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Os dois candidatos voltam a defrontar-se no próximo sábado
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Os dois candidatos voltam a defrontar-se no próximo sábado

Os dois candidatos voltam a defrontar-se no próximo sábado

As contas da segunda volta: um passeio no parque para Rio ou uma vitória à Soares-86?

Rui Rio e Luís Montenegro vão voltar a medir forças. O que dizem os resultados para a segunda volta? Analisamos as probabilidades, as estratégias possíveis e as pistas deixadas pelos candidatos.

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Rui Rio é economista e, desta vez, as contas estão mesmo a favor dele. A forma como ganhou a primeira volta, dá-lhe vantagem. Nas concelhias e distritos onde se previa divisão, Rio ganhou e naquelas que caíram para Montenegro, Rio ou lhe mordeu os calcanhares ou encurtou mais as distâncias do que era esperado. O atual líder ganhou em quase toda a linha, numa bofetada de luva laranja, mas não conseguiu a vitória por K.O. Agora, basta-lhe estar à defesa, resguardar-se sem levantar a guarda. Já Montenegro quer transformar uma bofetada de luva laranja em chapada da Marinha Grande e vencer como Soares venceu em 1986, à segunda volta. Mas as contas são difíceis. Vem aí um passeio no parque para Rio ou uma vitória histórica para Montenegro? Montenegro é advogado, mas foi o economista quem (quase) acabou a noite a poder dizer: ‘I rest my case’.

Faltou um bocadinho assim. Rio ganhou, mas não chegou. E agora?

49,44% é o valor de um “vitória expressiva”, 0,56% é o sabor amargo dessa vitória. Na sala do Sheraton, no Porto, onde foi montado o quartel-general de Rui Rio para esta noite eleitoral, o espírito era “meh”. “Mais ou menos”. “Assim-assim”. Entre as 23h e a 00h20, quando os resultados iam sendo cada vez mais claros e Rui Rio não descia da sala no 12º andar onde tinha passado toda a noite, ninguém ousava sorrir muito. “Oh Salvador [Malheiro], vai ali dentro dizer para se animarem, parece um enterro”, comentava uma militante, referindo-se ao amargo de boca que os 49,44% dos votos estavam a deixar nos apoiantes de Rui Rio.

Rui Rio no discurso de vitória na primeira volta das diretas do PSD

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Em surdina, todos falavam numa diferença de 299 votos. “Houve ali uma altura no início da noite em que comecei a ver que era possível”, comentava Salvador Malheiro com o Observador pouco antes de Rui Rio descer para fazer a sua declaração e lançar as pistas para a semana que aí vem. Mas não foi. É preciso pedir “mais um esforço” aos militantes, mais uma ida às urnas. Quanto a Rio, não vai mudar nada, nem uma vírgula, não vai arriscar nada (o que se percebeu quando recusou um debate televisivo com Montenegro) e vai confiar na matemática que está a seu favor. Foi por pouco, por “poucochinho”, mas a confiança de que vai ganhar na segunda volta está nos píncaros. Basta alguns apoiantes de Miguel Pinto Luz ficarem em casa… Basta não mexer muito.

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A sala do hotel Sheraton, no Porto, onde Rui Rio fez o discurso de vitória na primeira volta das diretas do PSD

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O número mágico foi repetido várias vezes durante o discurso de vitória: 0,56% foi o que faltou a Rio para ter mais votos do que Montenegro e Pinto Luz juntos. “Eu devia até estar chateado com o Miguel Pinto Luz, porque me obrigou a ir à segunda volta”, brincou Rio antes de felicitar os adversários, sublinhando que se fosse pelas regras antigas (onde ganhava o candidato que tivesse mais votos, independentemente de ter maioria absoluta ou não) estava “arrumadíssimo”, estava no papo. “Mas comigo nada é fácil, é sempre preciso mais”, desabafaria Rio em cima do púlpito, evidenciando que lhe dá mais prazer vencer quando as guerras são duras de travar. Se fosse fácil, não tinha a mesma piada.

