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Ahmed Ma'ali, o diretor-executivo do Saint John of Jerusalem que lidera o complexo hospitalar apenas dedicado à oftalmologia, o único do género situado em territórios palestinianos

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Ahmed Ma'ali, o diretor-executivo do Saint John of Jerusalem que lidera o complexo hospitalar apenas dedicado à oftalmologia, o único do género situado em territórios palestinianos

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

No hospital oftalmológico mais antigo da Palestina, política e religião ficam à porta. "Pode ser-se sugado para apoiar um lado, é perigoso"

Distinguido com o Prémio Champalimaud de Visão 2023, centro hospitalar Saint John of Jerusalem atende pacientes em Gaza e na Cisjordânia. CEO relata ao Observador dificuldades — e pressões políticas.

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“Para se gerir este hospital de oftalmologia, tem de se ser um bom administrador e um bom político.” Esta é a convicção de Ahmed Ma’ali, o diretor-executivo do Saint John of Jerusalem que lidera o complexo hospitalar apenas dedicado à oftalmologia, o único do género situado em territórios palestinianos, seja na Faixa de Gaza, seja na Cisjordânia. “É algo complexo”, admite, em entrevista ao Observador, o médico que trabalha naquela instituição há mais de 33 anos.

Em Lisboa para receber o prémio Champalimaud de Visão 2023, Ahmed Ma’ali diz que a distinção é uma “honra e privilégio”, motivando a equipa que lidera a “fazer mais”. “É o reconhecimento global para os cuidados humanitários que tentamos providenciar e pelo quais lutamos. Porque isto é uma luta. É uma luta contra a cegueira num ambiente muito complexo e desafiador”, refere, indicando que o valor de um milhão de euros que o centro hospitalar vai receber será investido para instalar um novo hospital no norte da Cisjordânia, em Nablus.

Num território dilacerado por um conflito que já dura há mais de 75 anos, Ahmed Ma’ali garante que o centro hospitalar sempre se manteve “apolítico”, recusando favorecer qualquer uma das fações. “Temos uma boa relação com todas as autoridades, quer sejam israelitas, quer sejam palestinianas”, indica, colocando, contudo, uma linha vermelha: “Temos uma política no hospital: não temos quaisquer relações diretas com o Hamas.”

Esta boa relação com as autoridades permite que as equipas se desloquem com facilidade em territórios em que existem inúmeras dificuldades de circulação. Para além dos hospitais na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza, o central hospitalar tem à sua disposição três unidades móveis que se deslocam a locais como campos de refugiados e escolas. “De várias formas, trabalhamos como um sistema, mais do que como um hospital.”

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Mas a situação pode mudar a qualquer momento. Ahmed Ma’ali explica como um ataque pode levar a estradas cortadas, por exemplo. E há ainda as eleições e as mudanças políticas que podem alterar as dinâmicas dos hospitais: “É preciso ter uma visão sobre o que vai acontecer durante umas eleições israelitas e com o governo, mas também com as norte-americanas. Como já disse, somos apolíticos, mas sofremos os impactos da política.”

Ahmad Ma’ali esteve Lisboa por ocasião da entrega do prémio Champalimaud de Visão 2023

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Todas as pessoas que cheguem à nossa porta são tratadas de forma igual”

Nos quatro hospitais que gere atualmente, que tipo de pessoas recebe? Que religiões, etnias?
Gostava antes de falar um pouco da história do grupo hospitalar Saint John of Jerusalem, fundado em 1882 como o primeiro hospital oftalmológico no Médio Oriente. A nossa missão foi sempre, e não mudou, tratar pessoas independentemente da raça, religião, classe social ou habilidade de pagar os tratamentos. Passados 141 anos, reafirmo que ainda somos leais e estamos comprometidos com a nossa missão e, por isso, recebemos toda a gente e tratamos toda a gente de forma igual — qualquer pessoa que precise de nós.

