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Ana Rita Bessa: "O CDS está a apoucar-se, a ficar mais reduzido"

De saída do Parlamento, Ana Rita Bessa não esconde o desencanto com o rumo escolhido pela direção do CDS e lamenta a falta de ambição de Rodrigues dos Santos. "Não estamos condenados a ser um sidecar"

Ana Rita Bessa formalizou esta semana a vontade de renunciar ao mandato de deputada. Saiu, em parte, por sentir que não existia um caminho partilhado entre direção do CDS e grupo parlamentar. Comunicou a saída por carta e enviou uma mensagem por WhatsApp. Até hoje, e já depois de o tema se ter tornado público, não recebeu uma única resposta do líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos.  “Sou uma boa católica e também não lhe guardo rancores”, ironiza.

Em entrevista ao Observador, no programa “Vichyssoise”, a agora ex-deputada do CDS critica a falta de ambição do partido em ser mais do que o junior partner do PSD, a ausência de um rumo evidente do CDS e a insistência da atual direção em não dar uma resposta clara à crise existencial do partido. Na hora de se despedir da vida política, deixa uma esperança: “Acho que o CDS não está morto e continua a acreditar que há um espaço para a democracia-cristã arejada do século XXI.”

Sobre a pré-candidatura de Nuno Melo à liderança do CDS, Ana Rita Bessa não se compromete com um apoio e diz esperar para ver qual é “projeto” do eurodeputado para o partido. Ainda assim, traça um perfil de candidato que os críticos de Rodrigues dos Santos nunca reconheceram no atual líder: “É importante que apareçam pessoas com histórico, com currículo, com experiência política, com maturidade para mostrar que o CDS não está morto”.

Já na fase final da entrevista, desafiada a escolher entre uma de duas opções, Ana Rita Bessa não hesitou: entre a continuação de António Costa no poder ou um governo de Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos com o apoio parlamentar do Chega, preferia, a contragosto, o socialista. “Mesmo correndo o risco disto correr muito mal na reação à resposta”. Entre ser ministra de um governo com Adolfo Mesquita Nunes ou Nuno Melo, Ana Rita Bessa também não esconde a preferência: Mesquita Nunes.

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Ouça aqui na íntegra a Vichyssoise:

Medina caído, Rio à espreita e Costa em sarilhos

As discotecas reabrem esta sexta-feira, a Ana Rita Bessa deixou o grupo parlamentar do CDS há poucos dias. Pergunto-lhe: quantas vezes vai pedir ao DJ para passar a Freedom do George Michael?
Eu tenho um problema com as discotecas que é… eu tenho um biorritmo diferente, já sou um bocadinho mais velha e às dez da noite estou a dormir. Mas não me importava de acordar ao som do Freedom com um serviço de despertar personalizado.

Mas foi um momento de libertação para si?
Sim, de libertação, mas também são sempre momentos de ambiguidade. De libertação porque começa um ciclo novo, mas é também nostálgico, porque os seis anos do Parlamento, em anos de cão, são muitos muitos anos, dada a entrega que ali se faz. Ainda preciso de passar a ressaca da saída.

Entretanto, já conseguiu falar com Francisco Rodrigues dos Santos?
Não, não, ainda não tive ocasião.

Queixou-se, em declarações ao Expresso, de não ter recebido uma única mensagem, o líder do CDS lamentou não ter recebido um único telefonema… Há um problema de comunicação ou de comunicações entre vocês?
Não sei se tem a ver com o 5G ou o 6G… Na verdade, não me queixei ao Expresso, constatei que não tinha recebido resposta. Mas foi através do próprio jornal, num momento mais adiante, que reconheci uma resposta por parte do presidente do partido e retive, talvez com um olhar benévolo, a parte que me interessa levar para a minha vida futura que é um agradecimento pelo trabalho que fiz do Parlamento e para o CDS e para o país. E retive também que o senhor presidente do partido não me guarda rancores. Eu sou uma boa católica e também não guardo rancores alguns. É com toda a liberdade que seguimos caminho.