Rui Rio no discurso de vitória na primeira volta das diretas do PSD

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Rio falhou assim o objetivo de vencer à primeira volta, que, como chegou a dizer o seu secretário-geral, José Silvano, numa entrevista à Vichyssoise da Rádio Observador, lhe conferiria “maior legitimidade”. Mas a verdade é que não ficou longe: faltou só um bocadinho assim. E agora, qual a estratégia?

As pistas para Rio na semana que aí vem

Não arriscar. Luís Montenegro tinha lançado o desafio para um debate televisivo esta semana, mas Rui Rio recusou prontamente. “Participei num debate e acho que não foi prestigiante para o PSD, mantenho a mesma posição”, disse.

A dinâmica do mais forte. A única coisa que Rui Rio pediu foi que o voto seja livre, ou seja, que os militantes votem por convicção e não por promessas de lugares ou ambições pessoais. Foi assim que se passou nesta primeira volta, diz, e é assim que quer que se mantenha na próxima. A verdade é que “são precisos tão poucos votos que quase dava para ir bater à porta de cada um”. Rio confia na chamada dinâmica do mais forte: “Acho que a unidade se faz muito mais rapidamente em torno do mais forte do que do mais fraco”, disse, deixando antever já o argumento que vai usar para convencer os militantes a voltarem a votar em si. A regra costuma ser essa: é mais fácil apoiar quem ganha.

A matemática. “Matematicamente bastava até alguns votantes de Miguel Pinto Luz não votarem para eu ganhar”, disse ainda, mostrando que vai apostar também na não-mobilização dos votantes de Pinto Luz em nenhuma das duas candidaturas. José Eduardo Martins, um dos apoiantes de Pinto Luz, chegou mesmo a admitir isso em entrevista ao Observador: caso Pinto Luz ficasse pelo caminho, não iria votar em nenhum dos outros dois. Se outros lhe seguirem o exemplo, Rio segue com vantagem. Quanto aos que votaram nele, pede-lhes “mais um esforço” no próximo sábado.

Manter tudo como está. Nos minutos que duraram a intervenção de Rui Rio, o líder do PSD teve ainda tempo para recapitular a matéria dada e repetir quais são os seus objetivos se continuar como líder do PSD nos próximos dois anos: reforçar a presença autárquica do PSD, fazer uma oposição construtiva e credível ao governo e abrir o partido à sociedade, para que o PSD se centre no debate de ideias e não na disputa de lugares. Esses eram os objetivos de Rio até aqui, e mantêm-se — o discurso é o mesmo.

P.S. Rui Rio sublinhou que vai pegar nestes 49,44% dos votos e vai pô-los no montinho das vitórias eleitorais que tem no currículo, a contar “desde o tempo da associação de estudantes”. O monte é grande, diz, em comparação com o das derrotas que, no seu entender, só conta com uma: as legislativas de outubro. Rio esqueceu-se, porém, das europeias de maio, onde o PSD encabeçado por Paulo Rangel (e liderado por Rui Rio) teve apenas 21,9% dos votos, naquele que foi o pior resultado de sempre do PSD em eleições de cariz nacional. Esquecimento? Paulo Rangel estava na plateia e pode não ter gostado da omissão.

E agora, Luís?

Ao início da noite os apoiantes de Luís Montenegro temiam o pior: uma vitória de Rio à primeira volta. A sala no Epic Sana, em lisboa, esteve sempre vazia e quase sempre com um silêncio sepulcral. Ainda não eram dez da noite, já Hugo Soares respondia a perguntas sobre o fim da carreira política do antigo líder parlamentar e apostava na contenção de danos, numa curta entrevista à SIC. Lembrou que essa não era uma inevitabilidade, se até Passos perdeu e voltou para ser primeiro-ministro. Aveiro correu mal, o Porto também, Braga não foi tão arrebatador como todos na candidatura falavam à ‘boca cheia’ durante a semana e previa-se o descalabro. Mas concelhias grandes, como Famalicão não falharam, Santarém ficou perto, Lisboa castigou Rio como se previa e o ânimo cresceu: afinal, uma segunda volta era possível. Seria voto a voto, concelhia a concelhia. Até que se percebeu, com Madeira ou sem Madeira, Rio não chegaria lá e Montenegro ganhava, pelo menos, a oportunidade de ir à desforra.

