Dois anos de Marcelo Rebelo de Sousa em Belém e de muitas declarações de um Presidente da República que se diz hiperativo e que quem fala por Belém é ele mesmo. O resultado tem sido uma catadupa de declarações que, por si só, permitem retratar aquele que tem sido o seu mandato. Marcelo começou firme ao lado do Governo, elogioso do sucesso da solução governativa engendrada por António Costa, mas duro com o primeiro-ministro quando o país viveu a tragédia imensa dos incêndios, em junho e outubro do último ano. E até desencadeou uma demissão. O último ano foi marcante para o Presidente dos afectos.
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MIGUEL A. LOPES/LUSA
MIGUEL A. LOPES/LUSA
24 meses de Marcelo, em 24 frases
Faz hoje dois anos que Marcelo Rebelo de Sousa tomou posse como Presidente da República. Do namoro com o Governo, debaixo de um guarda guarda-chuva em Paris, à tragédia dos incêndios.
"Há um clima mais descrispado, mais sereno, mais calmo na vida portuguesa e é este viver de uma forma habitual naquilo que eu chamo estabilidade política, económica, social e financeira é bom para o país."
"As pessoas estavam com um certo défice de esperança, é preciso preencher o défice. Fala-se de défice de tudo, de défice do orçamento, e não se fala do défice de esperança, que existiu durante uns anos em Portugal e é bom que esse défice seja vencido rapidamente."
"Desiludam-se aqueles que pensam que o Presidente da República vai dar um passo sequer para provocar instabilidade neste ciclo que vai até às autárquicas. Depois das autárquicas, veremos o que é que se passa."
"Eu veria do outro lado da História, um pouco com o espírito habitual do senhor primeiro-ministro, aquele seu otimismo crónico e às vezes ligeiramente irritante."
"Estão a ver o que é a colaboração entre os dois poderes? Vejam bem: quem tem o guarda-chuva é um primeiro-ministro de esquerda, e quem é apoiado é um presidente que vem da direita. É solidariedade.”
"Foi o povo quem, nos momentos de crise, soube compreender os sacrifícios e privações em favor de um futuro mais digno e mais justo. O povo, sempre o povo, a lutar por Portugal. Mesmo quando algumas elites - ou melhor, as que como tal se julgavam - nos falharam."
"Sofremos muito, mas mostramos aquilo que somos, resistentes, unidos, capazes de aguentar tudo. Aquela contrariedade do Cristiano Ronaldo, as dificuldades enormes em relação a cargas aos nossos jogadores, o cansaço enorme e depois a capacidade de mudar a tática, refazer o jogo, dominar o prolongamento, nomeadamente a segunda parte, com uma inteligência, que é Portugal no seu melhor."
"O bom senso imporia que não se aplicasse sanção nenhuma ao Governo de Passos Coelho, que não merece, e não aplicar sanção nenhuma ao Governo de António Costa que, na pior das hipóteses, ainda não merece, e na melhor das hipóteses nunca merecerá."
"Já imaginou o que é consenso entre biliões de neurónios? Se é possível esse consenso há de ser possível o consenso entre meia dúzia de partidos."
"A coligação de esquerdas superou as expectativas."
"É obra, há que reconhecer, do Governo anterior, mas é em larga medida obra deste Governo."
"Está de pedra e cal, é cimento armado."
"Eu às vezes digo: não, o senhor primeiro-ministro irrita-me um bocadinho, porque é evidente que há problema e está a tentar explicar-me que não há esse problema, e não me entra na cabeça. E depois recorro a um argumento de autoridade, a que não se deve recorrer: é que eu ando a analisar a política portuguesa há 50 anos."
"Não era possível fazer mais, há situações que são situações imprevisíveis e quando ocorrem não há capacidade de prevenção que possa ocorrer, a capacidade de resposta tem sido indómita."
"Pensando no prestígio de Portugal, no prestígio das Forças Armadas, pensando na autoridade do Estado e na segurança das pessoas, é muito simples: tem de se apurar tudo, de alto a baixo, até ao fim, doa a quem doer."
"É justificável que se peça desculpa. Quem não entenda isto, humildade cívica e rutura com o que não provou ou não convenceu, não entende nada do essencial que se passou no nosso país."
"Eu quando viro à direita em Portugal, a direita está distraída a bater na esquerda, não nota. Em vez de aproveitar, não nota."
"Por muito que a frieza destes tempos cheia de números e chavões políticos convidem a banalizar, estes 100 mortos não mais sairão do meu pensamento, com o peso enorme na minha consciência como no meu mandato presidencial. Estas mortes representam a fragilização dos portugueses. A fragilidade existe e exige uma resposta rápida e convincente."
"Quem não entenda isto, humildade cívica e rutura com o que não provou ou não convenceu, não entende nada do essencial que se passou no nosso país."
"Abrir um novo ciclo obrigará o Governo a ponderar o quê, quem, quando e como melhor serve este ciclo.”
"A existência de duas eleições em 2019 não pode, nem deve, significar cedência a eleitoralismos, que, além do mais, acabem por alimentar surtos sociais inorgânicos, depois difíceis de enquadrar e satisfazer.”
"Quando olham agora para Portugal olham para o país que tem o presidente do Eurogrupo. Não é exatamente a mesma coisa. Era um patinho feio, para muitos, muito feio, há dois anos, e agora, de repente, é um cisne resplandecente.”
"Nesses nossos compatriotas que merecem ser, neste Natal, ainda mais lembrados, estão os que viram as suas vidas paradas, adiadas, desfeitas pelas tragédias de Junho e de Outubro."
"Estranho e contraditório ano esse, que ontem terminou, e que exigiu tudo de todos nós (...) O passado – bem recente – serve para apelar a que, naquilo que falhou em 2017, se demonstre o mesmo empenho revelado naquilo que nele conheceu êxito. Exigindo a coragem de reinventarmos o futuro. O ano que hoje começa tem de ser, portanto, o ano dessa reinvenção."