Quando explicou os motivos da decisão de deixar o Parlamento disse que o fazia também porque “o relacionamento com o grupo parlamentar ser no mínimo fortuito” e por não existir “trabalho consistente ou reuniões”. Consegue encontrar motivos para essa “desconexão”?
Não, não consigo encontrar motivo reais. Estes últimos anos do mandato de Francisco Rodrigues dos Santos foram marcados pela Covid e se havia alguma coisa era tempo para podermos reunir e alinhar estratégias, sob pena de grupo parlamentar e partido terem até agendas diferentes, já para não dizer contraditórias. Segundo as minhas contas, para além de uma reunião de simpatia e de apresentação de cumprimentos a seguir ao Congresso, terá havido duas ou no máximo três reuniões com o grupo parlamentar. E depois, sim, existiu alguma troca de Whatsapp entre ele próprio e o líder parlamentar. Tornou-se esse o canal de comunicação privilegiado.

"Retive também que o senhor presidente do partido não me guarda rancores. Eu sou uma boa católica e também não guardo rancores alguns. É com toda a liberdade que seguimos caminho"

“O CDS não está condenado a ser ‘o sidecar do PSD’”

Também falou em falta de “ambição” do CDS. O partido perdeu a ambição de ser mais do que PSD?
Não sei se tinha de ter ambição de ser mais do que o PSD. Tinha de ter a ambição de contribuir, juntamente com o PSD e a Iniciativa Liberal, para fazer crescer um espaço de centro direita.

Perdeu ali a oportunidade de conquistar esse espaço ao PSD?
Seria importante marcar a posição e, pelo que vejo dos resultados eleitorais, acho muito importante que seja feita uma análise muito objetiva ao resultado das autárquicas para além de um momento necessariamente de festejo. É preciso fazer essas contas e, de facto, elas mostram que o CDS onde concorreu sozinho ou em nome próprio não teve resultados brilhantes. Mas até mais importante do que isso: o problema tem que ver com a existência de uma mensagem consistente, nós sabermos ao que o CDS vem, qual a sua proposta de valor.

Mas isso é só responsabilidade do líder do CDS? É que ele tem-se queixado, recorrentemente, de falta de lealdade do grupo parlamentar. A crítica justifica-se?
Da minha parte não encontro qualquer justificação para esta crítica. Se bem me lembro, no rescaldo que se faz neste momento de saída, tenho ideia de o presidente do partido ter até manifestado uma imensa felicidade, a sua maior felicidade do ponto de vista político, com a aprovação de um projeto discutido por mim que era o “Vale Farmácia”. E ele falava disso com imensa alegria — salvo erro disse que era a sua “maior” alegria política. Não posso achar que exista alguma falta de lealdade quando eu lhe entreguei e com imenso gosto essa alegria política.

Estamos na ressaca das autárquicas, temos o líder do CDS esfuziante e os críticos internos a olhar para os resultados que o partido teve quando foi sozinho a votos. O partido está condenado a fundir-se com o PSD para sobreviver?
Não creio que haja essas obrigações em política, não existe uma via única. Existem sempre alternativas assim sejam construídas. Acho muito importante que partido pare e faça essa análise sobre o que aconteceu. Se é um problema de candidatos, se foi um problema de mobilização ou de proposta política para que, nos sítios onde o CDS concorreu sozinho ou em coligações encabeçadas por si, tenha havido uma quebra muito considerável no número de eleitores. Podemos sempre atribuir aos outros essa responsabilidade, porque agora há o Chega ou o IL, mas caberá sempre ao CDS construir a sua robustez. Não acho que esteja condenado a ser “o sidecar do PSD”. Isso não tem de acontecer, mas é preciso que se faça um exercício objetivo de avaliação do que tem de ser feito de diferente.

"É importante que apareçam pessoas com histórico, com currículo, com experiência política, com maturidade para mostrar que o CDS não está morto"

Então a euforia do líder não se justifica?
Acho que há momentos para tudo. Há momentos para estar feliz e momentos para fazer análise. Tem de haver um momento de trabalho e pés na terra. E se esse trabalho não acontecer pode pôr em risco o futuro do CDS.

