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André Brito

André Brito

“Eternamente adolescentes”: os Best Youth não têm pressa

Ao terceiro álbum, "Everywhen", os Best Youth assumiram a produção, esticaram o tempo, encheram-se de leveza e mostraram que, mesmo saindo da zona de conforto, continuam a soar a eles mesmos.

Catarina Salinas (Kate para os amigos) e Ed Rocha Gonçalves gostam de reviver as ilusões e as fantasias do amor de loca juventud. Se o título do tema dos Buena Vista Social Club poderia resumir o que lhes vai na alma juvenil, também é verdade que os Best Youth – cujo nome se confunde com a obra prima de Marco Tullio Giordana, La meglio gioventù (A Melhor Juventude, filme de 2003) – não se querem apenas recostar no divã a despejar memórias como se tudo na sua música funcionasse em flashback.

“O que nos entusiasma é, ao mesmo tempo que estamos a fazer o exercício de olhar para o passado, ver o que é que os nossos parceiros fazem com o formato canção de hoje em dia”, diz Ed Rocha Gonçalves, que recentemente andou fixado em SZA e no trabalho que o produtor Loss Hendrix fez com Good Days. No fundo, o que os move criativamente é a fusão entre a música “que parece muito antiga” com as abordagens técnicas do presente. “Espero que se sinta um bocadinho dessa mistura no nosso disco.”

Não há dúvida de que se sente. Everywhen, álbum que é editado a 19 de janeiro, é uma peça retro que tanto tem de Wham! como de The xx, de Kate Bush e de Billie Eilish. As referências ora se cruzam entre temas, ora se manifestam na mesma canção: é só escutar Ace of Pleasure para sentir uma entrada à Cyndi Lauper (True Colors) que, mais à frente, desagua numa fórmula a la Daft Punk, com a repetição dos versos “I can’t control myself” a lembrar Get Lucky.

[o vídeo de “Back With a Bang”:]

“São todos artistas que apreciamos muito”, confessa Kate, que cresceu a ouvir jazz, folk, blues, mas também a pop dos anos 90 encabeçada por Britney Spears (o bang bang final da faixa Back With a Bang podia muito bem ter sido gravado por Britney). Já Ed era mais virado para os Radiohead e para os The Smashing Pumpkins. Era o tipo que no liceu pegava na guitarra e sacudia acordes para uma roda de amigos, como agora faz em Out of Time, enquanto Salinas canta “Two teenage old souls / Hanging about / Having Fun”. “Olha nós a sermos velhinhos e adolescentes ao mesmo tempo”, riem-se cúmplices.

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Não conseguir não soar a Best Youth

A observação revela a intimidade de quem já se conhece desde o tempo em que o bar Pop, no Porto, fazia sessões de open mic, nas quais Ed e Kate interpretavam versões de divas sem imaginarem que um dia viriam a construir uma sala de ensaios no STOP para dar os primeiros passos enquanto Best Youth. Desde 2011, quando lançaram o EP Winterlies, passando pelos álbuns Highway Moon (2015) e Cherry Domino (2018), que a banda se mantém fiel à sua essência.

“Toda a gente nos diz que não conseguimos não soar a Best Youth, o que é uma coisa boa e má ao mesmo tempo”, observa Ed. Efetivamente, nenhum álbum é disruptivo, muito menos Everywhen. Porém, é nos detalhes que a dupla – que já colaborou com os We Trust no projeto There Must Be a Place, Moullinex e Patrick Wimberly dos Chairlift (este último uma influência clara) – se redescobre, abrindo pequenos portais até então escondidos.

"Everywhen", de um determinado prisma, é uma espécie de lado B de Cherry Domino, disco que o antecede e que, bebendo dos anos 80, tem uma presença mais robusta da pista de dança e de ambientes noturnos: “Durante a pandemia aconteceu uma coisa – a única coisa positiva da pandemia, a meu ver – que foi o termos tempo para pensar”.

As ligeiras dissonâncias harmónicas, as variações nas tessituras de voz de Catarina Salinas – que em temas como o homónimo Everywhen abraça um modo inumano de cantar, como se as suas cordas vocais tivessem sido geradas por inteligência artificial – ou as abordagens mais singelas à guitarra e ao piano são pontas que se vão soltando no decorrer das onze faixas e que desvelam pequenas subtilezas essenciais à compreensão do álbum. “Acho que o disco soa completamente a Best Youth. Aparentemente, parece que não saímos da nossa zona de conforto, mas houve um esforço ativo para procurar timbres novos e formas de tocar diferentes. Ficámos muito satisfeitos com o resultado, porque foi deliberado, mas não drástico.”

