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António Pinto Pereira. "Montenegro tem uma atitude infantil. Se fosse um político a sério liderava a direita"

Ex-militante do PSD, agora filiado no Chega, diz estar "disponível" para os convites que Ventura lhe fizer. Arrasa Montenegro, que acredita ainda poder mudar de ideias quando a alianças com o Chega.

António Pinto Pereira é um dos nomes que ilustram as transferências das fileiras do PSD para as do Chega: desiludido com as lideranças de Rui Rio e de Luís Montenegro, desfiliou-se do PSD no final do verão e juntou-se ao partido de André Ventura, onde o seu nome circula para ser cabeça de lista nas legislativas ou candidato às europeias. Em entrevista à Vichyssoise, o professor e advogado garante “não saber” se será candidato, mas mostra-se “disponível” para o que Ventura quiser: se a ideia for mudar o país para melhor, “estou aqui, com as armas todas prontas para disparar”, assegura.

Durante a entrevista, Pinto Pereira arrasa o PSD em todas as frentes, acusando Montenegro de não ser “um líder”, de ter uma atitude “infantil e imatura”, de não saber porque é que rejeita uma aliança com o Chega e de desperdiçar uma oportunidade para tirar a esquerda do poder. Só Pedro Passos Coelho lhe merece elogios, por deixar a porta aberta ao seu novo partido, onde assegura nunca ter visto “nada de extremista” — mesmo que defenda ideias como a de que a população portuguesa está a ser “substituída” e “colonizada” por estrangeiros. Já no Chega só vê pessoas “bem formadas, católicas, com bom aspeto, bem vestidas”.

O militante do Chega ainda acredita que Montenegro acabe por mudar de ideias, caso precise do partido para governar. Caso contrário, o Chega terá “grande projeção” nos próximos anos e até pode ganhar as legislativas, prevê — e isso “não será culpa de Ventura, mas de Montenegro”.

“Estou disponível para o que for necessário”

Saiu do PSD, filiou-se no Chega e está na posição certa para conseguir um lugar de grande relevância no partido. Não será um caso único, mas estas “transferências” entre partidos não causam um problema de credibilidade? 
Tive um percurso sossegado no PSD. A certa altura fui candidato à Câmara de Sintra e o que encontrei no terreno foram guerras internas entre a distrital, a direção nacional e a concelhia, onde havia pessoas que queriam, de facto, modificar o sistema e uma região do país com problemas enormes, com pobreza, com exclusão social. Vi guerras e atitudes fratricidas em termos políticos. Cheguei a questionar as pessoas que tinham responsabilidade no partido: nós estamos aqui para resolver os problemas da população ou estamos aqui com guerras internas que não levam a parte nenhuma?

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E tem garantias de que essas guerras não existam no Chega?
Saí do PSD no fim do verão porque acho que Rui Rio era um homem desnorteado, do ponto de vista político. E tinha uma imagem má do Chega. As pessoas diziam que era um partido extremista, com ideias muito afastadas do pensamento clássico conservador de direita. No entanto, comecei a ter convites do Chega para fazer intervenções em termos académicos sobre a área da justiça, sobre a revisão constitucional, uma grande intervenção sobre a Europa. Fui muito bem tratado e vi pessoas bem formadas, educadas, corretas do ponto de vista do pensamento político. Até hoje não vi guerras internas, julgo que é uma questão que terá a ver com o passado. O que tenho visto é um partido com rumo, onde temos um líder carismático, o único que encontro no meu país. Recordo-me de outro, que seria Sá Carneiro, que marcou o panorama político. E, de facto, o André Ventura é um catalisador, um tipo inteligentíssimo, brilhante no seu raciocínio, e atrai as pessoas. [No Chega] não vi radicalismos nenhuns e percebi que era um grupo de pessoas empenhadas e bem formadas, com uma luta séria para mudar o país. Quando cheguei ao verão, disse: não me sinto bem no PSD, não tenho qualquer paixão por aquele partido. Não me diz nada. E vou entregar a minha espada. Mas não venho à procura de lugares nenhuns. Tenho a minha vida, sou advogado há 30 anos. Se me disser assim: gostaria de ter uma oportunidade de mudar este país para um país melhor? Aí, eu estou aqui, com as armas todas prontas para disparar.

