O diretor artístico do Teatro Viriato, Henrique Amoedo, pediu para cessar funções, anunciou na última sexta-feira a instituição cultural de Viseu. O coreógrafo e professor brasileiro radicado em Portugal estava apenas há dois anos no cargo e sai no final de agosto.
Ao Observador, Henrique Amoedo explica que foi a “dedicação intensiva” simultânea à direção artística do Teatro Viriato e à direção da companhia Dançando com a Diferença, que continuou a dirigir mesmo depois de assumir funções na instituição cultural viseense, que esteve na base da decisão. “Foi muito difícil de conciliar. É isso que motiva a minha saída. Essa dedicação intensiva aos dois trabalhos”, explica. “Sei o quanto me custa estar a deixar o Teatro.”
No comunicado enviado às redações, o Centro de Artes do Espetáculo de Viseu, Associação Cultural e Pedagógico (CAEV), responsável pela gestão e programação do Teatro Viriato, havia citado “razões de ordem pessoal e familiar” do professor e coreógrafo para o pedido de cessação de funções. “A direção acolheu o pedido com compreensão e reconhecimento pelos motivos indicados […] e destaca, nestes dois anos de direção artística de Henrique Amoedo, a programação cuidada, consistente e desafiadora, bem como a sua orientação eficaz da estrutura profissional do Teatro Viriato”, destacava o texto.
O CAEV lembra que Henrique Amoedo assumiu funções “num contexto desafiante de pós-pandemia, em que imperava a necessidade de recuperação de públicos e de normalização dos processos de trabalho das salas de espetáculos”. O documento, assinado pela presidente da direção do CAEV, Júlia Alves, informa ainda que Henrique Amoedo deixa a programação artística do Teatro Viriato “definida até ao final de 2024 e alguns projetos já agendados” para 2025.
Henrique Amoedo assumiu a direção do Teatro Viriato em maio de 2022. “Foram dois anos fantásticos e, ao mesmo tempo, difíceis. O [Teatro] Viriato é uma máquina enorme, com uma estrutura com o seu peso. Foi fantástico conseguir gerir o Teatro e recuperar o que o Teatro tinha perdido nos tempos da pandemia”, afirma ao Observador o coreógrafo, que ficará agora dedicado exclusivamente à Dançando com a Diferença, fundada em 2001, na Madeira, e que desde 2014 mantém uma relação cúmplice com o Teatro Viriato. A companhia de dança conta com intérpretes com e sem deficiência.
A relação entre as estruturas oficializou-se no ano de 2017, quando a companhia foi assumida como Projeto Residente no Teatro Viriato. Questionado pelo Observador, Amoedo assume que espera que a relação da companhia com a instituição cultural se mantenha nos mesmos moldes. “Pela direção do CAEV [que gere o teatro], sim, que percebe a importância para o Teatro Viriato e para o território. Mas obviamente que tudo isto depende da nova direção artística querer continuar o trabalho”, lembra. “Mas creio que qualquer pessoa que venha a dirigir compreenderá a importância do projeto”, remata.
Numa nota enviada à agência Lusa, a direção do CAEV adiantou que “já iniciou os procedimentos para a seleção da nova direção artística” e espera, “em breve, poder informar sobre o modo de seleção, os critérios e o perfil pretendido”.
O CAEV lembra ainda que 2024 tem sido o ano de celebração dos 25 anos do Teatro Viriato e, agora, “segue-se uma reflexão sobre o futuro e sobre os próximos 25 anos”.
Já a antecessora de Amoedo, Patrícia Portela, não havia chegado aos dois anos na direção artística do Teatro Viriato. Entrou em março de 2020 e a saída foi anunciada em fevereiro de 2022. Na altura, não foi dado motivo para a brevidade da passagem, mas a artista acabaria por dizer ao jornal Público que foi “convidada a sair”. Quando foram pedidos esclarecimentos, o CAEV não quis comentar o caso, mas num email a que o jornal teve acesso constava que “o ambiente entre “colaboradores internos” e a diretora artística “vinha-se deteriorando progressivamente””.