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Agnès Varda, Werner Herzog, Aki Kaurismäki, Wang Bing, mas também Leonor Teles, Edgar Pêra ou Maria Mire. Novos cineastas, realizadores consagrados, títulos portugueses e internacionais compõem a programação da 21ª edição do DocLisboa, revelada esta quarta-feira.

O festival de cinema, que acontece entre 19 e 29 de outubro, em Lisboa, propõe nove filmes portugueses na competição nacional (sete em estreia mundial). São eles: Clandestina, de Maria Mire; Em Ano de Safra, de Sofia Bairrão; Fogo no Lodo, de Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca; Lucefece – Where There Is No Vision, the People Will Perish, de Ricardo Leite; e As Melusinas à Beira do Rio, de Mélanie Pereira, e as curtas Guarda Vieja 3458 Timbre 3/6, de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes; Memories of a Perfect Day, de Davian-Maria el Khoury; Para Norte, de Rui Esperança; e This Night Has Opened My Eyes, de Francisco Valente.

Há ainda, além das habituais secções temáticas e retrospetivas, treze filmes na competição internacional — diz a organização que “traz o mundo inteiro a Lisboa”. Assim parece ser, olhando para o cardápio para os próximos dez dias.

“Man in Black”

De Wang Bing

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Man in Black (2023), de Wang Bing, mostra-se numa sessão única, a inaugural do certame. O filme do cineasta chinês revisita a vida do compositor Wang Xilin, perseguido e torturado pelo regime durante o período da Revolução Cultural, entre os anos 1960 e 1970. A obra, que passou pelo Festival de Cannes (exibida em conjunto com a curta-metragem do realizador português Pedro Costa, As Filhas do Fogo), contrapõe os relatos dolorosos com excertos de sinfonias do autor, resultando num testemunho que será seguramente um dos grandes acontecimentos do festival lisboeta. O músico de 86 anos vai estar presente em Lisboa para acompanhar a sessão de abertura. 19 de outubro, 21h, Cinema São Jorge (Sala M. Oliveira)

“Baan”

De Leonor Teles

Do princípio para o fim, a sessão de encerramento do DocLisboa é outro dos destaques. Eis Baan (2023), de Leonor Teles. A primeira longa de ficção da autora de Balada de um Batráquio (2016) e Terra Franca (2018) é mais uma das obras resultantes da pandemia que se mostra, finalmente. Depois de assinar a fotografia do díptico Viver Mal/Mal Viver (2023), de João Canijo, Leonor Teles volta a vestir a pele de cineasta num filme cujo título poderá denunciar: Baané uma palavra tailandesa que designa “casa”, “lar”. Será isso que Teles anda à procura? Rodado entre Lisboa e Banguecoque, Baan acompanha uma jovem (interpretada por Carolina Miragaia) entre o fim de um relacionamento e a possibilidade de outro. É um registo de um tempo de gentrificação, imigração e precariedade laboral. O filme teve estreia mundial no Festival de Cinema de Locarno. 29 de outubro, 21h, Culturgest (Aud. Emílio R. Vilar)

“Viva Varda!”

De Pierre-Henri Gibert

O título é celebratório e não é para menos. Pierre-Henri Gibert tem a habilidade de de nos mostrar que ainda há muito mundo a descobrir sobre o universo de Agnès Varda, cineasta iconoclasta da Nouvelle Vague, que reinventou o cinema e as histórias que com ele se podem contar. Viva Varda! é uma surpresa, um conjunto de materiais de arquivo e entrevistas inéditas de Agnès Varda que oferecem perspetivas distintas das que se encontram no seu material autobiográfico. 7 de outubro, 20h, Cinema Ideal, e 19 de outubro, 15h30, Culturgest (Aud. Emílio R. Vilar)

“O Canto das Amapolas”

De Paula Gaitán

Na secção Riscos, dedicada a revelar novos olhares sobre a paisagem cinematográfica, descobre-se o trabalho da colombiana-brasileira Paula Gaitán, cujos filmes são presença habitual no Doclisboa. O festival exibe dois títulos da realizadora, O Canto das Amapolas (2014), e Noite (2015). No primeiro, Gaitán propõe-se a conversar com a mãe, num filme composto por imagens livres que dialogam com a conversa e que, tal como esta, despertam perguntas. 20 de outubro, 21h45, Culturgest (Pequeno Aud.)

“Verdade ou Consequência?”

