Em Espanha, a imprensa catalã resolveu esta quarta-feira meter o bedelho no jogo do Santiago Bernabéu entre o Real Madrid e o Paris Saint-Germain e perguntava, à laia de provocação, o Mundo Deportivo na manchete: ¿Quién es el número dos? 

Esquecido talvez da telenovela que foi a saída de Neymar para o PSG no Verão (entrou uma fortuna nos cofres do Barcelona com o negócio, sim, mas até confrontos houve entre o brasileiro e o português Semedo no treino quando o primeiro, insurrecto, “forçava” a saída para Paris), sugeria o Mundo Deportivo que entre o Neymar e Ronaldo viesse o diabo e escolhesse o segundo melhor dos relvados – pois Messi era o primeiro e para os catalães isso é assunto insofismável.

Sim, é verdade: Messi está a ser o melhor da época até agora (par a par com Kevin De Bruyne, do Manchester City) e Ronaldo a fazer uma aquém das passadas, sobretudo na La Liga. Neymar, esse, a bater em ceguinhos em França (a competitividade é outra, ponto final) e tendo custado o que custou a Nasser Al-Khelaifi, não está a fazer nem mais nem menos do que lhe é exigido. Ainda assim, em título, é ele, Ronaldo, o melhor. E na Champions é mesmo o melhor, tendo esta noite chegado ao golo 11 em sete jogos.

Ele pode até não ter a velocidade de outrora e Messi é-lhe superior. Pode até não ter a técnica apurada e driblar como outrora — e o brinca-na-areia Neymar é melhor.

Mas lá instinto de goleador (estar no sítio certo à hora certa não é acaso, é instinto e trabalho) tem ele para dar e vender.

[Veja a reconstituição em 3D dos golos do Real Madrid-PSG]

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O Real entrou a pressionar alto, logo à saída da defesa dos franceses, e logo ao terceiro minuto a primeira ocasião. Depois de um passe de Isco para as costas da defesa do PSG, Ronaldo chutou de primeira (o ângulo era pouco ou nenhum) e a bola não saiu muito longe do poste esquerdo à guarda de Areola. O PSG cresceria a partir do minuto 15. Neymar e Mbappé perderam a vergonha então. Mas Nacho, o adaptado Nacho à direita, mesmo sofrendo a bem sofrer com o primeiro, foi sempre impedindo remates ou cruzamentos perigosos.

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Real Madrid-Paris Saint-Germain, 3-1

Liga dos Campeões, 1.ª mão dos oitavos-de-final

Estádio Santiago Bernabéu, em Madrid

Árbitro: Gianluca Rocchi (ITA)

Real Madrid: Keylor Navas; Nacho Fernández, Sergio Ramos, Varane e Marcelo; Casemiro (Lucas Vázquez, 79’), Modric e Kroos; Isco (Asensio, 79’), Cristiano Ronaldo e Benzema (Gareth Bale, 68’)

Suplentes não utilizados: Kiko Casilla, Achraf Hakimi, Theo Hernández e Kovacic

Treinador: Zinedine Zidane

Paris Saint-Germain: Areola; Dani Alves, Marquinhos, Kimpembe e Yuri Berchiche; Lo Celso (Draxler, 85’), Verratti, Rabiot; Mbappé, Neymar e Cavani (Thomas Meunier, 65’)

Suplentes não utilizados: Kevin Trapp, Thiago Silva, Lassana Diarra, Pastore e Di María

Treinador: Unai Emery

Golos: Rabiot (33’), Cristiano Ronaldo (45’; 83’) e Marcelo (86’)

Ação disciplinar: Cartão amarelo para Neymar (15’), Lo Celso (25’), Isco (33’), Rabiot (64’) e Nacho Fernández (78’)

Ronaldo teria segunda ocasião ao minuto 26. Depois de falta sobre Isco, um livre. À entrada da grande área, mesmo frontal à baliza. Daqueles que Ronaldo gosta – ainda que o camisola sete os prefira mais distantes um pouco. Bateu forte, é certo, é igualmente certo que a bola sobrevoou a barreira, mas nunca desceria em direção à baliza e foi-se a ocasião. Como não há duas sem três, no minuto imediatamente a seguir Marcelo (num passe de costa a costa) isola Ronaldo. À saída de Areola dos postes, Ronaldo rematou, forte e colocado. Acertou em cheio do no rosto do guarda-redes francês. E Areola teve que ser assistido longos minutos, tal foi o a “pedrada”. O francês estava a ser a “némesis” de Ronaldo. Mas o fado mudaria com o decorrer do jogo.

Antes de mudar… houve o golo do Paris Saint-Germain. Como Nacho até estava a dar conta do recado à esquerda, foi a partir da direita que os franceses marcaram. O minuto era o 33. Mbappé arranca, cruza para a grande área, Nacho esticasse até ao último tendão para evitar que a bola chegasse a Neymar mas não evita, cortando-a, que esta chegasse a Rabiot. O médio francês só precisou de escolher o lado para onde rematar.

O empate chegaria ao cair do pano, a um minuto do cair do pano. Primeiro, remate de Benzema de primeira com o pé esquerdo (depois de cruzamento para a entrada da área de Marcelo) para grande, grande defesa de Areola. Canto, portanto. E depois do canto, Lo Celso agarra Kroos e Gianluca Rocchi apita sem hesitação: grande penalidade no Bernabéu. Ronaldo chuta para a esquerda, Areola até adivinha o lado mas Ronaldo não lhe deu hipótese – tão colocado e potente foi o seu remate.

Na segunda parte o Real abrandaria a pressão que apresentou na primeira. Até para não ser, como vinha sendo, apanhado em contra-pé com a velocidade estonteante de Mbappé e a imprevisibilidade de Neymar. Mas quase foi ao minuto 49, precisamente por causa dos compinchas do desassossego defensivo. Neymar conduz a bola até à grande área pela esquerda, isola Mbappé na direita e o francês remata cruzado. Navas defende para a frente.

Zidane fez entrar Asensio. E o espanhol (que é um “descarado” e não respeita defesa nenhuma) esteve envolvido na reviravolta madrilena. Ao minuto 83, Asensio avança em dribles para cima de Meunier, cruza desde a esquerda, Areola defende para a frente e à frente estava Ronaldo, a desviar para o segundo.

Três minutos volvidos, Marcelo e Asensio (com uma ajudinha de Bale) tabelaram à esquerda e quando o espanhol cruzou já o lateral estava na grande área para desviar de primeira para o 3-1 no Bernabéu.

Ao minuto 89, Nacho e Varane ainda complicaram. Mbappé surripiou-lhes a bola e rematou para defesa in extremis de Navas. É certo que Mbappé não reduziu na última chance da partida, é certo que 3-1 é bom mas não é impossível de virar do avesso na segunda mão, é certo que we’ll always have Paris para descobrir quem avança para os quartos-de-final. Mas esta noite o que mais houve em Madrid foi Ronaldo.

E pergunta ele, retoricamente: ¿Quién es el número uno?