Luís Montenegro a dirigir-se para o púlpito para discursar depois dos resultados oficiais terem sido divulgados

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

Montenegro não quis correr riscos e avisou que só falava quando houvesse resultados eleitorais, o que atirou o discurso para lá da meia-noite, já depois da Jurisdição, pela voz do presidente Nunes Liberato, lançar os números finais. E não foram bons para Montenegro. Isso já sabia quando subiu ao palanque para falar durante menos de cinco minutos. O candidato gizou um discurso curto que é uma estratégia para a segunda volta.

Ao contrário do que estava previsto, Luís Montenegro acabou por não responder a qualquer pergunta dos jornalistas

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

Retirou, desde logo, o irritante de voltar a falar das quotas e centrou-se no pragmatismo. Ele que elegeu Costa como seu principal adversário e que tanto criticou o secretário-geral do PS por não reconhecer que ficou em segundo em 2015, não resistiu a somar quem perdeu a primeira volta para passar a imagem de uma maioria anti-Rio. “Hoje, foram mais os militantes que votaram na mudança do que os militantes que votaram na continuidade. E é por isso que teremos uma segunda volta“, destacou Montenegro.

A realpolitik de Montenegro para a semana passa por uma estratégia que já era esperada, mas que teve de reforçar: piscar o olho ao eleitorado de Miguel Pinto Luz. E começou pelos elogios. Pinto Luz, diz Montenegro, “deu um contributo muito positivo para esta eleição, pela sua qualidade política, pela suas ideias, pela sua participação neste debate.” E convidou-o para o seu lado: “Se eu for eu for eleito presidente do PSD contarei com ele para os desafios políticos e partidários que teremos de enfrentar”.

Matemática difícil para Montenegro: a complicada regra de 3 simples (candidatos)

Montenegro não optou, para já, por concretizar de que forma conta com Pinto Luz para esses desafios, nem se formalizará algum convite em breve. Na matemática pura, seria simples, já que o 2º + o 3º tiveram mais votos que o primeiro, ou não fosse essa a condição de haver segunda volta. Montenegro e Pinto Luz juntos tiveram 15.926 votos e Rui Rio, sozinho, 15.460. Menos 466 votos. É a tal maioria que optou por outra escolha que não Rio, que está nas contas de mercearia de Montenegro.

Total nacional

Mas a política não é necessariamente uma ciência como a matemática. Nem sempre 1+1 é igual a 2 e mais: na verdade, Montenegro teve menos 2421 votos que Rio e isso é muito para recuperar numa semana. Além disso, o próprio Pinto Luz avisou que não ia apoiar ninguém na segunda volta se ficasse em terceiro e há militantes (José Eduardo Martins, por exemplo) que já disseram que não vão votar na segunda volta porque nenhuma das escolhas o satisfaz. Fontes da candidatura de Pinto Luz admitiram ao Observador que para a segunda semana, e para outro candidato, a capacidade de mobilização era muito menor. Tudo isso joga contra Montenegro.

Olhando para os distritos onde Miguel Pinto Luz ganhou (Lisboa Área Metropolitana e Setúbal), Montenegro pode ter ambições de vencê-los, mas mesmo assim, a votação de Rio foi tão expressiva que pode ser curto. Em Setúbal, Pinto Luz ganhou, mas o distrito partiu-se em três e o atual líder não ficou longe dos da frente. Além disso, tirando brancos e nulos, votaram 829 militantes. Para se ter uma ideia: só na concelhia de Vila Nova de Famalicão, Montenegro teve mais votos (913) do que houve votantes em todo o distrito de Setúbal.

Resultados em Setúbal

Outro distrito conquistado por Pinto Luz e onde Luís Montenegro deve querer investir é Lisboa Área Metropolitana, a segunda maior distrital do país.  Os votos da Amadora ficaram de fora e, por isso, podem contar. Montenegro ficou em segundo e a menos de 200 votos de Pinto Luz, mas Rio ficou a menos de 150 votos de Montenegro. Claro que arrecadar os 1471 votos de Pinto Luz eram uma grande ajuda para uma reviravolta, mas ainda assim era preciso mais mil votos noutros pontos do país. E a manta é curta.

Resultados em Lisboa Área Metropolitana

Em concelhias grandes, como Santa Maria da Feira, a margem de crescimento é praticamente nula: Rio leva uma vantagem de 187 votos e Pinto Luz só teve 3.

