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José Manuel Fernandes

Vencedor: Assunção Cristas. Num debate muito partido e sem foco, a líder do CDS foi a que surgiu mais focada nos seus objectivos. Voltou a mostrar estar melhor preparada e foi a única que conseguiu atacar o legado deste Governo. Isto sem se ter perdido em alguns dos temas etéreos por onde divagaram os outros líderes partidários.

Vencido: André Silva. Cada dia que passa ficam mais claras as fragilidades do PAN. Num debate em que os temas não eram os seus, André Silva mostrou que nem conhecia bem o programa do seu partido, muito menos explicá-lo ou justificar as suas implicações. O estado de graça passou e o PAN passou a ser escrutinado – e está a dar-se mal com isso.

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Nota final. Como é que um debate a seis é vivo e, ao mesmo tempo, esclarecedor? Seguramente com uma disciplina que este não teve, de certeza abordando mais temas, sobretudo temas que são centrais nesta campanha eleitoral, como o de saber como é que os partidos vão pagar todas as promessas que estão a fazer ou de contrastar as diferenças nas suas propostas para o desenvolvimento económico. Tudo acabou por ser muito previsível, até chegarmos ao fim com Jerónimo de Sousa a ser prejudicado no tempo que teve para expor as suas ideias.

Helena Matos

Vencedora: Assunção Cristas. Conseguiu que António Costa a tratasse como líder da oposição. Ou melhor, como a única oposição ali presente, para mais com o estatuto de membro de um antigo governo.

Vencido: André Silva. Neste debate houve dois debates: um entre os diversos líderes e outro entre Catarina Martins e André Silva. Catarina ganhou esse debater inter pares totalitários. André Silva atrapalha-se com as palavras e, como na maior do tempo não sabe manifestamente nada sobre os assuntos em discussão, fica a patinar invocando relatórios internacionais. Foi penoso.

A manha do metalúrgico. Jerónimo de Sousa é um profissional da política que pôs a render o passado operário como outros faziam no passado com os títulos nobiliárquicos. Nos debates, Jerónimo não fala menos que os outros líderes por acaso: poupa-se para não se expor. É tratado com condescendência pelos participantes e jornalistas mesmo quando profere disparates de monta como aconteceu neste debate acerca dos vencimentos dos eleitos. O escudo protector do “sou metalúgico” vai ser recordado com saudade pelo próximo líder do PCP.

Nota final. Catarina Martins não consegue proferir as palavras “José Sócrates”. Nas arengas que fez sobre a corrupção na política, tão mais demagógicas quanto mais Catarina queria fugir às perguntas, não ocorreu à líder do BE o nome do ex primeiro-ministro.

Nota ainda mais final. Desde quando a robotização da indústria portuguesa se tornou responsável pela crise da sustentabilidade da Segurança Social?

Alexandre Homem Cristo

Vencedor: Catarina Martins. A líder do BE tem um discurso claro, perceptível e eficaz – sabe ir ao essencial, como por exemplo dizer que o desafio do sistema eleitoral não é uma discussão matemática, mas perceber-se nas instituições políticas que os cidadãos não se sentem representados. Mérito dela e do BE, que trabalha muito bem a comunicação. Chegou ao debate com um objectivo e um alvo: marcar posição ao centro-esquerda e atacar o PAN, por ser um adversário directo – no roubo de votos e na competição por um lugar à mesa com o PS no pós-eleições. Fê-lo bem. No plano táctico e da estratégia eleitoral do BE, ganhou pontos.

Vencido: Rui Rio. Rui Rio não fala para eleitores, fala para os técnicos do Banco de Portugal – o debate sobre a segurança social foi disso exemplo. É sério nas abordagens e rigoroso nas análises? Sem dúvida. Mas o seu discurso está desligado das necessidades de um debate político, por falta de visão política e de alcance eleitoral. Depois, não soube explicar uma das suas principais bandeiras: a reforma do sistema eleitoral, em particular a redução do número de deputados (não basta dizer que é preciso fazer diferente). Neste tema, que foi introduzido a propósito do programa do PSD, Rui Rio foi completamente abafado, até que se concluísse por todos que o tema não é uma prioridade nacional. No terceiro tema, o da Justiça, Rio não se impediu de criticar o Ministério Público e os julgamentos em praça pública, sem apresentar soluções viáveis. Chegou ao ponto de defender a penalização dos jornalistas e da comunicação social nas fugas de informação – pondo em causa a liberdade de imprensa e a importância da investigação jornalística no combate à corrupção. O líder do PSD alega que a sua visão é politicamente incorrecta – mas é apenas errada.