E essa oportunidade de ser candidato a deputado parece-lhe bem?
Não sei se sou candidato a deputado.

Mas parece-lhe bem?
Não faço a mais pequena ideia. Não é um assunto que me preocupe. Tenho tido uma colaboração ativa com o André Ventura.

E mostrou essa disponibilidade para entrar nas listas a André Ventura?
Ele sabe que estou disponível, sabe quem são as pessoas em quem confia. O André Ventura convidou-me honrosamente para trabalhar no programa eleitoral, na área da justiça e da segurança interna. Agora, as decisões são tomadas por ele. As pessoas não devem estar em bicos de pés. Vejo isso muito nos outros partidos. As pessoas querem o poder pelo poder. E é uma das coisas que me repugna muito: a atitude infantil que eu encontro à direita. Estamos num momento decisivo de viragem da página. O país não aguenta mais um ano no estado em que está. Caiu no fundo, bateu. Temos uma esquerda sedenta de poder, não é para fazer nada de novo. E temos uma direita desnorteada. Dizem que não querem o acordo com o Chega. Não sabem por que razão.

Mas o seu nome foi muito falado para ser cabeça lista do Chega às próximas eleições europeias.
Também ouvi dizer isso. Mas não tive nenhuma conversa com ninguém sobre isso.

Mas estaria disponível para ser candidato a eleições europeias? Ou preferia ser candidato a deputado?
Não prefiro coisa nenhuma. Pode fazer-me as perguntas 50 vezes, mas não saio daqui. Estou disponível para aquilo que for necessário. Quem tem que querer é o líder do partido, uma pessoa com ideias muito claras, que dá passos firmes, seguros, calculados. Há pessoas que dizem que o partido não tem caras, mas não. Tem pessoas notáveis, com dimensão, boa formação moral e competência, muito melhores do que eu para fazer qualquer coisa.

"Uma das coisas que me repugnam muito é a atitude infantil que encontro à direita. Estamos num momento decisivo de viragem da página. O país não aguenta mais um ano no estado em que está. Caiu no fundo, bateu. E temos uma direita desnorteada. Dizem que não querem o acordo com o Chega. Não sabem por que razão"

“O PSD está arrumado. Montenegro não serve”

Do ponto de vista de medidas e de ideias concretas, o que é que encontrou no Chega que não encontrava no PSD?
Uma atitude genuína de mudança. Não vi nada de extremista até hoje no Chega. É um partido de direita, que faz uma nova direita, a direita do século XXI. O PSD está arrumado, faz parte de um tempo que já não é o de hoje. Luís Montenegro não é um líder carismático. Não atrai multidões. Não serve para conquistar o país. E o país tem de ser conquistado pela direita. O André Ventura é a pessoa certa para fazer isso. E as pessoas que estão com ele são pessoas com ideias.

Pedia-lhe mesmo para referir medidas concretas. Está a colaborar muito na questão da Justiça…
O PSD nunca defendeu a Justiça. Nunca nenhum partido se preocupou com a Justiça. Ninguém quer saber, para continuar o caos e a bandalheira em que isto está e dizerem mal da Procuradoria Geral da República. Dizem mal do sistema mas não fazem nada por melhorar o sistema.

O PSD não defende questões como a prisão perpétua ou a castração química. Mas o Chega defende. Revê-se nisso?
A prisão perpétua é um assunto que não tem sequer nível para discussão. É aceite em todos os países da UE. E foi, no ano passado, determinado pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que era perfeitamente válido entre os sistemas penais dos países europeus. Com uma condição, que é ser revista permanentemente. Veja bem: uma pessoa que comete um crime contra outra, de uma forma selvática, bárbara, viola uma criança e mata, e apanha 25 anos de prisão. Um tipo que entra numa escola e faz a mesma coisa a 20 miúdos, apanha 25 anos de prisão. Há uma desigualdade.

