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Chega. O vencedor (único), os vencidos e os aliados úteis

Ventura, cada vez mais omnipotente num partido que é só seu, virou a agulha. Montenegro, Albuquerque e Rui Rocha pressionados. A oposição desapareceu. E os aliados úteis têm mais razões para sorrir.

O vencedor

André Ventura

Na convenção do Chega, só houve espaço para um vencedor. Antes deste fim de semana, André Ventura desarmou os críticos e acabou com a eleição de delegados pelo método de Hondt: recorrendo ao sistema maioritário, pode controlar quem entrava para dentro e quem ficava lá fora, fazendo com que nesta convenção não se ouvisse uma única crítica, fosse feroz ou respeitosa, fosse formal ou substancial. E, durante este fim de semana, controlou quem subia ao palco para discursar e que moções temáticas eram apresentadas, evitando assim embaraços. Sem qualquer anúncio prévio, André Ventura começou um movimento de transformação que pretende levar o Chega de partido radical para partido institucional. Antes, queria derrubar o sistema; agora, quer integrar o governo. Obviamente, há aqui uma enorme contradição — mas, na convenção do Chega, ou não perceberam ou não quiseram perceber. Para o partido, se André Ventura quer, André Ventura tem.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Os vencidos

Luís Montenegro

O líder do PSD acaba este fim de semana com menos uma solução de governo nas mãos. Na sexta-feira, Luís Montenegro tinha a hipótese de, a seguir às legislativas, ensaiar alguma forma de apoio parlamentar, declarada ou velada, que envolvesse o Chega; neste domingo, essa hipótese desapareceu. Na convenção, André Ventura e os restantes dirigentes do partido deixaram muito claro que só apoiarão uma futura solução de governo à direita se estiverem confortavelmente sentados no Conselho de Ministros. Isto aumenta a pressão do movimento de pinça que existe sobre o PSD: de um lado, como vimos neste fim de semana, o Chega aumenta as exigências; do outro lado, como vimos no fim de semana anterior, a Iniciativa Liberal recusa qualquer proximidade, grande ou pequena, com André Ventura. Sendo assim, Luís Montenegro fica sem margem de manobra e totalmente refém da aritmética: tem de ganhar sozinho ou com apenas um deles.

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CONGRESSO PSD: Terceiro e último dia do 40º Congresso Nacional do Partido Social Democrata (PSD), no Pavilhão Rosa Mota, no Porto. Discurso final de Luís Montenegro, líder do partido. 3 de Julho de 2022 Pavilhão Rosa Mota, Porto TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Rui Rocha

A pedra de toque do discurso do novo líder da Iniciativa Liberal é a recusa determinada de qualquer entendimento, direto ou indireto, com o Chega. A estratégia é relativamente simples e já foi explicada várias vezes, até por gente ligada ao PSD: depois das legislativas, e se os astros se alinharem, sociais-democratas e liberais farão o seu acordo e André Ventura terá de decidir se permite à direita governar ou se perpetua o PS no poder. As contas são simpáticas, mas, acreditando nas palavras de André Ventura e demais destacados dirigentes do partidos, têm um problema: são impossíveis. Rui Rocha teve o mérito de dizer exatamente ao que vem — ao contrário de Montenegro. Mas, a menos que no futuro esteja disposto a engolir um gigantesco sapo, arrisca-se a ficar de fora da próxima solução política. Pior: nesta convenção, quando não foi olimpicamente ignorada, a Iniciativa Liberal foi ridicularizada. E se Rui Rocha saiu da sua reunião magna com um partido dividido em dois, Ventura saiu mais reforçado do que nunca. Os dois partidos estão em ciclos políticos muito diferentes.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Miguel Albuquerque

Nas últimas eleições da Madeira, e de forma histórica, os sociais-democratas perderam a maioria absoluta e tiveram de se voltar para o CDS. Depois de mais de 40 anos no poder, o PSD tem agora um novo desafio pela frente: impedir que o Chega cresça de tal forma que se torne inevitável para as contas de governação. Ora, olhando para o que tem acontecido no continente — e para o que aconteceu nos Açores –, as perspetivas não são as mais animadoras para Miguel Albuquerque. Se o que foi dito durante estes três dias for para ser levado a sério, o Chega venderá caro o seu apoio e não repetirá uma solução idêntica à dos Açores. “Vamos fazer tudo para sermos governo na Madeira já nas próximas eleições”, sintetizou Ventura, no seu discurso de encerramento. Os ecos do que iam sendo dito em Santarém chegaram à Madeira e Albuquerque resumiu tudo a uma espécie de excitação juvenil, desvalorizando a ameaça. No futuro, o líder do Governo Regional da Madeira poderá ter de acolher em casa um adolescente problemático. Pior: se tiver que apadrinhar o Chega, Albuquerque vai contribuir para um enorme embaraço político para o PSD nacional.

