823kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

GettyImages-1267877034
i

Coca-Cola Zero é um dos produtos que contêm aspartame. A PepsiCo removeu-o dos seus produtos, voltou a introduzi-lo, e retirou-o novamente em 2020

PA Images via Getty Images

Coca-Cola Zero é um dos produtos que contêm aspartame. A PepsiCo removeu-o dos seus produtos, voltou a introduzi-lo, e retirou-o novamente em 2020

PA Images via Getty Images

Aspartame "possivelmente cancerígeno". 13 pontos para perceber o que se passa com o E951, o adoçante das bebidas dietéticas

O aspartame, criado em 1965, é usado para substituir o açúcar comum e é cerca de 200 vezes mais doce. OMS prepara-se para classificá-lo como "possivelmente cancerígeno".

    Índice

    Índice

A história começa em 1965 com James M. Schlatter a lamber os dedos. O químico norte-americano, hoje com 81 anos, tentava descobrir um medicamento para as úlceras. Só que a mistura que tinha preparado, e da qual tinham ficado resquícios nos seus dedos, era doce. Extremamente doce, quase 200 vezes mais doce que o açúcar. Foi assim, há 58 anos, que nasceu o aspartame, a substância que o fabricante que utilizava o químico, a G.D. Searle — hoje, uma subsidiária da farmacêutica Pfizer —, lançou no mercado.

Desde os primeiros dias, numa altura em que a sacarina era o principal substituto do açúcar, que o aspartame esteve envolvido em diversas polémicas sobre a segurança do seu consumo. Ao longo dos anos, muitos estudos foram feitos e o seu uso é autorizado apenas em alguns alimentos e em determinadas condições. A temperatura, por exemplo, afeta a estabilidade da substância adoçante.

OMS. Adoçante artificial Aspartame será declarado possivelmente cancerígeno em julho

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nos últimos dias, o edulcorante voltou a estar na berlinda. Esta sexta-feira, 14 de julho, a Organização Mundial de Saúde vai revelar as conclusões de novas avaliações sobre os riscos e perigos de consumir esta substância. Segundo revelou a agência Reuters, o aspartame será classificado como “possivelmente cancerígeno” pela Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC), o segundo nível mais baixo na avaliação de carcinogenicidade. Inferior a ele encontra-se apenas o nível zero, quando não há evidência de poder causar cancro.

Na prática, mesmo com a nova classificação, pouco (ou nada) muda. Será necessário que as agências de segurança alimentar tomem decisões de rever a dose diária recomendada de aspartame para influenciar a quantidade usada nos alimentos. Mas, mesmo que as doses sejam revistas, não é certo que as companhias venham a introduzir alterações nos seus produtos, já que a quantidade usada para adoçar, por exemplo, uma lata de refrigerante está muito longe do limite diário aceitável. Em contrapartida, poderá deixar os consumidores mais atentos ao consumo desta substância que, ainda assim, será menos cancerígena do que fumar, ingerir bebidas alcoólicas, comer carne vermelha ou trabalhar por turnos noturnos.  

O que é o aspartame?

O aspartame é um edulcorante (ou adoçante). É considerado um aditivo alimentar e é usado em vários tipos de alimentos e bebidas para lhes dar um toque doce sem recorrer ao uso do açúcar comum, a sacarose. É muito usado em refrigerantes diet devido ao seu baixo valor calórico.

Segundo a nomenclatura europeia, seguida por Portugal, o aspartame (ou aspartamo) corresponde ao edulcorante E951.

Fact Check. O Aspartame é um veneno comercializado livremente?

Quando e como foi criado?

Foi um químico norte-americano que descobriu o aspartame por acaso. Em 1965, James M. Schlatter tentava criar um medicamento para as úlceras, mas apercebeu-se de que a substância que tinha desenvolvido era doce quando, por mero acaso, levou os dedos à boca (que tinham vestígios do composto). “Lambi os dedos e soube-me bem”, recordaria o químico, hoje com 81 anos.

Na altura, Schlatter trabalhava para a G.D. Searle — atualmente subsidiária da farmacêutica Pfizer — e foi a empresa que, em 1973, depois de testar a substância, pediu autorização para usá-la em alimentos. A Food and Drug Administration, a responsável pela segurança alimentar nos Estados Unidos, deu luz verde à sua comercialização em 1974.

Em termos históricos, o aspartame surge numa altura em que a sacarina era o adoçante mais usado do mercado, havendo uma grande procura por alternativas ao açúcar que fossem pouco calóricas.