Em concreto, sabe dizer que etnias e que nacionalidades necessitam mais de cuidados hospitalares nos territórios palestinianos, quer na Faixa de Gaza, quer na Cisjordânia?
Devido à população que reside nesses territórios, a maioria das pessoas que necessitam de cuidados são palestinianos muçulmanos e palestinianos cristãos. E também cidadãos palestinianos de Israel em Jerusalém Oriental. Também temos pacientes israelitas, mas esses não são muitos, porque não precisam. Eles [em Israel] têm clínicas mais avançadas e vão lá. Mas em geral, insisto: todas as pessoas que cheguem à nossa porta são tratadas de forma igual, independentemente da raça, religião, classe social e capacidade de pagar os tratamentos.

Como é que se lida com este caldeirão de culturas? Há dificuldades na altura dos tratamentos?
Na realidade, não lidamos. Apenas vivemos com elas. E, basicamente, devido ao nosso ethos e por causa da nossa missão, pomos os pacientes em primeiro lugar, independentemente de onde vêm, que religião professam e de que classe social são. A mesma coisa acontece com os nossos funcionários. Temos funcionários que são muçulmanos, que são judeus, que são cristãos, que são israelitas. Em termos políticos, até podemos discordar; mas deixamos esses assuntos fora do hospital. O hospital baseia-se apenas numa premissa: cuidados aos pacientes.

Hospital de Saint John em Jerusalém Oriental

Wikimedia Commons

Então é como se fosse um lugar seguro no meio do conflito e de diferentes fações?
Sem dúvida. Ainda que o hospital tenha origens cristãs, respeitamos as religiões de todos pacientes e de todos os funcionários. As pessoas falam normalmente sobre a existência de um diálogo entre as três maiores religiões do mundo. No hospital, não encetamos qualquer diálogo, porque já passámos a fase do diálogo. Vivemos essa diversidade e estamos a praticá-la. Então, diria mesmo que este é um modelo para o qual muitos deviam olhar — e tentar entender como é que o hospital é capaz de cuidar de toda a gente e trabalhar em equipa.

E qual é o segredo disso? Como é que se gere e se cria um espaço seguro para todas as religiões numa zona dilacerada por conflitos?
Essa é uma pergunta muito boa. Às vezes pergunto-me a mim mesmo quando reflito sobre o mundo. Penso que o segredo é que, num cenário de cuidados humanitários, quando se foca no cuidados dos pacientes em vez dos egos e as afiliações políticas pessoais… Eu diria que, em Jerusalém Oriental, somos o único hospital que não tem sindicatos. Não acreditamos em sindicatos. Acreditamos nos cuidados aos pacientes. Não impedimos ninguém de professar a religião que quiser ou de ter uma afiliação política — desde que se mantenha fora do hospital. Dentro do hospital, até é estranho ver as pessoas a falar sobre religião e sobre política.

Esse esforço também vem da liderança?
Acho que o esforço é que a administração, a liderança e os profissionais dos hospitais acreditam todos na missão do hospital, que é cuidar de pessoas independentemente de onde elas são oriundas. E uma vez que o líder ou a liderança do hospital age assim — e não diz apenas essas da boca para fora… Vou dar um exemplo: tratamos um médico judeu da mesma forma que um médico palestiniano ou cristão. E é por isso que este modelo de coexistência tem tido tanto sucesso.

"Não impedimos ninguém de professar a religião que quiser ou de ter uma afiliação política — desde que se mantenha fora do hospital. Dentro do hospital, até é estranho ver as pessoas a falar sobre religião e sobre política"
Ahmad Ma’ali, diretor-executivo do Saint John of Jerusalem, sobre a religião no hospital

A diabetes e os casamentos intrafamiliares. Os problemas que afetam a saúde ocular na Palestina