CONGRESSO PSD: Intervenção de Miguel Albuquerque, presidente do governo regional da Madeira e mandatário de Luís Montenegro, no 40º Congresso Nacional do Partido Social Democrata (PSD), no Pavilhão Rosa Mota, no Porto. 2 de Julho de 2022 Pavilhão Rosa Mota, Porto TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Nuno Afonso

Era o grande rosto da oposição a interna a André Ventura, alimentou durante meses e semanas o tabu sobre se candidataria contra o líder do partido e acabou da pior forma: não só não foi a votos, como faltou à reunião magna e revelou, em entrevista ao Observador, que se ia desfiliar do Chega. Ora, além de uns ataques indiretas a Nuno Afonso (“um homem baixo, por muito que salte, nunca será alto”), umas referências vagas à oposição interna e uns quantos apelos à união, o ainda militante número 2 do partido e antigo braço direito de  André Ventura foi completamente ignorado nestes três dias. Não foi sequer nomeado nestes três. Está proscrito e o partido tratou como tal.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Gabriel Mithá Ribeiro

A ascensão de Gabriel Mithá Ribeiro no Chega foi rápida: de simpatizante a militante; de militante a guru; de guru a deputado. A queda também: primeiro foi afastado da liderança do grupo de estudos do partido, depois afastou-se da direção, abandonando o cargo de vice-presidente. Nesta convenção, voltou aos seus temas de estimação, denunciando aquilo que diz ser “uma névoa tóxica que todos os dias invade a nossa alma e que é a ditadura mental de esquerda”. No púlpito, elogiou André Ventura, cumprimentou André Ventura e falou tendo a poucos metros de si André Ventura — mas não parece que André Ventura o tenha ouvido.

5ª CONVENÇÃO NACIONAL DO CHEGA: Segundo dia de congresso do partido CHEGA. Intervenção da deputada, Rita Matias. 28 de Janeiro de 2022 CNEMA, Santarem TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Os aliados úteis

António Costa

Mesmo quando não tem propostas ou argumentos, António Costa tem sempre André Ventura. Para o líder socialista, entre o PS e o Chega só existem cúmplices ou vítimas: umas vezes, Costa defende que o PSD e a IL querem entregar o país à extrema-direita e ao fascismo; outras vezes, Costa defende que o PSD e a IL estão a ser devorados pela extrema-direita e pelo fascismo. O PS está convencido de que ganhou esta maioria absoluta, em grande parte, por causa do medo que o eleitorado sentiu de uma aliança pós-eleitoral entre PSD e Chega. Por isso, a próxima campanha, já este ano na Madeira, seguirá o mesmo guião. E a campanha para as legislativas, aconteça daqui a quatro anos ou antes, também. Com uma sondagem a dar ao Chega metade dos votos do PSD e com Ventura a exigir entrar no governo, o PS conseguiu fazer linha e bingo na convenção deste fim de semana: a força de Ventura é a fraqueza de Montenegro; a fraqueza de Montenegro é a força de Costa.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Augusto Santos Silva

As nunca desmentidas ambições presidenciais de Augusto Santos Silva dependem, em grande parte, da capacidade de seduzir e agregar também o eleitorado à esquerda do PS. Neste cenário, André Ventura e o presidente da Assembleia da República têm uma relação simbiótica particular: quanto mais vezes se confrontarem, mais popularidade ganharão um e outro. Durante esta convenção, de cada vez que o nome do socialista era dito, os militantes do Chega levantavam-se como se tivessem molas. Se tiver acompanhado a reunião em casa, Santos Silva seria certamente um homem muito satisfeito com o efeito que consegue provocar junto da direita radical. Uma mão lava a outra, portanto.

O Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, fala à imprensa após a reunião por videoconferência com o presidente do parlamento ucraniano, Ruslan Stefanchuk, na Assembleia em Lisboa, 18 de maio de 2022. TIAGO PETINGA/LUSA

TIAGO PETINGA/LUSA

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