E, portanto, há diferenças entre PSD e Chega.
Não sei se há. O que eu acho é que o Chega é um partido que pretende fazer coisas, é o partido que teve mais iniciativas no Parlamento, chumbadas pela esquerda.

Depois do “não é não” de Luís Montenegro, o Chega ficou isolado no espetro político português. Votar no Chega não pode tornar-se inconsequente?
Votar no Chega é a única alternativa possível, porque o PSD não tem soluções e este líder não serve para primeiro-ministro. Votar no PSD é um disparate, um voto perdido. Um voto na esquerda é manter uma esquerda ávida de poder a continuar a fazer negócios desastrosos. Luís Montenegro não tem capacidade de mobilização — por isso é que está a haver uma saída, que vai ser acentuada, de pessoas do CDS e PSD para o Chega. Este é o momento derradeiro: ou é hoje ou vamos continuar mais quatro ou cinco anos com outro partido qualquer, que vai continuar a fazer disparates.

Se acha que as pessoas não estão à procura de cargos, porque é que vêm do PSD e do CDS para o Chega em pleno período pré-eleitoral?
Não posso falar em nome de outras pessoas, mas acho que percebem que é a única alternativa política. Montenegro, em quem votei contra Rui Rio, podia ter uma visão e dizer: vou liderar a direita, juntar todos os partidos à direita para vencer a esquerda. Mas não tem iniciativa, não é um líder.

"Votar no Chega é a única alternativa possível, porque o PSD não tem soluções e este líder não serve para primeiro-ministro. Votar no PSD é um disparate, um voto perdido"

“O que Montenegro diz agora pode não ser dito amanhã”

Se o PSD cumprir a palavra e não fizer um acordo com o Chega e não houver maioria sem o Chega, o partido entende que é melhor ir a votos outra vez?
O Chega está disponível para entrar numa coligação de direita.

Mas os outros não.
Não sabemos. O que Montenegro diz agora pode não ser dito amanhã num cenário diferente. Depois do dia 10 de março vamos ter de tomar decisões, e não sei se Montenegro, confrontado com um resultado altíssimo do Chega…

André Ventura já disse que apresenta uma moção de rejeição ao governo, caso não esteja lá incluído. Caso impeça a direita de ir para o Governo, o Chega não está a ajudar a esquerda a manter-se no poder? 
O Chega não pode ser uma bengala. Se não serve para fazer Governo, com ideias muito melhores do que as do PSD, com um combate à corrupção e viragem de página nas áreas da Justiça, no combate à pobreza, na Educação e Habitação… Os meus alunos dizem-me que acabam o curso e vão embora para o estrangeiro. Isto é uma vergonha. Estamos num país onde estamos a ser substituídos progressivamente e colonizados por pessoas que não nos dizem nada. Falam inglês, não têm a ver com o nosso passado, com a nossa língua e a nossa pátria. Esta é a nossa luta, decisiva. O país está a saldo e temos de tomar conta dele para virar a página.

E essa atitude do Chega não vai permitir à esquerda continuar a governar?
O resultado do Chega pode ser surpreendente. Não sei o que vai acontecer em março, mas há quatro meses via um ataque nas redes sociais, até em relação a mim quando decidi ir para o Chega. Hoje vejo as pessoas a combater a esquerda e a dizerem que querem uma mudança no país. mesmo que o Chega não seja a primeira força, espero bom senso. Pedro Passos Coelho mostrou esse bom senso quando disse que devia haver um alinhamento à direita que incluísse o Chega.

Mas o Chega não pode contribuir para um cenário de instabilidade ao derrubar um Governo do PSD?
Não estamos a dizer que vai derrubar, mas que se não serve para fazer Governo também não serve para fazer um apoio de geringonça parlamentar, como aconteceu com a esquerda ou com o Chega nos Açores. Essa responsabilidade é de Montenegro, que tem uma atitude infantil, de imaturidade completa. Estamos num momento em que a direita pode vencer a esquerda, que está há anos a mais no poder. As regras democráticas exigem alternância.

