Se os fumadores escolheram mudar para cigarros electrónicos para os poderem usar em espaços fechados, terão de alterar as pretensões com a nova lei do tabaco. Caso tenham optado pelos cigarros electrónicos para deixarem o hábito de fumar, também não há provas de que os cigarros electrónicos cumpram esse objetivo. Assim o demonstrou uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Toronto (Canadá) depois de uma revisão da literatura científica sobre o assunto.

Os resultados apresentados este domingo na conferência anual da Sociedade Torácica Americana, que decorre de 15 a 20 de maio em Denver, não mostram evidência de que os cigarros electrónicos sejam uma ferramenta eficaz para combater a dependência do hábito de fumar a médio ou longo prazo, refere El Pais.

“Embora os cigarros electrónicos sejam largamente promovidos e usados como uma ferramenta para deixar de fumar, não encontrámos dados que apoiem a eficácia e segurança a longo-termo”, referiu Riyad al-Lehebi, coordenador do estudo apresentado, citado pelo Eurekalert.

Fazendo uma busca do ano 1946 a maio de 2014, os investigadores encontraram 4.569 publicações, das quais 297 foram seleccionadas para uma leitura mais aprofundada, refere o resumo da apresentação na conferência. Ainda assim, apenas quatro artigos mostraram preencher os requisitos para a análise de eficácia – testes aleatórios ou avaliações antes e depois – e 22 preencheram os requisitos para a avaliação de segurança. Ao El Pais, Rodrigo Córdoba, do Comité Nacional de Prevenção de Tabagismo em Espanha, que não participou no estudo, disse que “há poucos estudos de qualidade publicados que abordem este tema”, referindo, por exemplo, a falta de seleção aleatória dos grupos ou a ausência de casos controlo (casos que permitem fazer uma comparação com os resultados obtidos).

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Dentro dos artigos que cumpriam os critérios de qualidade, os investigadores canadianos verificaram que o cigarro electrónico se mostrou eficaz na redução do hábito de fumar ao fim do primeiro mês de utilização, quando comparados com um placebo – um composto inerte ou uma simulação do produto para que o indivíduo sujeito à experiência acredite que está a usar o verdadeiro composto. Porém, ao fim de três ou seis meses, os dados não mostram que os cigarros electrónicos sejam mais eficazes que um placebo para deixar de fumar.

Já em outubro do ano passado, o pneumologista Fernando Barata tinha alertado para a ineficácia dos cigarros electrónicos como forma de deixar de fumar, no Congresso Português do Cancro do Pulmão. “A ideia inicial de ir do cigarro tradicional para o eletrónico para deixar de fumar não tem acontecido na prática nos nossos doentes. Essa ideia, que inicialmente podia ser muito boa, tem falhado redondamente”, disse na altura em declarações à Lusa, acrescentando que os pacientes voltam aos cigarros tradicionais ao fim do primeiro par de meses.

A equipa canadiana acrescenta que os estudos analisados demonstraram que os vapeadores de nicotina têm efeitos secundários como tosse seca, irritação da garganta ou falta de ar. “Dados os riscos potenciais do uso de dispositivos sem provas nem regulamentação, os indivíduos que procurem deixar de fumar devem considerar opções que já estejam melhor estabelecidas, até que mais investigação seja feita [sobre cigarros electrónicos]”.

Mais investigação sobre a eficácia e segurança dos cigarros electrónicos deve ser feita, tendo em atenção os requisitos de qualidade de um estudo científico em medicina. Porque caso se prove a eficácia dos cigarros electrónicos para deixar de fumar, estes podem vir a ser considerados como um tratamento médico.

Outra estudo apresentado na mesma conferência, citado por International Business Times, mostra que alguns dos aromas dos cigarros eletrónicos podem provocar alterações na função das células dos pulmões. “Visto que a popularidade dos cigarros eletrónicos aromatizados está a aumentar, é urgente conhecer melhor os ingredientes, o respetivo potencial de risco para a saúde e quais as causas desses riscos”, disse, citado pelo jornal, Temperance Rowell, estudante no departamento de biologia celular e fisiologia na Universidade da Carolina do Norte.