Em termos de doenças, quais são as mais frequentes nos hospitais?
Do ponto de vista médico, contam-se alguns diagnósticos de cegueira em Jerusalém Oriental, cuja incidência é dez vezes mais alta do que na Europa. Mas a maioria dos casos são cataratas, que têm a ver com a opacificação de lentes intraoculares. Há muitas razões para o surgimento de cataratas. Primeiro, tem a ver com a diabetes, doença que é prevalente em toda a Palestina e que tem impacto nos olhos. O segundo fator tem a ver com o sol. Faz muito calor e os palestinianos, regra geral, não usam óculos de sol. Poucas pessoas sabem que isso afeta a saúde de olhos. Há outras razões como os casamentos intrafamiliares…

Como é que os casamentos intrafamiliares têm um impacto na visão?
Em geral, as pessoas que casam com os seus primos direitos apresentam um maior risco de terem filhos com doenças hereditárias como cataratas, glaucoma e doenças da retina. Lembro-me que um médico estrangeiro foi ao hospital e disse-me que num mês nunca tinha visto tantas doenças hereditárias na vida.

Mas que realidade é esta dos casamentos intrafamiliares na Palestina?
É um problema. Penso que cerca de 40% dos casamentos são com membros da família. É algo que estamos conscientes de que acontece e estamos a tentar resolver. Temos um laboratório genético que estuda as doenças oftalmológicas no país e temos uma equipa de médicos que aconselha e que se senta com os pacientes que querem ser pais para informá-los das doenças que os filhos podem vir a ter. Assim, as famílias podem tomar uma decisão tendo em conta esta informação. Não obstante, continua a ser um problema, principalmente em zonas em que as comunidades se excluem, como em Gaza. As pessoas não se deslocam com facilidade e, por isso, o único homem ou mulher que conhecem é da sua família. É uma questão cultural, sim, mas também tem a ver com a situação política e de restrição de movimento.

Ahmad Ma’ali define como sendo um "problema" os casamentos intrafamiliares na Palestina, mas garante que o centro hospital acompanha esta realidade

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Como se chega a crianças e a importância da prevenção

E sobre crianças? Como é que chegam a elas? Porque uma coisa é um adulto que, se tiver problemas de visão, pode ir ao hospital. Outra coisa são as crianças que não dispõem de meios próprios para o fazer.
É algo crítico e muito importante para nós. Se se conseguir tratar o problema ocular de uma criança de dois ou três anos, isso acaba por permitir que ela veja para o resto da sua vida; caso contrário, pode ficar cega para sempre. Tendo em conta a importância deste projeto, cerca de 35% dos nossos pacientes que vemos nos hospitais e na comunidade são crianças. E não ficamos sentados no hospital à espera de que as pessoas venham ter connosco. Também saímos. Temos equipas móveis de médicos e enfermeiros: um em Gaza e dois na Cisjordânia. Eles vão a pequenas aldeias, escolas e lugares onde os pacientes não têm acesso a cuidados de saúde. Temos uma unidade móvel em que 70% dos pacientes atendidos são mulheres e crianças. Vamos igualmente a escolas e tentamos cuidar das crianças. Estamos a tentar estabelecer um programa em Gaza, onde vivem dois milhões de pessoas, 70 mil dos quais crianças: queremos ir aos jardins de infância para testar a visão dos mais novos, mas é verdade que no terreno não podemos fazer muita coisa. É apenas para detetar problemas — no máximo, podem tratar-se pequenas infeções. Regra geral, identificam-se os problemas, mas depois [os pacientes] têm ser encaminhados para os hospitais.

Este projeto escolar tem data?
Sim, será para começar a ser implementado para o ano. E também temos outro projeto: ensinar professores. Educá-los para identificar problemas oculares. Se um aluno na sala de aula vê mal e não consegue ver para o quadro, é ideal que seja sinalizado para que os pais procurem ajuda médica para o filho. Isto mostra que realmente o hospital não atua apenas no tratamento, mas também na prevenção. A prevenção é mais eficaz se se é capaz de educar o público para estas questões. E também terminámos outro projeto recentemente em que ensinamos médicos e enfermeiros, que não oftalmologistas, mas que trabalham com a comunidade: eles foram instruídos a identificar problemas nos olhos e o quão importante é sinalizar esses pacientes. De várias formas, trabalhamos como um sistema, mais do que como um hospital.

