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2023 foi "um ano feliz", define a atriz Soraia Tavares, que somou conquistas profissionais e pessoais
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2023 foi "um ano feliz", define a atriz Soraia Tavares, que somou conquistas profissionais e pessoais

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

2023 foi "um ano feliz", define a atriz Soraia Tavares, que somou conquistas profissionais e pessoais

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

"Estou a conseguir ver as minhas conquistas": a revelação de Soraia Tavares

No Teatro da Trindade, em Lisboa, protagoniza a versão musical de “Sonho de Uma Noite de Verão”, de Shakespeare, encenada por Diogo Infante. Em entrevista, a atriz fala do culminar de um “ano feliz”.

O reboliço das noites contrasta com a calmaria das manhãs no Teatro da Trindade, em Lisboa. No camarim, Soraia Tavares, 29 anos, sente-se em casa. “Fiz muitos espetáculos infantis, antes do Chicago. Conheço bem a equipa técnica. Dos teatros todos em Portugal é este que posso dizer que é uma segunda casa.”

Não é de estranhar que Chicago surja aos primeiros dedos de conversa. Afinal, foi o espetáculo que atirou a “pequena Soraia” (como é nas redes sociais conhecida) para o grande palco, depois de um processo digno de cinema: estava a fazer a audição para o ensemble quando Diogo Infante a notou e lhe perguntou se não queria fazer o casting para uma das protagonistas. Era 2019 e Soraia Tavares tinha o seu primeiro close-up, depois de anos de dobragens, novelas e concursos televisivos.

A história da atriz, nascida a 13 de junho de 1994, tem feito as delícias dos programas de daytime. O percurso de alguém que veio de um meio desfavorecido e venceu continua a ser motivo de inspiração. “Nunca tive a consciência de que era pobre”, contou no sofá de Júlia. “Morávamos em Queijas, num bairro de lata, e lembro-me quando mudámos para um bairro social, em que tínhamos quatro quartos, de achar que era rica”.

Com o apoio incondicional da mãe (a quem um dia viria a dedicar uma música, Dona Joana, uma homenagem às mães que tudo sacrificam em prol de uma vida melhor para os filhos), Soraia acabaria por fazer testes para a Escola Profissional de Teatro de Cascais, apaixonar-se pela arte de representar e seguir para o Conservatório. A sua voz destacou-se sempre e revelou-se ao país em 2015, na terceira edição do programa The Voice. A interpretação de I Dreamed A Dream, do musical de 1980, Les Misérables, foi o só o início do sonho.

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O Teatro da Trindade, em Lisboa, é uma casa que Soraia Tavares conhece bem. Nesta peça, partilha o camarim com a atriz Sara Matos

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Sentada diante do espelho do camarim, com o cabelo preso numa trança perfeita e um sorriso inabalável, Soraia admite com franqueza: “Estou um bocadinho cansada”. Acabara de gravar uma série quando começou os ensaios para um dos grandes destaques da rentrée teatral: a versão musical de Sonho de Uma Noite de Verão, comédia de William Shakespeare que está em cena a partir desta quinta-feira, 21 de setembro, até 26 de novembro, no teatro lisboeta.

“Todos os projetos têm uma motivação diferente”, explica ao Observador. “Pode ser os colegas, a realização, o texto ou até o dinheiro. Podemos só precisar do dinheiro para pagar as contas. Aqui, por exemplo, é um textaço de Shakespeare, com um elenco incrível, dirigido pelo Diogo Infante, no Teatro da Trindade. Há várias coisas aqui que falam. Antes do dinheiro está essa motivação.”

Desta vez não foi preciso casting. Foi-lhe estendido o papel pelo diretor artístico do teatro, que assina a encenação da peça a partir da tradução de Augusto Sobral, criando uma abordagem musical ao clássico do dramaturgo inglês, com direito a temas do cancioneiro português que versam sobre amor, magia e sonho. Canções das Doce, de José Cid, Carolina Deslandes ou Rui Veloso servem a narrativa com humor.