Nota final. O debate foi na rádio (sem o poder da imagem), foi conduzido à volta de propostas específicas retiradas dos programas e teve 6 intervenientes – aliás, 5 intervenientes e o líder do PAN, que foi para a rádio ler o seu programa eleitoral. A lógica é muito diferente da dos debates televisivos, portanto. E esse formato favoreceu António Costa, que se focou nas suas propostas e nas partes “boas” da governação, sem ser rebatido uma única vez. É revelador que, em nenhum momento, os líderes partidários tivessem como objectivo criticar o governo: ninguém, à excepção de Assunção Cristas em alguns apartes, esteve verdadeiramente interessado em desafiar o PS. Isso explica muito do que acontecerá no dia 6 de Outubro.

Pedro Braz Teixeira

Vencedor: António Costa. Foi o melhor (verbalmente) na luta contra a corrupção, apesar de alguma demagogia na sustentabilidade da segurança social.

Vencidos: jornalistas e Rui Rio. Os jornalistas não fizeram a António Costa a pergunta sobre a acusação de Catarina Martins de que os partidos grandes são cooptados pelo poder económico. E Rio esteve muito fraco na reforma do sistema eleitoral e na justiça e corrupção.

Nota final. De saudar a proposta de Jerónimo de Sousa de que houvesse uma aproximação entre as assinaturas para criar um partido (7.500) e as necessárias para a iniciativa legislativa dos cidadãos (20.000), que gerou um consenso imediato; e a proposta do PAN, que defende uma redução de 22 para 9 círculos eleitorais, com base nas NUTs, que vai ajudar a aumentar a proporcionalidade do sistema eleitoral.

Miguel Pinheiro

Vencedor: António Costa. Algumas pessoas antecipavam que este fosse um debate de cinco contra um, com todos os partidos, da “geringonça” e da oposição, a atacarem António Costa, na tentativa de evitar uma maioria absoluta. Mas não aconteceu nada disso. Aliás, aconteceu precisamente o contrário: a expressão “maioria absoluta” não foi referida uma única vez — muito menos os seus riscos e perigos. Com cada líder partidário a aproveitar o cronómetro para debitar excertos do seu próprio programa, só Assunção Cristas, em alguns momentos, incomodou António Costa. Mas as disputas entre os dois pareciam mais a soma de duas embirrações pessoais do que o resultado de uma posição política.

Vencido: André Silva. Num debate onde não se falou de ambiente (excepto nas perguntas rápidas finais), o líder do PAN passou duas horas a expor ao mundo, em total inconsciência, as suas muitas fragilidades. Além disso, mais uma vez, mostrou onde está: chegou a sentir necessidade de pedir a palavra para sublinhar a sua “convergência” com o BE e o seu afastamento “da direita”. Isso, por si só, não é bom nem mau — mas é uma clarificação a que o PAN tem fugido.

Nota final. A frase do debate é de Jerónimo de Sousa. Quando todos discutiam se os políticos deviam ser aumentados, o líder do PCP foi desarmante: “Há pessoas que dizem que sou parvo porque continuo com o salário de metalúrgico. Não fui beneficiado nem prejudicado. Sabia ao que ia”.

Filomena Martins

Vencedores: os que estão a pensar na reforma (desde que não pensem votar no CDS ou no PS). Por isso Rui Rio, Jerónimo de Sousa, Catarina Martins e André Silva. Os primeiros 37 minutos do debate foram sobre as mais variadas propostas para a Segurança Social: falou-se de tectos e limites (PAN), de plafonamentos e de trabalhar até mais tarde e receber mais cedo (PSD), do sucesso do imposto Mortágua e do fim de privilégios (Bloco) ou de taxar os lucros das grandes empresas (PCP). Entre tanta escolha, há depois a ideia de um “contrato de transparência com as pessoas” (?) e a “defesa da liberdade de escolha” (qual?) vinda de Assunção Cristas. Pode sempre optar também (parece que muitos o vão fazer) pela cassete, aplicável a várias matérias, que António Costa não se cansa de repetir sobre as grandes façanhas do seu Governo: reforçar a “confiança”, recusar “cortes”, fazer “devoluções” e, neste caso, dar como garantida “a segurança do sistema por mais 22 anos”. E se houver uma crise? “Não há problema!”. Nunca há problemas para os socialistas… Até alguém ter de nos emprestar dinheiro quando entramos em bancarrota. Na verdade, não houve vencedores sobre como mudar o sistema de pensões. Perdemos todos. Porque, mais uma vez, por puras razões ideológicas — e eleitoralistas — vai perder-se a oportunidade para partir de uma folha em branco e discutir uma das grandes reformas essenciais ao país.