As unidades móveis e as dificuldades de circulação: “É como o tempo inglês, é imprevisível”

Referiu a existência de unidades móvel. Uma na Cisjordânia…
Duas na Cisjordânia e uma na Faixa de Gaza.

Pode explicar melhor como é o seu trabalho, como é o seu dia e quais são os principais problemas que enfrentam?
As duas equipas na Cisjordânia têm como base o hospital de Jerusalém e a de Gaza está mesmo na zona da Faixa. As equipas têm um médico, dois enfermeiros, um administrador do hospital e um condutor. De manhã, eles colocam o equipamento no carro e vão a uma comunidade, que já foi previamente avisada de que iria passar por ali uma carrinha médica. Num dia vão a um campo de refugiados, noutro a uma sala de aulas, noutro a um centro feminino. E o médico começa a atender pacientes. Enquanto isso, um enfermeiro vai falar com os pacientes ou familiares à espera e dá-lhes mais informações sobre doenças hereditárias, diabetes e como identificar problemas nos olhos. E esse enfermeiro também garante as medidas básicas de saúde pública, como a higiene das mãos do paciente e a limpeza do local.

Vemos cerca de 70 a 80 pacientes por dia, tratamo-los se for possível, ou então enviamo-los para o hospital. Num ano, vemos cerca de 25 mil pacientes com estas equipas médicas. Todos são tratados de forma gratuita à porta de casa. E, se tiverem problemas em deslocarem-se ao hospital, levamos os transportes à sua porta. Mas há problemas no que diz respeito às deslocações, porque não vivemos em Portugal nem na Suécia. Há problemas nas estradas e as pessoas têm dificuldades em chegar junto a nós.

Porquê?
Há problemas nas estradas e as autoridades podem dificultar que as pessoas cheguem a nós ou que nós cheguemos a elas. Devo também dizer que — como somos apolíticos — temos uma boa relação com todas as autoridades, quer sejam israelitas, quer sejam palestinianas. E isso é muito importante e não é porque gostamos de falar com as autoridades. Muito pelo contrário — gostamos de desempenhar o nosso trabalho sem isso. Contudo, de forma a facilitar o movimento das equipas médicas e do hospital, precisamos de ter uma excelente relação. Por isso, damo-nos bem com as autoridades, asseguramos que a passagem de médicos e de pacientes é segura. O meu trabalho é mesmo mais do que administrar um hospital. É também saber como relacionar-me com a comunidade e com as autoridades. Todos os dias são diferentes.

É frequente que os pacientes e as equipas médicas tenham problemas em deslocar-se nos territórios palestinianos?
Há sempre. Existe, em teoria, liberdade de deslocação, mas descrevo a situação como o tempo inglês: nunca é o mesmo e é imprevisível. Por exemplo, num dia normal, os nossos funcionários vão desde a Cisjordânia para Gaza e atravessam os postos de controlo. A deslocação é fácil, ainda que haja alguns atrasos. Mas, se há ataques ou problemas na Cisjordânia, há estradas cortadas. As pessoas não se podem movimentar, mesmo que sejam médicas ou enfermeiras. Em Gaza, a situação é diferente. Quando construímos um hospital lá, tivemos problemas em levar material médico. Para tentar facilitar, propusemos usar as câmaras de segurança para mostrar que só levaríamos material médico, mas disseram-nos que não podiam ser usadas para isso. No entanto, devido à nossa boa relação com as autoridades de Israel, prometemos que iríamos apenas utilizar as imagens para aquele fim e que entendíamos as preocupações de segurança. E, por isso, conseguimos trabalhar em conjunto para assegurar que os materiais, bens e equipamentos chegavam ao hospital. E esta confiança é algo em que apostamos para termos menos problemas.