A atual direção tem tido essa tentação de ser apenas um sidecar do PSD porque é mais confortável?
Não sei se ele tem a tentação, não reunimos tantas vezes assim para conseguir descortinar as intenções da direção do CDS. Mas diria que pode ser, de facto, em conceito, uma tentação porque de alguma maneira resolve vários problemas que o CDS tem hoje em dia e se for coligado com o PSD conseguira um maior número de lugares e eleitos do que se for sozinho, ao dia de hoje. Mas há tempo e trabalho para se fazer até lá.

Deduzo que é contra uma eventual coligação com o PSD pré-eleitoral.
Não sou contra. O que acho é que ainda não é o momento de tomar essa decisão. Temos tempo para fazer uma análise interna e perceber se é altura do CDS preparar o seu projeto para se apresentar sozinho e fazer-se valer, para perceber qual é o seu peso num contexto em que as forças que nos rodeiam agora, seja IL ou Chega, vão crescendo, não estão paradas. O tempo aqui não é um fator indiferente e é preciso correr.

Seria mais vantajoso para o CDS ir a votos sozinho nas próximas legislativas?
Não consigo fazer essa análise. O que não podemos fazer é fechar o exercício mental e dizer já que temos de ir com o PSD e não há outro caminho. Aceitar essa premissa é dizer que estamos condenados a fechar o CDS. Até pode ser que o resultado da avaliação seja ir com o PSD, mas tem de ser no cenário de algum valor acrescentado e não de um mal menor.

Tal como todo o grupo parlamentar, Ana Rita Bessa não foi uma escolha da atual direção. A rutura formalizou-se agora

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Se o mesmo presidente mantiver a mesma estratégia claramente não poderei acompanhar”

Essa premissa só se confirmará se o líder atual se mantiver em funções. Francisco Rodrigues dos Santos tem condições para revalidar a sua liderança?
Isso o congresso o dirá e eu, nesta altura, nem sei se serei congressista.

A continuidade de Francisco Rodrigues dos Santos seria boa para o CDS?
Neste momento renunciei ao mandato e ninguém o faz por estar satisfeito com a situação que vive. Já no passado disse que achava que o ritmo da direção do presidente não nos estaria a levar a um lugar favorável. Se o mesmo presidente mantiver a mesma estratégia claramente não poderei acompanhar.

A verdade é que nas três eleições em que foi a votos — Açores, presidenciais e autárquicas — Francisco Rodrigues dos Santos esteve do lado dos vencedores. O que é que se lhe exige mais?
Não sei se podemos fazer extrapolações diretas entre Açores e Madeira e o continente e tenho a certeza absoluta que não podemos fazer extrapolações da eleição presidencial para as legislativas. O CDS prestou o apoio ao Presidente da República, mas relembro que não houve participação ativa do CDS na campanha e que vários dos conselheiros nacionais que apoiam a atual direção votaram favoravelmente esse apoio mas expressaram que não o fariam nas urnas.

O CDS não pode então reclamar nenhuma espécie de vantagem?
Poder, pode. Tanto que o faz. Mas não sei se tem uma grande legitimidade para o fazer.

Nuno Melo deu esta sexta-feira o primeiro sinal de que vai mesmo avançar com uma candidatura. Vai apoiar o eurodeputado?
Li com atenção o comunicado. Nuno Melo manifesta a sua preocupação, que já tinha manifestado nas jornadas parlamentares de São João da Madeira, e diz nos próximos dias tomará uma decisão. Acompanho-o nisso: quando Nuno Melo tomar uma decisão, vou-me pronunciar. Já aprendi na política que a antecipação não é uma boa ideia.

Mas seria importante que fosse Nuno Melo a pessoa a desafiar a atual liderança?
É importante que apareçam pessoas com histórico, com currículo, com experiência política, com maturidade para mostrar que o CDS não está morto, existem opções e que se apresentem corajosamente para as liderar. Vamos ver qual é o projeto que Nuno Melo apresenta e, nesse momento, eu pronunciar-me-ei.