Vencido: a corrupção. Ou, por escapar com mérito ao tema, António Costa, e pela proposta parva contra os jornalistas, Rui Rio. A palavra foi proferida por Assunção Cristas já a conversa levava mais de uma hora, mas logo silenciada. Só voltaria à discussão mais tarde, como o terceiro grande tema do debate, mas o mais curto de todos (30 minutos, contra 35 da Segurança Social e 37 do sistema eleitoral). E depois não deu em nada de concreto. Ou só deu tolices: por teimosia, ideologia ou conveniente omissão. Rui Rio voltou a exaltar-se com os ‘julgamentos de tabacaria’ e a insistir que se castiguem os mensageiros: ou seja, multiplicar por 10 milhões as penas para quem ele acha que viola o segredo de Justiça, os jornalistas que dão as notícias a todos os portugueses e que, por acaso, foram quem denunciou, revelou e mais investigou os grandes processos em julgamento (mas estes malandros são uma velha obsessão do líder do PSD). Jerónimo de Sousa e Catarina Martins arrancaram cabelos por o estatuto de arrependido, ou ‘delação premiada’, ter “destruído a democracia” no Brasil, onde Lula da Silva estaria obviamente isento das propostas do PCP e do Bloco sobre o enriquecimento injustificado. E António Costa pôde assim dizer que bastam as declarações de rendimentos que os políticos têm de entregar no Constitucional para tudo ser transparente, porque se algo de errado for encontrado (entre os milhares de papéis que meia dúzia de juízes têm de verificar, já que a digitalização viola os direitos dos detentores de cargos públicos) o Ministério Público é que deve investigar. Misturando isso com a habitual guerra de palavras sobre quem deu mais meios à investigação, se este ou o anterior Governo, mais uma proposta sobre a prevenção dos ‘quatro olhos’, facilmente se passa pelos pingos da chuva.

Nota final. Mesmo sendo apenas um de dois debates com os seis candidatos, mesmo tendo menos de duas horas, terem sido abordados apenas três grandes temas, um deles a estafada reforma do sistema eleitoral que nunca chega a lado nenhum, soube a muito pouco. E, claro, assim ninguém falou do caos na Saúde, dos resultados da educação (e da eterna guerra com os professores, além da dos polícias, bombeiros, GNR, militares, juízes e etc. e tal), da falta de investimento público ou da prevenção (leia-se polémicas) dos fogos. Valeram as perguntas finais, que pelo menos meteram canábis, carne de vaca e touradas e não foram as desinteressantes colocadas no frente-a-frente Costa e Rio. Mas o primeiro-ministro deve deve ter saído a limpar a testa com o lenço e a suspirar um belo de um ‘ufa!’.

Pedro Benevides

Vencedores: Assunção Cristas e Catarina Martins. A líder do CDS foi a única a irritar António Costa, obrigando-o a abandonar a cadeira do poder e a sujar-se na lama do debate. E esteve bem a levar a água ao seu moinho, desvalorizando a questão da reforma do sistema político. Catarina Martins foi a mais incisiva a demonstrar as inconsistências de algumas propostas do PAN e conseguiu distribuir ataques eficazes a quase todos os outros adversários, com o ar simpático de quem está a oferecer amêndoas da Páscoa.

Vencido: André Silva. O líder do PAN apareceu na piscina dos grandes com uma bóia, braçadeiras e agarrado à parede. Não disfarçou o receio que tinha de se afundar no primeiro debate onde a sua agenda não entrou. Raramente respondeu diretamente às perguntas, enganou-se quando falava dos resultados das últimas legislativas, socorreu-se sempre das cábulas que levava no bolso, entediou os moderadores (e os ouvintes) com passagens completas do programa do PAN (que também leu), e não conseguiu defender-se eficazmente das várias amonas que, em particular, Catarina Martins lhe fazia sempre que estava distraído a explicar propostas para a segurança social ou a tentar descolar-se da delação premiada. Foi ao fundo.

Nota final. Rui Rio quase ganhou este debate. Mas quem acha bem citar esta frase tão perto das legislativas, não pode levar a taça: “Não sei para onde vou, sei que não vou por aí”. O líder do PSD teve também alguma dificuldade em explicar medidas que propõe, nomeadamente a redução do número de deputados, ou a punição da comunicação social em casos de violação do segredo de justiça. E viu António Costa colar-lhe a imagem de “conversador de café”. Mas é precisamente aqui, na informalidade com que discute política, que Rio ganhou pontos. Para trás ficou a imagem de um escriturário mal-disposto que pica o ponto e sai sempre à mesma hora, para dar lugar a um político de carne e osso que continua a sofrer de laivos de populismo e de autoritarismo, mas que se indigna e se defende (“Eu luto contra os poderes instalados”), ao mesmo tempo que despenteia o debate com apartes humorísticos, desabafos sinceros (“Se as minhas propostas são as melhores ou não, eu não sei”) e a linguagem popular entre o “roubo do autorádio” e os “valores abandalhados”. Serve isto para ser visto como alternativa credível a primeiro-ministro? Provavelmente não, mas Rui Rio que tem estado apagado, afinal está mesmo vivo, consegue criar empatia e é impossível não dar por ele mesmo à beira da campanha eleitoral.