Unidade móvel que anda pela Palestina todos os dias e que chega mais perto da população

O ataque do ano passado e póster sobre o que fazer em caso de ataque com mísseis

Abordou o problemas de mobilidade. E quais são os principais problemas de segurança nos hospitais? Quais são as maiores preocupações? Existem planos especiais?
Sim. Fazemos parte da Joint Commission International, um organismo que assegura a qualidade dos serviços de saúde tendo em conta os padrões norte-americanos. E, para fazermos parte [desse organismo], temos de ter um plano de segurança. Por exemplo, quando se vem ao hospital, vê-se na parede um póster a dizer o que fazer em caso de um ataque com mísseis. E às vezes os mísseis sobrevoam o hospital de Jerusalém; por isso, tem de haver planos, exercícios, protocolos e o que fazer quando as sirenes tocam e há um problema de segurança. Estas coisas praticam-se. Aqui [em Portugal], há planos de contingência para incêndios, terramotos e coisas do género. Na nossa situação, preparamo-nos para os ataques com mísseis e coisas do género. Isso acrescenta pressão, mas, em geral, as nossas equipas médicas estão habituadas.

Houve algum ataque recente perto de um dos hospitais de que se lembre?
Graças a Deus, este ano não tivemos nenhum, mas o ano passado houve um em Jerusalém Oriental. Todos os profissionais de saúde sabiam o que tinham de fazer para assegurar que os pacientes permanecessem seguros. De muitas formas, é interessante, porque é ligeiramente diferente do que um hospital normal. É mais do que cuidar dos pacientes. É uma situação complexa.

Pode dar mais detalhes sobre o ataque do ano passado?
Foi um foguete que foi disparado desde a Faixa de Gaza para Jerusalém e ouviu-se uma sirene, mas não se viu o míssil. O míssil caiu na parte ocidental da cidade, mas ouviu-se uma sirene. Quando isso acontece, temos de garantir que os pacientes estão seguros. Mas é algo a que nos habituamos. E não é só no hospital — toda a cidade fica paralisada.

"Existe, em teoria, liberdade de deslocação, mas descrevo a situação como o tempo inglês: nunca é o mesmo e é imprevisível. Por exemplo, num dia normal, os nossos funcionários vão desde a Cisjordânia para Gaza e atravessam os postos de controlo. A deslocação é fácil, ainda que haja alguns atrasos. Mas, se há ataques ou problemas na Cisjordânia, há estradas cortadas. As pessoas não se podem movimentar, mesmo que sejam médicas ou enfermeiras"
Ahmad Ma’ali, diretor-executivo do Saint John of Jerusalem, sobre dificuldades de circulação

As dificuldades de gerir o hospital dividido em pólos e o impacto da Covid: “Nem gosto de falar sobre isso”

O Saint John Hospital é formado por vários polos em diferentes áreas marcadas pelo conflito. Quão difícil é, enquanto diretor-executivo, gerir o centro hospitalar nessas condições?
É algo complexo. Mas em todos os hospitais existe um líder que é mais do que capaz de o gerir. Eles só me contactam quando há problemas. O cenário mais difícil é mesmo Gaza. Há muitos pacientes e há muitas necessidades. As pessoas são muito, muito, muito pobres e depois não têm acesso a mais nada além daquele pedaço de terra. Estão isoladas. Eu não quero entrar em considerações políticas, mas [Gaza] parece uma prisão aberta. Para deixar Gaza e ir para Jerusalém, uma pessoa tem de esperar muito tempo e tem de dar muito boas razões para sair. É por isso que construímos lá um hospital, porque muitos pacientes não chegavam a nós a tempo. É por isso que queremos fortalecer ainda mais os serviços e as equipas médicas lá.