Com figurino de Dino Alves, Soraia Tavares veste a pele de Titânia, rainha das fadas

ALIPIO PADILHA

Sobre a mesa, ao lado da maquilhagem, o texto denuncia-a pelos post-its e anotações. Divide-o entre cenas, as personagens marca-as com cores. “Estas verdes são da Hipólita, as rosas são da Titânia”, aponta. As canções que canta enquanto solista estão a azul. “Quando comecei, enquanto atriz, anotava tudo, tudo, tudo, e cada vez venho a anotar menos”, diz. “Ela aqui sente-se X e aqui sente-se… Cada vez tenho feito menos isso porque gosto também de o poder descobrir em cena, de não fechar todas as possibilidades. Antes fechava. Percebi que só tenho que saber a intenção que o encenador procura, mas depois há todo um leque de possibilidades no palco.” Haja espontaneidade na intenção, que no texto as deixas querem-se memorizadas. “Não sou má [a memorizar], mas não gosto. Custa-me muito. Normalmente vou andar e levo o texto na mão e dou caminhadas e caminhadas. É a única forma de me conseguir concentrar completamente nisto de decorar. Claro que pareço uma maluca na rua…”

Num dia normal, Soraia Tavares chega ao teatro por volta das quatro da tarde para ensaios que duram até às onze da noite. “Tenho tentado não ter muitas dobragens, não tenho aceitado tantas novas. Só faço aquelas que já estavam [combinadas], para conseguir gerir também a voz.” Mas não é raro vê-la correr dos estúdios de dobragens para o Chiado.

"Parecia que tinha que sofrer para chegar aos sítios onde queria estar. Tinha isso como regra. Acho que me boicotava nos processos. Tenho conseguido ter uma relação com o palco mais saudável, estar no trabalho sendo eu. Levava-me demasiado a sério.”

“[O teatro] é uma coisa que é muito exigente, mas é onde me sinto mais confortável”, reconhece. “Sou mais confiante enquanto artista quando estou em cima do palco.” Com 29 anos, é a mais nova do elenco e sabe que ainda há coisas a limar. “Ainda estou a conquistar esta personagem. Enquanto há jogo é para jogar. Mesmo depois da estreia diria que vou encontrar imensas coisinhas que me vão ajudar a construir esta carreira de espetáculos enquanto Titânia. Mas acho que foi dos processos mais saudáveis que tive [ri-se].” O que mudou?, perguntamos-lhe. “A minha forma de estar. Sinto-me mais segura, mais tranquila com aquilo que sou, com aquilo que faço também e com as minhas decisões”, contesta. “Não estou sempre a martirizar-me. Sou sempre muito exigente. Não estou a dizer que não era feliz nas coisas que fazia, mas parecia que tinha que sofrer para chegar aos sítios onde queria estar. Tinha isso como regra. Acho que me boicotava nos processos. Tenho conseguido ter uma relação com o palco mais saudável, estar no trabalho sendo eu. Levava-me demasiado a sério.”

Durante muito tempo, Soraia Tavares debateu-se com a questão “sou atriz ou sou cantora?”, resultado, por um lado, de uma categorização que a reduzia a papéis que exigissem talento vocal e, por outro, de uma rápida conquista do mercado do teatro musical português, que se concentra essencialmente no teatro infantil e de revista. “Não posso dizer que [a questão] está completamente resolvida, mas agora vejo-me como uma artista”, dispara. Em maio, instigada pelo agente, lançou o seu primeiro álbum de originais, A Culpa é Da Lua, uma viagem entre o português e o crioulo que começa com Nha História. “Cantar, lançar o meu álbum, ajudou-me imenso a unificar-me enquanto artista. Percebi quando fiz o meu primeiro concerto que utilizei todas as minhas ferramentas enquanto atriz. Foi aí que comecei a perceber realmente a minha forma de estar enquanto uma pessoa artista. Sou uma pessoa só. Estou a chegar a essa conclusão e a estar em paz com isso.”

A atriz contracena com o ator Miguel Raposo, com quem compõe o par romântico no centro da comédia shakesperiana

ALIPIO PADILHA

Não se pense que pelo meio não encontrou desafios e frustrações. Foi o caso de Sodade, a série sobre a cantora cabo-verdiana Cesária Évora para a qual a atriz se preparou durante meses. “Não chegámos sequer a começar a rodar”, lamenta sobre o projeto que lhe exigiu um “enorme” investimento pessoal. Aprendeu crioulo cabo-verdiano, engordou, viajou, estudou. No fim, a produção da Lanterna Filmes, do realizador Hugo Diogo, “não aconteceu”. “Foi um grande desastre para mim, preparei-me para fazer aquilo, tive aulas, engordei 10 Kg”.