“O partido está num momento vital, existencial”

O CDS está morto?
Acho que não, acho que não.

Está moribundo.
Credo. Está a apoucar-se, a ficar mais reduzido. Está num momento vital, existencial. Ou de facto há aqui uma alteração de projeto e de capacidade de desenvolver o partido… O CDS deixou de estar sozinho num espaço que antigamente ocupava por si. Não é trigo limpo construir um projeto quando tem uma parte do seu discurso económico capturado pela Iniciativa Liberal e uma parte de um discurso que corresponde a uma ala mais conservadora do CDS — para ser simpática — capturado pelo Chega. Não é evidente, mas continuo a achar que existe um espaço para a democracia-cristã assumida, arejada, do século XXI. Não uma coisa bafienta.

Entretanto sai de deputada e fica…?
Fico uma militante base.

Imagine que a direção do partido muda. Pode recuar e voltar ao Parlamento?
Nunca seria um recuo. Seria um novo ciclo. Mas, neste momento, vou retomar a minha vida profissional e acho que as pessoas têm de sérias: da mesma maneira que fui séria enquanto estive no Parlamento, agora vou fazer um percurso profissional e, depois, o futuro a Deus presente. Logo veremos.

A atual direção encarou sempre as críticas internas como sintoma de uma ala do partido que nunca aceitou perder o poder e a influência. O ‘portismo’ está a procurar uma espécie de revanche?
Usando a sua semântica: não acho que seja o portismo que está a procura de uma revanche; há outras fações que estão a querer ajustar contas com aquilo que entendem ser os filhos políticos do Dr. Paulo Portas. Nos quais me enquadro e com muito orgulho.

"Continuo a achar que existe um espaço para a democracia-cristã assumida, arejada, do século XXI. Não uma coisa bafienta"

Se Nuno Melo perder o Congresso, apoiado previsivelmente por Telmo Correia e Cecília Meireles, acha que os dois deputados deviam seguir o seu exemplo e renunciar ao mandato parlamentar?
Primeiro, não sou exemplo para ninguém. Depois, cada deputado decide por si e cada pessoa tem as suas circunstâncias de vida. Sugiro que em futuras edições da Vichyssoise convidem um e outro, que serão presenças ótimas e que responderão melhor do que eu.

Se o partido não inverter o rumo, considera a hipótese de se desfiliar do CDS?
Já estive noutro partido, que entretanto fechei, que era o partido Movimento Esperança Portugal. Portanto, tenho a experiência na pele de abrir e fechar partidos, de criar filiações e desfiliações. A palavra desfiliar tem um sentido quase carnal, custa. Neste momento, não tenho nenhuma intenção de me desligar do CDS, não só porque é violento, mas porque acho que o CDS não está morto e continua a acreditar que há um espaço para a democracia-cristã arejada do século XXI. Não está, de todo, nos meus planos.

Nem uma eventual migração para a Iniciativa Liberal?
Não, nem isso.

Vamos agora avançar para a segunda fase da nossa refeição, o Carne ou Peixe, em que só pode escolher uma de duas opções. Preferia passar um fim de semana no Alto Minho com Tiago Brandão Rodrigues ou um fim de semana em Oliveira de Hospital com Francisco Rodrigues dos Santos?
Nesse fim de semana, estou em isolamento profilático, não vou poder ir. Lamento imenso para os dois.

Preferia mais seis anos de governação de António Costa (dois mais quatro) ou um Governo liderado por Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos com apoio parlamentar do Chega?
Correndo o risco disto correr muito mal na reação à resposta, acho que, ainda assim, preferia um governo de António Costa.

E preferia ser um ministro da Educação num governo co-liderado por Nuno Melo ou por Adolfo Mesquita Nunes?
Bem, não quero ser ministra da Educação, que fique claro…

Dou-lhe a possibilidade de escolher outra pasta.
Se pudesse gostava de brincar a ser ministra da Saúde. E, claramente, com o Adolfo Mesquita Nunes.

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