Quatro horas e meia depois do início da Assembleia Geral Extraordinária do Sporting que tinha como ponto único votar o recurso de Bruno de Carvalho e Alexandre Godinho, antigo presidente e vogal da direção, da expulsão de sócio, as urnas fecharam com cerca de 5.200 associados a passarem pelo Pavilhão João Rocha, aguardando-se agora os resultados que estão neste momento a ser contabilizados. Logo no arranque, Rogério Alves, líder da Mesa da Assembleia Geral verde e branca, esclareceu que os requerimentos para que as urnas abrissem apenas depois de todos os associados falarem foram rejeitados.

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“Voto a favor do recurso interposto pelo sócio Bruno Miguel Azevedo Gaspar de Carvalho da sanção disciplinar de expulsão que lhe foi aplicada? Sim (a expulsão deve ser revogada); não (a expulsão deve manter-se)”, pode ler-se nos boletins que estão a ser entregues a cada sócio – com mais ou menos votos consoante a antiguidade e a categoria – quando entra no Pavilhão João Rocha nesta reunião magna fechada como é habitual à comunicação social.

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Até às 16h30 já se tinham inscrito mais de 3.000 associados na Assembleia Geral, onde já exerceram palavra o pai do antigo líder do Sporting, Rui de Carvalho, e a irmã, Alexandra Carvalho. De acordo com informações recolhidas pelo Observador, a maioria dos discursos são a favor de Bruno de Carvalho mas grande parte dos associados que votam e deixam o Pavilhão votam a favor da expulsão do antigo número 1. Está também a existir um especial cuidado para evitar registos fotográficos. “Está tudo a ser preparado para que Bruno de Carvalho e Alexandre Godinho sejam expulsos mas tenho aquela esperança que possa acontecer aqui um milagre”, comentou Alexandra Carvalho à saída do recinto. Ainda na sala, a irmã do ex-presidente queixou-se de Rogério Alves por lhe ter cortado a palavra, com o líder da Mesa a explicar que o tempo permitido chegara ao fim.

“Saibam que, se hoje voto, sabendo que todo este processo é evidência de golpada, é por respeito a quem fez quilómetros para aqui estar e porque acredito que a cada momento pode ser o momento da Justiça. Estamos a fazer história. Estamos a lutar contra ventos e marés de ditaduras e algemas antigas, que ainda permitem que um qualquer prepotente possa acordar e decidir “qual democracia qual m****, vamos fazer cair o presidente do Sporting e recuperar o poder que perdemos!”, leu Alexandra Carvalho, num discurso reproduzido pelo Record, onde falou também numa “saga de David contra Golias” e utilizou o exemplo de Myanmar “onde se extermina uma etnia inteira, todos os governantes sabem e nada”. “Portugal, maravilhosa terra à beira do Atlântico, acorda, perde o medo de criar a instabilidade que o combate à corrupção inevitavelmente provoca, e aprende a aproveitar as oportunidades que surgem para desmascarar golpadas e abusos de corruptos e ultrapassados donos de dinheiro de origens obscuras, que, com encarquilhados e feios punhos de falsa renda, comandam marionetes e manipulam voluntariosos ingénuos”, rematou, antes de deixar o apelo do “Portugal Acorda!”.

A SIC Notícias avançou com a possibilidade de haver irregularidades nos boletins de voto. O Observador sabe que essa questão já foi levantada no passado sábado e tem a ver com um número que se encontra na parte de baixo à esquerda de cada boletim, neste caso com 12 dígitos. Rogério Alves respondeu a essas dúvidas no passado dia 29, considerando que não havia irregularidade, e voltou a explicar o mesmo hoje. Por volta das 18 horas, uma altercação numa das zonas da bancada levou a confrontos com apoiantes de Bruno de Carvalho e houve um vidro partido como resultado da confusão. Ainda assim, a AG não foi suspensa.

Entre as várias intervenções, nota para um associado que advogou ter votado em branco na última Assembleia Geral que aprovou com 70% o Orçamento para o exercício de 2019/20 mas que não viu esse voto ser registado. Miguel A. Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho na fase de instrução do caso Alcochete, também já comentou através das redes sociais as incidências da reunião magna: “Mais uma AG com um inequívoco e estrondoso apoio massivo ao Presidente Bruno de Carvalho. Os resultados anteriores têm sido uma farsa indesmentível… Feitos de Honra – Leais ao Sporting, SEMPRE juntos”.

De recordar que todo este processo em causa foi levantado ainda pela Comissão de Fiscalização liderada por Henrique Monteiro, que deixou funções após as eleições de setembro que elegeram Frederico Varandas como novo presidente, tendo a nota de culpa sido enviada para todos os visados a 23 de agosto, exatamente dois meses após a destituição em Assembleia Geral da Direção. Ao todo, foram apontadas 12 infrações disciplinares a Bruno de Carvalho, conforme foi detalhado na súmula do processo.

“[O Conselho Fiscal e Disciplinar] considerou quanto à aplicação da sanção mais grave prevista nos estatutos e até no regulamento, que os factos praticados, em acumulação, com premeditação, com relevantíssimos danos de imagem, moral e patrimonial, com dolo direto muito intenso, com liberdade, consciência e conhecimento da ilicitude pelos sócios visados Bruno de Carvalho e Alexandre Godinho assumiram uma gravidade, uma ilicitude e uma censurabilidade tão grande e elevada que apenas se coadunam com a aplicação concreta, da sanção mais grave prevista nos diplomas legais”, explicou então a missiva do órgão liderado agora por Joaquim Baltazar Pinto, colocada no site oficial do clube a 1 de março.

Oficial: Bruno de Carvalho expulso de sócio do Sporting (com hipótese de recurso para AG)

Entre os factos apontados estavam a tentativa de bloqueio de contas e de usurpação de funções; a ação de obstaculizar a Assembleia e a violação do suspensão preventiva; a perturbação grave da Assembleia Geral de 23 de junho; e as publicações nas redes sociais, feitas não só com o intuito de perturbar o funcionamento da Assembleia Geral mas também de ofender outros sócios e membros legítimos dos órgãos sociais são alguns dos factos apontados a Bruno de Carvalho no processo disciplinar.

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Antes, Bruno de Carvalho já tinha sido recusado também em Assembleia Geral o recurso da suspensão de um ano de sócio, no âmbito de um outro processo conduzido e decidido pela então Comissão de Fiscalização.

O fim de uma era: suspensão de Bruno de Carvalho mantém-se com 68,5% (e expulsão continua em cima da mesa)