre a importância dos pensamentos positivos no processo de excitação sexual, os autores admitem que com este grupo de mulheres não conseguiram estudar o efeito dos pensamentos negativos. A equipa aponta ainda que o facto de o grupo de pessoas estudadas ser pequeno e pouco diverso não permite generalizações. Além disso, não foi estudado um grupo de mulheres com disfunção sexual para servir de comparação.