Ainda de manhã, li um email da equipa de Jerusalém que teve de viajar até Gaza para fazer um transplante da córnea porque este tipo de serviços não existe em Gaza e, por isso, a nossa equipa foi lá. Apesar das dificuldades, tem sido um ano muito bom para nós e esperamos que o próximo ano aconteça o mesmo. Vamos tratar 150 mil pacientes este ano e vamos realizar 7.500 cirurgias oculares, o que é um novo máximo para o hospital, que emprega 270 funcionários. É um hospital pequeno, mas por causa das necessidades da população e da quantidade de pacientes somos capazes de fazer mais do que um hospital normal.

É difícil contratar médicos e enfermeiros? Como é que funciona o processo?
Nem por isso. Mas tenho de dizer isto e não o digo por causa da entrevista: o Saint John Hospital é um lugar muito especial para toda a gente. Trabalho aqui há 33 anos e existem enfermeiros que estão lá há 40 anos. Assim que se chega ao hospital, nunca mais se sai até à reforma. A boa coisa sobre nós é que ensinamos enfermeiros e médicos não apenas para o hospital, mas também para a comunidade. E dificilmente contratamos fora, porque são pessoas que vêm de dentro e que ficam connosco para sempre até se reformarem. Nesse sentido, não temos falta de pessoal. Na Cisjordânia, há 120 oftalmologistas — 60 ou 70 foram treinados no hospital. E isso traz reconhecimento na comunidade porque somos líderes na área da oftalmologia.

Não é então uma preocupação…
Não, não é. A minha preocupação é quando as pessoas se reformam. Porque, quando chega o tempo de elas abandonarem o hospital, é muito difícil para elas. E é muito difícil para elas porque — depois de 40 anos de serviço — o hospital torna-se parte da sua vida. Uma vez tive um funcionário que trabalhou 46 anos e pediu para ser voluntário quando se reformou. Acho que tem a ver com o sentido de missão e o impacto do hospital na vida das pessoas e é por isso que eles gostam tanto disto.

Ahmad Ma’ali trabalha no central hospital há 33 anos e diz que não é difícil contratar médicos. Em parte, isso deve-se à formação que dão no hospital

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Falando sobre um tema diferente, gostava de saber como é que a pandemia de Covid-19 mudou as dinâmicas do hospital. Normalmente, mesmo sem a doença, há dificuldades de movimento entre Palestina e Israel. Imagino que tenha sido mais difícil durante a pandemia. Como foram esses tempos?
Foram tempos difíceis. Nem gosto de falar deles. Foram especialmente difíceis porque eu penso que a Covid-19 nos apanhou totalmente desprevenidos e, por conseguinte, pouco preparados. Para nós, foi ainda mais difícil, porque havia restrições de movimento por conta da Covid em cima das restrições de movimento relacionadas com a segurança. E a ida a um oftalmologista não é entendida como sendo muito importante em tempo de emergência. Não sei porquê. No início, as pessoas estavam apenas autorizadas a movimentar-se em Jerusalém se tivessem um bom motivo; caso contrário, seriam multadas se fossem apanhadas na rua. Como entende, havia restrições de movimento muito apertadas.

Tivemos um período de cerca de três meses em que tivemos poucos pacientes, muito poucos. Por isso, não pude pagar aos meus funcionários, algo que também tive de fazer relativamente ao meu salário. As pessoas ficaram em casa durante um mês. E foi uma decisão muito difícil, porque não havia pacientes. Ir ao hospital também era arriscado porque tinha de se usar muitas vezes transportes públicos. Após este período, os pacientes começaram a chegar e entenderam que levávamos a Covid-19 muito a sério. Tivemos protocolos e nunca — que eu tenha tido conhecimento — houve um caso no hospital. Toda a gente usava máscara e todos cumpriam o protocolo de higiene. Os pacientes começaram a vir.

Em 2020, certo?
Sim, em junho de 2020. Nesse ano, tivemos uma diminuição de 5% no número de pacientes, mas, em 2021, houve um aumento de 15%. Conseguimos compensar aqueles três meses, que foram muito difíceis para o hospital e para os pacientes. Contudo, houve algo que nos ajudou: em outros lugares, como Israel, os hospitais são gerais — e vários pacientes com Covid-19 eram encaminhados para lá. Os pacientes evitavam, por isso, ir a esses hospitais. Mas as pessoas vinham até nós, que somos um hospital centrado na área da oftalmologia. As pessoas acreditam que lidávamos bem com a Covid-19 e confiaram em nós.