Para que serve?

O aspartame é entre 180 a 200 vezes mais doce do que o açúcar comum. Assim, são necessárias quantidades muito pequenas para substituir a sacarose. É usado como adoçante em alimentos, bebidas e medicamentos.

Que tipos de produtos utilizam o aspartame?

O adoçante está em quase todo o lado, desde alimentos processados a bebidas dietéticas, passando por medicamentos, vitaminas e pastilhas para a tosse. É usado em gomas, pastilhas elásticas, gelatinas e pudins. Algumas sobremesas congeladas também usam o aspartame. Os números globais apontam para o seu uso em mais de seis mil produtos.

Além disso, encontra-se em adoçantes de mesa comercializados por marcas como a Canderel, as Hermesetas ou a NutraSweet.

O seu consumo prejudica a saúde?

Embora seja o adoçante mais usado nos Estados Unidos, e um dos produtos mais investigados e analisados, o aspartame tem estado envolto em controvérsias desde o seu aparecimento. Desde logo, surgiram questões sobre a aprovação da Food and Drug Administration (FDA) e surgiram rumores da ligação entre o consumo do edulcorante com cancros cerebrais e outro tipo de doenças.

No entanto, até à data, e embora muitas companhias tenham decidido retirar o aspartame dos seus produtos devido à pressão dos consumidores, não há provas científicas suficientes de que o adoçante possa fazer mal à saúde, desde que usado dentro das quantidades recomendadas. Em excesso, a sua segurança deixa de estar assegurada.

Mas estamos a falar de que quantidades? Por exemplo, quantas latas de refrigerante?

As quantidades consideradas seguras são diferentes na Europa e nos Estados Unidos. Entre os países europeus segue-se a regra de 40 miligramas por cada quilo de peso. Para os norte-americanos, o teto é de 50 miligramas. Num adulto de 60 quilos, por exemplo, a quantidade segura é de 2,4 gramas diárias, segundo os parâmetros da Europa (3 gramas nos Estados Unidos).

A Coca-Cola Zero tem 24 miligramas por cada 200 mililitros de bebida (o equivalente a um copo), o que significa que seria preciso beber 101 copos num dia, e todos os dias, para ultrapassar a dose segura de aspartame. Se o peso corporal for superior a 60 quilos, a quantidade tolerada é também maior.

O que diz a Organização Mundial de Saúde?

A última avaliação da OMS foi em 1981. Nessa altura, o consumo do adoçante foi considerado seguro pelo JECFA (Comité Conjunto de Especialistas FAO/OMS em Aditivos Alimentares), desde que dentro de limites diários. As contas das Nações Unidas são iguais às europeias: um máximo de 40 miligramas por quilo de peso (2,4 gramas diários para uma pessoa de 60 quilos).

No entanto, em junho, a OMS publicou diretrizes sobre o consumo de adoçantes em geral, desaconselhando o seu uso para controlo de peso. Na sexta-feira, 14 de julho, o JECFA vai apresentar as suas novas conclusões sobre o aspartame, ao mesmo tempo que serão conhecidas as da Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC).

Isso quer dizer que a sua classificação vai ser revista?

A IARC e o JECFA têm funções diferentes. A Agência Internacional para a Investigação do Cancro analisa se determinado produto tem carcinogenicidade, isto é, se tem propriedades causadoras de cancro num ser humano ou animal que seja exposto à substância. O comité da OMS avalia os riscos do consumo desse produto. Dito de outra forma, a IARC procura perigos, o JECFA avalia riscos.

Em seguida, a Agência Internacional para a Investigação do Cancro classifica o nível de perigo que, no caso do aspartame e segundo a Reuters, será de “possivelmente cancerígeno”.

“Possivelmente cancerígeno” quer dizer exatamente o quê?

A classificação de perigo da IARC tem quatro níveis e organiza-se por níveis de certeza da carcinogenicidade. O risco mais elevado é o do Grupo 1 onde se encontram o consumo de tabaco, a radiação solar, o consumo de bebidas alcoólicas e a radiação ionizante. A classificação é “cancerígeno” e considera-se que existem provas suficientes de que causa cancro em humanos.

Segue-se o Grupo 2A, “provavelmente cancerígeno”, usado quando a informação disponível sobre efeitos no ser humano é limitada, mas suficiente em experiências com animais. Inclui emissões libertadas por fritar a altas temperaturas (entre 170ºC a 190ºC), o pesticida DDT, o consumo de carnes vermelhas e o trabalho realizado em turnos noturnos.