"Não estamos a dizer que o Chega vai derrubar o PSD, mas se não serve para fazer Governo também não serve para fazer um apoio de geringonça parlamentar"

“Se Montenegro fosse um líder a sério liderava a direita”

O projeto do Chega pode esgotar-se caso fique excluído de um projeto de governo à direita? 
O Chega é o futuro do país, a direita do país, e está a crescer de forma exponencial. O discurso do Chega não afasta as pessoas. A ideia dos nazis, fascistas, extremistas, foi criada pela esquerda. São pessoas equilibradas, com bom senso, bem formadas, católicas, com bom aspeto, bem vestidas, não vejo nada errado nas pessoas que estão no Chega. O Chega vai ter grande projeção nos próximos anos e a culpa não é de Ventura, mas de Montenegro, que tinha aqui uma oportunidade, se fosse um líder a sério.

Mas acha que a ideia de Luís Montenegro de recuperar a Aliança Democrática…
Acho que Montenegro não tem ideia nenhuma, está desnorteado.

Mas foi uma estratégia inteligente do PSD para recuperar eleitorado?
Inteligente fazer isto? Se fosse um político a sério liderava a direita. A AD teve um tempo muito digno e de grande orgulho, mas que acabou. Isto não é nada. Nem o CDS, pelo qual tenho imensa admiração… Corre o risco de ser Os Verdes da direita. A diferença é feita com o Chega. Montenegro só não que ver isso porque está a fazer medidas das suas quintas e carros.

Que fasquia é que o Chega deve estabelecer para estas eleições? Acha mesmo que ultrapassar o PSD é uma possibilidade real?
Não é fasquias, é ganhar as eleições. Acredito nisso. Por que não? Não é com um sonho que as coisas começam? Temos todas as condições para atrair as pessoas que estão descontentes e não se reveem nesta bandalheira. Podemos ter uma grande surpresa.

Se não ganhar as eleições é uma derrota, é isso?
Não, não temos de ver assim as coisas.

O que é que seria uma derrota? Não há derrotas para o Chega?
O Chega está a fazer um trabalho meritório de tentar virar a página, acabar a corrupção e limpar este país, devolver o orgulho a Portugal. Se ganhar as eleições cumpriu o seu o papel, se não ganhar cumpriu. Se não ganhar agora ganha no momento a seguir.

"A ideia dos nazis, fascistas, extremistas, foi criada pela esquerda. As pessoas do Chega são equilibradas, com bom senso, bem formadas, católicas, com bom aspeto, bem vestidas, não vejo nada errado. O Chega vai ter grande projeção nos próximos anos e a culpa não é de Ventura, mas de Montenegro"

Vamos agora para o segmento Carne ou Peixe, em que o convidado tem de escolher uma de duas opções.

Sobra-lhe um lugar para a rota da carne assada, em março.  Quem prefere levar: António Maló Abreu ou Cristina Rodrigues?
Cristina Rodrigues. Gosto muito dela, é uma figura brilhante, inteligentíssima, excelente jurista, e a ele não o conheço. E é muito mais bonita.

Vai ter um almoço com André Ventura e tem mais um lugar reservado, quem convida: Pedro Passos Coelho ou Luís Montenegro?
Pedro Passos Coelho, uma pessoa muito mais séria e com muito mais dimensão de Estado. E foi muito simpático com o Chega, mostrou uma visão clarividente no sentido de sentar o Chega à mesa. E é meu colega na universidade.

Com quem deixava o cão durante um fim-de-semana: António Costa ou Pedro Nuno Santos?
O meu cão é sagrado para mim. Nenhum dos dois, nem pensar, era um risco gravíssimo que não poderia correr… Mas no limite preferia António Costa porque Pedro Nuno Santos é um radical perigoso, que não pode ganhar as eleições.

Com quem preferia descer a Avenida da Liberdade nos 50 anos do 25 de Abril: Mariana Mortágua ou Paulo Raimundo?
Nem um nem outro. Ficava lá sentadinho num dos bancos da Avenida, que é muito bonita.

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