Os problemas financeiros: “Somos um hospital que funciona à base da caridade”

Disse que as pessoas podiam ir ao hospital mesmo que não tivessem meios para pagar. Mas como é que se torna um hospital financeiramente sustentável com essa política?
Esse é o meu pesadelo [risos]. Basicamente, somos um hospital que funciona à base da caridade. Trabalhamos com as autoridades: com as autoridades palestinianas, com as autoridades israelitas e eles referenciam os pacientes para os nossos hospitais. Alguns deles têm seguro de saúde e assim conseguimos gerir as contas com o recurso a essas verbas, que cobrem cerca de 40% a 45% das despesas do hospital. Restam 55% que nós precisamos de encontrar noutros locais. Temos uma equipa que tenta angariar fundos junto de organizações, fundações e fundos de desenvolvimento de países como Inglaterra, Austrália e Canadá. Não é sempre fácil.

"Trabalhamos com as autoridades: com as autoridades palestinianas, com as autoridades israelitas e eles referenciam os pacientes para os nossos hospitais. Alguns deles têm seguro de saúde e assim conseguimos gerir as contas com o recurso a essas verbas, que cobrem cerca de 40% a 45% das despesas do hospital"
Ahmad Ma’ali, diretor-executivo do Saint John of Jerusalem, sobre o modelo de financiamento do hospital

E isto repete-se todos os anos?
Nem sempre, há alguns planos que são plurianuais. E há alguns fundos de desenvolvimento que garantem um fundo estável prolongado.

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, visitou o hospital no ano passado, certo? Como foi a sua visita?
Na realidade, ele visitou o hospital em Jerusalém Oriental. Fez um discurso muito promissor em que prometia mais verbas para os hospitais. Foi ótimo, mas ainda não vimos nada. Mas tenho a certeza de que elas virão. Há muita burocracia no Congresso e tudo isso.

Ao falar sobre isto, esqueci-me de referir uma coisa sobre a autoridade palestiniana. A maioria do dinheiro norte-americano servirá para pagar as dívidas da Palestina. As autoridades palestinianas referenciam os pacientes que devemos tratar. Mas muitas vezes não pagam. Eles devem-nos 3,5 milhões de dólares [cerca de 3,26 milhões de euros]. E o valor tem aumentado de ano para ano. Ainda que eles já tenham pagado alguma dívida, este dinheiro serve para tornar o hospital financeiramente sustentável e criar projetos para isso. Por exemplo, recentemente, fazemos cirurgias com laser para pessoas que não querem usar óculos nem lentes de contactos. É uma cirurgia cosmética, mas é para pessoas que conseguem pagá-la. Isto ajuda o hospital a manter os serviços. É como se fosse o Robin dos Bosques: tiramos dos que têm mais para ajudar os que têm a menos.

Ahmad Ma’ali sobre Joe Biden: "Fez um discurso muito promissor em que prometia mais verbas para os hospitais. Foi ótimo, mas ainda não vimos nada"

