[atualizado a 4 de junho de 2020]

Quando atingimos o pico? Como vai fluir a nossa curva? Como nos comparamos com os casos piores? E com os melhores? Há várias leituras que ajudam a perceber como Portugal está a enfrentar a pandemia do novo coronavírus e a fazer previsões para os próximos meses.

De acordo com o Governo, Portugal é atualmente um dos países que mais testa, se tivermos em conta o número de testes por milhão de habitantes. Mas há uma particular dificuldade em comparar a capacidade de testagem de forma equilibrada, porque há diferenças substanciais entre os dados disponibilizados por cada país — alguns, como Portugal, disponibilizam o total de “amostras” analisadas. Outros, como Suécia, Coreia do Sul e Grécia, apresentam o número de pessoas testadas.

Na conferência de imprensa de 8 de maio, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, afirmou que “ainda não é possível saber o número de pessoas rastreadas”, sublinhando que “muitas pessoas fizeram mais do que um teste”. Acrescentou que esse valor só será conhecido “num momento posterior” e que “vai exigir o cruzamento de várias fontes de informação”.

Os dados variam também, de país para país, na frequência com que são atualizados e na forma como são centralizados a partir dos laboratórios nacionais.

Entre os países incluídos neste gráfico estão exemplos com políticas distintas na forma de lidar com a epidemia. A Suécia, por exemplo, manteve escolas a funcionar, fronteiras abertas e esplanadas cheias. Tem uma população semelhante à portuguesa, um número aproximado de casos, mas mais de 4 mil mortos — e mais de 400 mortos por milhão de habitantes. Também o Reino Unido começou por seguir uma política menos restritiva, mas depois mudou de estratégia.

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De acordo com os dados disponíveis, Portugal, Espanha, Itália e Reino Unido estão entre os países europeus que mais testes fazem. Nos dados absolutos, a barra dos Estados Unidos dispara — o que é natural, tendo em conta o volume de população —, mas baixa quase para o meio da tabela se tivermos em conta a proporção por milhão de habitantes.

Já a Grécia, tem uma população semelhante à portuguesa mas apresenta números bem inferiores de progressão da epidemia: tem menos de 3 mil casos confirmados e ainda não ultrapassou a fasquia de 200 mortos. O número de testes é aparentemente muito inferior ao da maioria dos países comparados no gráfico acima, mas é importante sublinhar que Atenas apresenta dados de pessoas testadas — e não de amostras, como Portugal.

Acrescentámos ainda a Coreia do Sul a esta comparação, porque o país asiático chegou a ser apontado como exemplo no combate à pandemia — também pela política de testes extremamente bem oleada que desde cedo implementou.

Os gráficos que mostram a evolução do surto, o risco por concelho, as previsões e os impactos na economia

Portugal é 28º no mundo e o 10º na Europa

Mais de dois meses depois de ter sido detetado o primeiro caso de Covid-19, Portugal é o 28º país com mais infetados a nível mundial e o 10º na Europa, excluindo a Rússia na contagem. Portugal tem mantido a sua posição relativa no ranking europeu, mas está a cair na lista de países com mais infetados e mortos, tendo sido utrapassado por países da América Latina, como o Peru, Equador e México e mais recentemente a Suécia, cuja abordagem à pandemia não é consensual.

Os Estados Unidos continuam à frente destacados no mapa do Covid, seguidos do Brasil que ultrapassou já a Rússia. O Reino Unido é o país europeu com mais infetados e mortos, tendo ultrapassado a Espanha e a Itália nestes dois indicadores. Entre os países onde o contágio está a crescer mais contam-se a Turquia, a Índia, o Peru, o México, a Arábia Saudita, o Paquistão, o Chile, o Canadá, o Qatar, a Bielorússia e o Bangladesh. Há agora 13 países com mais infetados do que a China que é a origem do surto.

No início do surto, Portugal começou por mostrar um aumento percentual diário de novos casos abaixo dos crescimentos mais acentuados esperados inicialmente pelas autoridades, mas ainda assim entre as maiores subidas percentuais a nível europeu. Mas na segunda semana de abril, o surgimento de novos casos diários travou, primeiro para a casa dos 10%, ou menos, e depois aumento de infetados ficou abaixo dos 5% e agora que o país tem mais de 20 mil infetados, tem sido inferior a 1%. Estes resultados acontecem ao mesmo tempo que Portugal é um dos países que mais testes faz por milhão de habitante.

Curva epidémicas e dados por milhão de habitantes

A curva epidémica de Portugal permitiu perceber desde cedo uma clara distância em relação à de outros países que têm evoluções mais preocupantes — como França, Itália, Espanha e, sobretudo, Estados Unidos. Os dados estão contabilizados a partir do momento em que cada um destes países ultrapassou a barreira de 100 casos.

Dos cinco comparados, Itália é o que enfrenta o problema há mais tempo — ultrapassou os 100 casos há mais de 100 dias (19 dias antes de Portugal).

Se tivermos em conta a população destes cinco países, os dados mostram outras diferenças. Por exemplo: os EUA ultrapassaram os 100 casos na mesma data que Espanha, a 2 de Março, mas têm menos casos e muito menos mortos por milhão de habitantes do que os nossos vizinhos.

[Use as setas no topo do gráfico para perceber a diferença entre números totais e casos por milhão de habitantes:]

As linhas verdes nos gráficos de Costa à entrada na última fase do desconfinamento e o 4.º lugar de Portugal na testagem

Quando o Observador começou a compilar estes dados, Portugal estava em 21º lugar a nível mundial e existiam 15 países europeus com o maior número de casos. Mas depois das subidas percentuais diárias — primeiro na casa dos 30% e agora mais estabilizado nos 20% —, somos o 10º país europeu com mais casos de infeção, tendo ultrapassado a Suécia, a Noruega, a Dinamarca, a Grécia e a República Checa.

Todos estes países registaram o primeiro caso antes de Portugal, com uma diferença de dois dias a uma semana, mas o crescimento da epidemia tem sido mais lento, mesmo nos casos da Suécia, República Checa e Grécia, que têm um nível de população comparável com o de Portugal, na casa dos 10 milhões de habitantes.

Os países da Escandinávia têm aliás revelado uma expansão da pandemia muito mais limitada do que o Sul da Europa — mesmo a Suécia, onde as medidas de contenção estão entre as mais leves. Também a Grécia, cuja população tem uma estrutura etária mais próxima de Portugal, apresenta uma trajetória muito limitada no número de infetados. É claro que a abrangência de realização de testes é um fator fundamental para perceber o racional destes números, porque os casos podem existir, mas não estarem identificados. E os dados disponíveis para a Escandinávia e Grécia mostram que estes países estão a fazer menos testes que Portugal. A isto soma-se a rapidez com que se adotaram medidas de contenção e a sua eficácia.

Novos casos. Como se compara Portugal com outros países em desconfinamento

Por outro lado, a proximidade geográfica e as relações transfronteiriças mais intensas (pessoas que vivem num país, por exemplo, e que trabalham noutro) mostram ser também fatores que contam para o ritmo de crescimento da pandemia. Suíça e Áustria, que fazem fronteira com a zona mais atingida de Itália — o Norte — estão entre os países da Europa com mais casos. Portugal tem fronteira com um dos países mais atingidos, mas as ligações familiares e profissionais não são tão intensas.

As autoridades portuguesas, bem como o barómetro da Escola de Saúde Pública, têm estado mais focadas nas comparações com os países onde o surto está mais avançado, em particular Espanha e Itália.