A emblemática Praça Sintagma, em Atenas, está coberta com milhares pessoas que decidiram fazer uma manifestação de apoio ao Governo grego, marcada através das redes sociais, e contra o que consideram ser a “chantagem” do Banco Central Europeu (BCE), após ter deixado de aceitar a dívida pública grega como garantia nos empréstimos que faz aos bancos da zona euro.

A polícia grega, citada pela agência de notícias francesa (AFP), estima que estejam cerca de cinco mil pessoas numa praça que ficou mais conhecida nos últimos anos pelas manifestações contra a austeridade e os sucessivos governos que têm implementado o programa da troika.

Desta vez, o cenário é o inverso. Milhares de manifestantes reuniram-se em silêncio para mostrar que estão do lado do Governo liderado por Alexis Tsipras. A reportagem da agência no local reproduz várias mensagens de apoio ao atual Governo. Os manifestantes dizem que estão na praça para manifestar apoio a um governo “que defende os interesses dos gregos”.

“Esta é a primeira manifestação a favor de um governo. Finalmente um governo que respeita os seus compromissos eleitorais e defende os interesses do nosso país”, regozija Télémaque Papathéodorou. As palavras de ordem em cartazes incluem mensagens como “chega de chantagem! Queremos dignidade!”.

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Outros, como Dimitra Spyidopoulou, apontam o dedo ao BCE, que, com a decisão tomada esta quarta-feira de suspender a elegibilidade da dívida grega como colateral nas operações de financiamento dos bancos comerciais da zona euro (os que detiverem essa dívida, e não apenas os gregos), “está a aumentar a pressão sobre a Grécia”.

A Sintagma é a principal praça de Atenas e onde tiveram lugar muitas dezenas de manifestações em protesto contra a austeridade nos últimos cinco anos, muito porque fica situada no centro de Atenas e em frente ao Parlamento grego. Hoje, a manifestação foi convocada pelas redes sociais e terá sido espontânea.

No centro das críticas está a decisão do BCE e a oposição determinada dos principais credores, em especial da Alemanha, ao plano apresentado e ao caminho desejado pelo Governo grego para resolver o problema da dívida pública grega.

O ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, e o primeiro-ministro, têm-se desdobrado em contactos e viagens durante esta semana para conhecer os seus interlocutores e apresentar o plano do Governo eleito do Syriza para a crise grega. Varoufakis já se reuniu com o Fundo Monetário Internacional (FMI), os responsáveis do Eurogrupo, os principais ministros das Finanças, o presidente do BCE e hoje, num último e mais duro encontro, com o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, a cara da oposição à reestruturação da dívida grega, independentemente dos moldes.

Na conferência de imprensa no final dessa reunião, Schäuble disse que os dois ministros acordaram em discordar. Varoufakis disse que nem nisso concordaram. Ainda assim, o Governo grego já disse que se vai manter firme nas suas pretensões e que pretende continuar a negociar com a Europa uma solução que beneficie todas as partes.