O tempo trouxe-lhe a reflexão e a capacidade de encontrar um lado bom no infortúnio. Explica: “Foi o projeto Cesária que levou a que a cultura cabo-verdiana entrasse na minha arte. Aquilo ter acontecido também me fez dizer… Fuck it. Porque é que me estou aqui a destruir para poder fazer uma coisa? Foi uma grande ajuda para me sentir bem enquanto artista hoje. Só consigo ver isso com distanciamento. No momento, com o meu corpo completamente transformado… Não me sentia feia nem menos confiante, nada disso, mas não deixei de me transformar e fazer um esforço muito grande. Fazia não sei quantas refeições por dia, ia ao dentista e de repente ele dizia-me que estava com as gengivas muito sensíveis porque tinha mudado a minha alimentação e estava a comer hidratos como nunca comi… Nunca pensei que isso me ia afetar, mas afetou-me muito. Profissionalmente também, estive meses a preparar-me para aquilo e não fiz outros projetos por isso.”

A viagem a Cabo Verde, que fez na preparação para a série, marcou-a profundamente. “Tanto [a nível] pessoal, que até fiquei com vontade de pedir nacionalidade, como profissionalmente.” Nascida em Portugal e descendente de cabo-verdianos, a “pequena Soraia” assume estar cada vez mais ligada às suas raízes enquanto artista. “Enquanto pessoa sempre estive, convivo com a minha família todos os dias e ouço crioulo. Bebo do que culturalmente Cabo Verde é. Agora, na minha arte, naquela que construo, estou ainda mais ligada.”

“Aprendi com a Sara”, canta em crioulo em 28, última canção do álbum A Culpa é Da Lua, em que evoca a cantora Sara Tavares, referência maior com quem partilha a herança cabo-verdiana. “Senti-me mais confiante enquanto artista, enquanto pessoa, enquanto mulher, aos 28 [anos]. Escrevi essa canção e no pré-refrão digo isso: aprendi com elas [além de Sara, menciona Beyoncé no tema] que se quero realmente alguma coisa tenho que ir atrás.” Mulheres negras que lhe mostraram que era possível vingar, tal como espera fazer para as novas gerações — são mais de 140 mil os que a seguem só no Instagram —, ciente da importância da representatividade.

“A menina das barracas tem casa própria”, escreveu na legenda da publicação que fez em julho. “Já estou a viver na minha primeira casa. Viver numa casa que comprei, com todo o meu trabalho e esforço está a ser das maiores sensações da minha vida.”

A atriz entra na quarta temporada da série O Clube, na Opto, a plataforma de streaming da SIC

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Soraia não tem pudor em dizê-lo: 2023 “foi mesmo um ano feliz, isto de viver na minha casa própria, de lançar o meu álbum, de fazer [a voz d’]A Pequena Sereia, de estar aqui no Sonho de Uma Noite de Verão, fazer O Clube. São várias coisas que eu queria muito”. A atriz participou na quarta temporada da série da Opto que chega esta sexta-feira, 22, à plataforma de streaming. “Foi uma série que adorei fazer. Nunca pensei, demorei muito a dizer que sim, por questões de exposição corporal e à vontade com cenas de sexo. E depois diverti-me muito a fazer. Senti-me super bem, segura com a equipa que tinha, que foi realizada pela Patrícia Sequeira e pelo Simão Cayatte. Adorei trabalhar com eles.”

Um dos objetivos para 2024, antecipa, é “começar a trabalhar e estudar um bocadinho a ideia de ir para o Brasil”. “Não ir para sempre, mas ir uma temporada. Fazer um projeto, fazer workshops. Ver um bocadinho o que é que se passa lá. Acho que este é o meu projeto assim a curto prazo.”

E a longo? “Ainda quero muita coisa”, assegura. “Quero imenso fazer um filme com o Timothée Chalamet e com a Zendaya”, diz divertida. De uma coisa tem a certeza: “Sinto-me bastante bem na minha pele, no meu corpo e enquanto artista”. E continua: “Às vezes não conseguimos ver, mas sinto que estou a conseguir ver as minhas conquistas, ver este tempo todo que trabalhei e dizer, fogo, parabéns. É muito difícil fazer esse exercício porque queremos sempre mais, mas é importante pensar: há três anos queria estar aqui e estou. Posso não ter aquilo que quero neste momento, mas tenho aquilo que queria há três anos. Portanto, umas palmadinhas nas costas [gesticula].”

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