De Sofia Marques

“O filme não é sobre o Luis Miguel, é com o Luis Miguel. O Luis Miguel hoje, no presente, agora”, contava ao Observador no início do mês Sofia Marques, realizadora do documentário sobre Luis Miguel Cintra, que se mostra no DocLisboa depois de uma única  mostra em Serralves. O histórico encenador português, que este ano cumpre 50 anos de carreira, é o foco deste filme que o acompanha por locais que marcaram o seu percurso: Lisboa, Vila Nova de Gaia, Vila do Conde, Madrid. Do outro lado da lente está uma atriz, aqui na pele de cineasta, que trabalhou regularmente com a Cornucópia até à sua extinção, em 2016, e que continuou ao lado do encenador, nomeadamente nos últimos espetáculos, em 2021. 27 de outubro, 20h, Cinema Ideal, e 29 de outubro, 15h30, Culturgest (Aud. Emílio R. Vilar)

“Clandestina”

De Maria Mire

Ao primeiro filme, Maria Mire escolheu homenagear Cesina Bermudes (1908-2001), médica obstetra, resistente antifascista e pioneira da introdução do parto sem dor em Portugal. Fê-lo em 2020, com a curta Parto Sem Dor (2020), que se estreou no festival IndieLisboa. Agora, na sua primeira longa documental, Mire debruça-se sobre Margarida Tengarrinha, uma outra mulher resistente do regime salazarista e símbolo de um tempo por vir. A artista, escritora e professora teve um importante papel na falsificação de documentos, na redação do jornal Avante e na Rádio Portugal Livre. Em democracia, foi deputada à Assembleia da República pelo PCP entre 1979 e 1983. Em Clandestina (2023), descobre-se o importante papel desta falsificadora com uma vida verdadeira por contar. O documentário integra a competição nacional do festival. 22 de outubro, 21h30, Cinema São Jorge (Sala M. Oliveira) e 27 de outubro, 14h, Cinema São Jorge (Sala 3)

“Não Sou Nada – The Nothingness Club”

De Edgar Pêra

O realizador português Edgar Pêra imagina os múltiplos universos de Fernando Pessoa em Não Sou Nada – The Nothingness Club (2023), que se mostra no festival dias antes de chegar ao circuito comercial (28 de outubro). É uma viagem pela heteronomia pessoana que o cineasta concretiza num thriller psicológico em que as fronteiras entre a imaginação, o sonho e realidade são difíceis de distinguir, tal qual a obra do poeta. Produzido por Rodrigo Areias, da Bando à Parte, é mais um filme resultante de uma rodagem em plena pandemia da Covid-19, com o elenco e a equipa técnica num quase confinamento num armazém da antiga Fábrica do Rio Vizela, na Vila das Aves, em Santo Tirso. Com Miguel Borges no papel de Fernando Pessoa, o elenco inclui ainda Albano Jerónimo, Vítor Correia, Miguel Nunes, Paulo Pires, António Durães e Victoria Guerra. 23 de outubro, 19h45, Cinema São Jorge (sala 3) e 28 de outubro, 19h45, Culturgest (Pequeno Aud.)

“Nôs Dança”

De Rui Lopes da Silva

No seu primeiro filme, Rui Lopes da Silva pousa o olhar sobre António Tavares, bailarino e coreógrafo, que parte em busca dos ritmos nas danças do arquipélago de Cabo Verde – dos mais tradicionais aos mais contemporâneos. António Tavares vai ao encontro de músicos, “possuidores de saberes” locais e de outras figuras que vão contando a história dos géneros que enriqueceram a cultura cabo-verdiana (e do mundo). Filmado entre Portugal e Cabo Verde, Nôs Dança (2023) é uma produção da C.R.I.M. e tem estreia mundial no DocLisboa no âmbito da secção Heart Beat, destinada a mostrar diversas expressões artísticas artísticas através do cinema. 20 de outubro, 19h, Culturgest (Aud. Emílio R. Vilar) e 25 de outubro, 18h, Cinema Ideal

“Fogo no Lodo”

De Catarina Laranjeiro, Daniel Barroca

“Unal é uma aldeia de produtores de arroz que foram os primeiros a envolver-se na revolta armada contra o colonialismo português na Guiné-Bissau. Hoje, o ciclo do arroz continua assombrado por memórias da guerra nos rituais, corpos, paisagens e música tecno”, lê-se na sinopse da primeira obra de Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca. Fogo no Lodo (2023), um dos nove filmes da competição nacional, revela o universo pouco retratado da importância da produção do arroz na Guiné-Bissau, numa altura em que se assinalam os 50 anos da independência do país — foi a primeira das ex-colónias portuguesas a assumir-se como um estado soberano, a 23 de setembro de 1973, ainda que Portugal só tenha reconhecido a independência um ano depois, após o 25 de abril. 22 de outubro, 18h, Cinema São Jorge (Sala M. Oliveira) e 25 de outubro, 10h30, Culturgest (Pequeno Aud.)

“Theater of Thought”

De Werner Herzog

O mais recente documentário de Werner Herzog, presença assídua no DocLisboa, é Theater of Thought (2023). É uma investigação sobre o cérebro humano, “procurando perceber como é que um pedaço de tecido é capaz de dar origem a pensamentos e sentimentos profundos ao mesmo tempo que pondera as implicações filosóficas, éticas e sociais da neurotecnologia”, lê-se no texto que anuncia as sessões, integradas na secção de panorama Da Terra à Lua. 21 de outubro, 19h, Culturgest (Aud. Emílio R. Vilar) e 21 de outubro, 21h, Cinema São Jorge (Sala M. Oliveira)