Resultados em Santa Maria da Feira

No Porto, há margem para crescer, principalmente se alguns dos dirigentes da concelhia do Porto (como Hugo Neto ou Miguel Corte-Real) continuarem a querer castigar Rio pela forma como tratou o Porto nas legislativas. Ainda assim, Pinto Luz só teve 73. Recorde-se: há mais de dois mil votos para recuperar.

Resultados no Porto

Numa visão mais global, Rio leva uma grande vantagem. O atual líder venceu em 12 das 19 distritais do continente (Aveiro, Beja, Bragança, Europa, Évora, Faro, Guarda, Portalegre, Porto, Santarém, Viana do Castelo, Vila Real) e também nos Açores. Luís Montenegro venceu em 6 das 19 distritais (Braga, Castelo Branco, Coimbra, Leiria, Lisboa Área Oeste e Viseu). Todas estas contas fazem antever um cenário muito difícil para Luís Montenegro e um passeio no parque para Rio. Montenegro sabe por isso que está obrigado a arriscar.

Desafio para debate bateu na parede e uma #hastag inspirada em Soares

O candidato percorreu 30 mil quilómetros, mas não conseguiu melhor que o segundo lugar na primeira volta. Na segunda, terá de apostar na margem de crescimento que tem. Os cadernos eleitorais são os mesmos, por isso só tem duas hipóteses: apoiantes de Pinto Luz e quem se absteve na primeira volta.

Luís Montenegro no púlpito da sede da noite eleitoral montada no hotel Epic Sana, em Lisboa

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

Numa tentativa de conquistar novos votos, Luís Montenegro propôs a Rui Rio “pelo menos um” novo debate televisivo: “Quero, finalmente, fazer um convite ao dr. Rui Rio, um convite para que ele aceite, desde já, fazer pelo menos um debate televisivo na próxima semana. Este debate é essencial para ajudar os militantes a tomar a decisão final no próximo dia 18”. E desafiava: “Não podemos fugir à nossa responsabilidade de debater o futuro do PSD e sobretudo o futuro de Portugal. E como fizemos até aqui: de o fazer com elevação e sentido de responsabilidade”. Rio recusou.

Luís Montenegro a discursar na noite da primeira volta das diretas do PSD

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

A candidatura quer falar para quem este sábado ficou em casa. Pedro Pinto, antigo líder da distrital de Lisboa, lembrou esse militantes em declarações ao Observador: “Houve oito mil militantes que não votaram, que podem votar no próximo sábado”. Pedro Pinto garantiu ainda, pelo “conhecimento que tem” da candidatura de Pinto Luz, acreditar que haverá uma “transposição” massiva de votos do vice-presidente da câmara municipal de Cascais para Luís Montenegro.

Outra estratégia de motivação é lembrar o caso Freitas-Soares e apostar na novidade: “É a primeira vez que haverá uma segunda volta no PSD“, por isso ninguém sabe como reagem os eleitores. Pedro Pinto lembrou, em declarações ao Observador, que já houve, no país, candidatos que estiveram perto da maioria à primeira volta e perderam à segunda, numa alusão às Presidenciais de 1986. O antigo vice-presidente da bancada do PSD, Luís Menezes, até criou uma hashtag inspirada na vitória de Soares sobre Freitas, depois deste ter vencido de forma destacada a primeira volta.

Coerência: o discurso contra o PS continua lá

Apesar do risco, há coisas que não vão mudar. Do ponto de vista do discurso, Luís Montenegro deu pistas de que não está disposto a abandonar a ideia de que, com ele, o PSD terá uma oposição mais forte e mais alternativa ao PS. Insiste, por isso, na “clarificação” e repete: “O meu verdadeiro adversário é António Costa e o Partido Socialista”. E divide a escolha da segunda volta em duas ideias do que deve ser o PSD: “Esta semana de campanha que agora se inicia servirá para que os militantes do PSD escolham entre a estratégia de oposição firme que defendo como ponto de partida para construirmos uma alternativa forte, credível e mobilizadora no país face ao PS ou prosseguimento da estratégia de subalternidade que tivemos com a atual liderança até agora”.

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