A seguir vem a esperada nova classificação do aspartame. “Possivelmente cancerígeno”, o Grupo 2B, aplica-se quando as provas científicas sobre efeitos em humanos são limitadas e em animais são menos do que suficientes. Na lista estão já os escapes de motores a gasolina, a exposição profissional como bombeiro ou cabeleireiro (quando se podem inalar determinados gases), e o chumbo.

A última classificação, o Grupo 3, é a dos produtos “não classificados como cancerígenos”. Na lista estão já a cafeína, o crude, o mercúrio e o paracetamol e usa-se quando as provas científicas são inadequadas quer para humanos, quer para animais.

E qual é a posição da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos?

Em 2013, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) reviu a sua posição, voltando a avaliar os riscos do consumo do aspartame. Conclusão: é “seguro para consumo humano nos níveis atuais de exposição”, inclusive para crianças e mulheres grávidas. “Todas as informações disponíveis e, após uma análise detalhada, concluíram que a Ingestão Diária Aceitável (IDA) atual de 40 mg/kg de peso corporal/dia é protetora para a população em geral.”

Portanto, o risco potencial de causar danos nos genes e induzir o cancro foi descartado. Além disso, a EFSA concluiu que “o aspartame não prejudica o cérebro, o sistema nervoso, nem afeta o comportamento ou a função cognitiva em crianças ou adultos”. Também não tem “risco para o feto em desenvolvimento decorrente da exposição à fenilalanina derivada do aspartame na ADI atual (com exceção de mulheres que sofrem de fenilcetonúria (PKU)”.

A norte-americana FDA também permite o seu uso?

A posição da Food and Drug Administration (FDA) é semelhante à da agência europeia. “Provas científicas continuaram a apoiar a conclusão da FDA de que o aspartame é seguro para a população em geral quando produzido sob boas práticas de fabrico e usado sob as condições de uso aprovadas”, lê-se no seu site que explica que a FDA reviu mais de 100 estudos para tomar a sua decisão. Por isso, a ingestão diária aceitável estabelecida pela FDA “é considerada segura para consumir todos os dias ao longo da vida de uma pessoa”.

Também sugere que quem sofra do distúrbio genético raro chamado fenilcetonúria (PKU) deve evitar ou restringir o consumo de aspartame.

O que é a fenilcetonúria?

A fenilcetonúria é causada pela falta da enzima necessária para converter a fenilalanina em tirosina. A fenilalanina é um dos dois aminoácidos que compõem o aspartame. Neste caso, é um aminoácido essencial, ou seja, não pode ser sintetizado pelo organismo humano, sendo adquirido através da dieta alimentar. O outro é o ácido aspártico. Este é um aminoácido codificado pelos genes e um dos componentes das proteínas dos seres vivos. O aspartame contém ainda uma pequena quantidade de metanol.

Quem sofre de fenilcetonúria pode acumular fenilalanina no sangue, tóxica em grandes quantidades, com riscos para a saúde física e mental. Pode causar comportamentos agressivos e convulsões, entre outros.

A Coca-Cola ou a Pepsi têm alguma posição sobre o uso do aspartame?

No site português da Coca-Cola há uma referência ao adoçante, onde se defende que é um dos ingredientes alimentares mais utilizados e investigados do mundo. Recorda as posições da FDA e da EFSA que consideram o aspartame seguro, frisando que é permitido em alimentos e bebidas em mais de 100 países.

A PepsiCo tem tido uma relação complicada com o aspartame. Em 2015, retirou-o das suas bebidas, mas devido a queixas sobre o sabor que o novo adoçante usado dava à Diet Pepsi, recomeçou a utilizá-lo no ano seguinte. Em 2020, a PepsiCo mudou de ideias e anunciou que ia deixar de usar aspartame nas suas bebidas consideradas diet, posição que mantém até hoje.

De novo, foram os consumidores que motivaram a mudança. O aspartame foi substituído uma mistura de sucralose e acesulfame de potássio.

 
Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Apoie o jornalismo. Leia sem limites. Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Desde 0,18€/dia
Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Apoie o jornalismo. Leia sem limites. Desde 0,18€/dia
Em tempos de incerteza e mudanças rápidas, é essencial estar bem informado. Não deixe que as notícias passem ao seu lado – assine agora e tenha acesso ilimitado às histórias que moldam o nosso País.
Ver ofertas