A teimosa diluição do tempo

Everywhen, de um determinado prisma, é uma espécie de lado B de Cherry Domino, disco que o antecede e que, bebendo dos anos 80, tem uma presença mais robusta da pista de dança e de ambientes noturnos. O álbum que agora Ed e Kate nos apresentam é notoriamente mais luminoso e leve, como se o peso da gravidade não lhe assistisse. É também um exercício de diluição do tempo, que em parte se explica por ter começado a ser desenhado durante a pandemia, essa época onde “o espaço foi infinito”.

“Durante a pandemia aconteceu uma coisa – a única coisa positiva da pandemia, a meu ver – que foi o termos tempo para pensar.” Trabalhando separadamente numa primeira fase, e a dois num momento posterior, os Best Youth recolheram-se numa “cápsula” e demoraram-se a seu bel prazer, sem ceder ao ritmo acelerado do quotidiano. “Ficámos a marinar o álbum”.

“A cada disco que fazemos estamos à procura de encontrar uma coisa que nos satisfaça a nós. Fazemos o disco, em primeiro lugar, para nós”

Isso resultou numa dissecação exaustiva de cada canção, ao ponto de pegarem em pequenos trechos e experimentarem seis formas de interpretação diferentes de voz, como se Catarina Salinas se pudesse desdobrar em vários alter egos artísticos. Só descansavam quando “aquilo fazia clique”, ou seja, quando olhavam um para o outro e percebiam que tinham limado todas as arestas descabeladas. “Isso é incrível, porque nós às vezes somos muito teimosos”. Perceber que, mesmo com tamanha teimosia, conseguiam construir algo em conjunto que os satisfizesse plenamente, foi das coisas que mais gozo lhes deu neste processo.

“A cada disco que fazemos estamos à procura de encontrar uma coisa que nos satisfaça a nós. Fazemos o disco, em primeiro lugar, para nós”, nota Ed. “Somos muito egoístas neste aspeto”. Em Everywhen, a máxima foi levada à letra, com a dupla a assumir não só a composição, como também a produção. “Vejo a produção como uma segunda composição das canções”, diz Kate. Esta fase, confessa-nos, foi essencial para o álbum crescer e ganhar sentido como um todo. “Este foi o disco em que sentimos que gostávamos de conseguir ver até onde podíamos ir se fossemos só nós [a controlar o processo], para melhor e para pior. Isso foi uma experiência super enriquecedora e deu-nos um boost de autoconfiança, independentemente de as pessoas gostarem ou não.”

Catarina Salinas e Ed Rocha Gonçalves mostram-se mais próximos daquilo que são: uns “eternos adolescentes” para quem reviver memórias e sonoridades antigas é uma necessidade tão grande como a de as recontextualizar aos olhos de quem agora tem 42 e 40 anos respetivamente.

Talvez por isso mesmo, Everywhen acabe por soar ao trabalho mais linear dos Best Youth. A constatação, contudo, não é necessariamente má. É neste registo, com letras a pairar à volta de uma história de amor que não se percebe se é do presente ou do passado – a confusão é propositada e bem-vinda para quem se propôs a jogar com a noção temporal – que Catarina Salinas e Ed Rocha Gonçalves se mostram mais próximos daquilo que eles são: uns “eternos adolescentes” para quem reviver memórias e sonoridades antigas é uma necessidade tão grande como a de as recontextualizar aos olhos de quem agora tem 42 e 40 anos respetivamente.

Tudo poder-se-ia resumir aos versos de Cool Kids, canção em que os Best Youth pedem para regressar ao ano de 1999, com a descontração e a saudade de um Bryan Adams a cantar o seu Summer Of ’69:

“It’s easy when you are 17
Cares we had before
They’re not so innocent anymore
But I can still recall
Days on a whim
Wasting Time
Take me back to 1999
Cool kids always make a scene”

[o vídeo de “Cool Kids”:]

“Por mais idade que vá caindo em cima de nós, vamos ser sempre adolescentes. É uma viagem que gostamos de fazer”, sorri Kate. O público, convocado a entrar nesta viagem, respondeu prontamente: os concertos de Lisboa, no Teatro Maria Matos (23 janeiro) e no Porto, na Casa da Música (31 janeiro), já estão esgotados. Seguem-se o Bang Venue (Torres Vedras, 2 de março), Lustre (9 de março) e Salão Brazil (Coimbra, a 16 do mesmo mês).

Há, porém, duas listening parties que antecedem estas apresentações: a 18 de janeiro na Musa de Marvila, em Lisboa, e a 20 de janeiro no Never Stop Studio, no Porto. Os interessados deverão dizer “presente” no instagram oficial dos Best Youth, que querem receber os fãs e os amigos em clima de celebração neste convívio intimista, onde não faltarão discos à venda e merchandising tão inusitado quanto um par de meias concebido pela banda para a marca Sock Affairs. Fora isso, mais datas serão anunciadas brevemente. “Está toda uma tour a ser planeada”, prometem.

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