White House

As “imensas” pressões políticas e o pessimismo sobre o futuro

Referiu que o hospital tenta ser apolítico. Alguma vez lidou com pressões políticas no sentido de tentar fazer com que o hospital favoreça um lado?
Lido com isso quase todos os dias. Sofro imenso pressão. Vou dar um exemplo: recebi uma chamada há dois meses de alguém da Ordem de São João que queria que eu fosse ao Conselho de Segurança das Nações Unidas fazer um discurso sobre as restrições de movimento. Eu disse-lhe que não. Todas as pessoas sabem que existem restrições. Por é que se está a tentar pôr o nome do hospital e estragar as minhas relações com Israel? Eu não quero escolher um lado. As restrições de circulação não são apenas no hospital. É em todo o território. Esta foi uma maneira perversa de tentar levar o hospital a escolher um lado. Podia correr mal: é no Conselho de Segurança e o governo israelita podia ouvir. Ia dizer que os israelitas faziam isto e aquilo e isso não é bom para nós. Não temos de dizer ao mundo que estamos a trabalhar com as autoridades israelitas e palestinianas, temos apenas de nos reunir com eles para ajudar os pacientes e a equipa médica. E é isso que fazemos. Claro que trabalhamos com os dois lados; mas não queremos fazer uma declaração política porque pode ser perigoso. 

Não quero também dar a sensação de que transmito uma visão cor de rosa das coisas. A situação em Jerusalém e na Cisjordânia é terrível. Se não se é cuidadoso, pode ser-se sugado para apoiar um dos lados e fações e isso seria perigoso. E quando toca à relação com Israel, tem de se ser cuidadoso. E temo-nos mantido neutrais com os dois lados ao longo de 141 anos e não sofremos com isso. Não temos problemas com nenhum dos lados e espero não ter, porque isso ajuda a minha equipa a cuidar dos pacientes. Se se tem uma boa relação com ambos os lados, podemos tornar o cuidado aos pacientes melhor, mais fácil — e é isso que nós queremos. Eu tenho as minhas visões políticas, mas discuto com a minha mulher, não no hospital. Deixamos isso fora do hospital porque, caso contrário, o hospital tornar-se-ia num partido político e isso é perigoso.

Quais são as suas esperanças relativamente ao fim do conflito?
Como palestiniano, gostava de ver o fim do conflito. Gostaria da solução dos dois Estados, mas não me importo com apenas um se as pessoas tiverem direitos iguais. Por mim, quem está a liderar o país não importa, desde que se olhe pelas pessoas e que se deem às pessoas os mesmos direitos: que não tenham restrições de movimento, que possam viajar, que sejam respeitados, etc.

Não devia estar a dizer isto, mas vou dizer: não estou muito otimista de que vá haver uma resolução e uma solução para o problema. O conflito tem estado ativo há quase 80 anos e o hospital está lá há 140 anos. Infelizmente, esta é uma situação que vai durar e isto gera uma crise humanitária. O nosso país é muito bom, é pequeno, mas o problema é a política e é o conflito que dividiu o país em muitas áreas isoladas. As pessoas estão pobres, não têm emprego e não têm estudos. Isto criou uma crise humanitária.

"Não devia estar a dizer isto, mas vou dizer: não estou muito otimista de que vá haver uma resolução e uma solução para o problema. O conflito tem estado ativo há quase 80 anos e o hospital está lá há 140 anos. Infelizmente, esta é uma situação que vai durar e isto gera uma crise humanitária"
Ahmad Ma’ali, diretor-executivo do Saint John of Jerusalem, sobre futuro do conflito

As eleições israelitas e norte-americanas — e o riscos se Donald Trump voltar ao poder em 2024

Não parece otimista… Israel teve muitas eleições e recentemente mudaram de primeiro-ministro [Benjamin Netanyahu assumiu o cargo no final de 2022]. Quando há eleições, quer em Israel, quer na Palestina, preocupa-se com o futuro do hospital?
Absolutamente. Quando há eleições, estamos preocupados sobre quem vai ser o novo primeiro-ministro, sobre quem vai ser o ministro da Administração Interna e como isso vai mudar as coisas no terreno. Agora, como é sabido, o governo israelita montou uma coligação com a extrema-direita e há dois ou três ministros que não acreditam nos direitos do povo palestiniano. E estes são tempos muito difíceis para nós, porque esses ministros são muito poderosos e podem tomar decisões que afetam os hospitais, a liberdade de circulação e a coexistência entre árabes e israelitas e entre palestinianos e israelitas. Até agora, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem conseguido travar estas opiniões mais extremistas. Mas durante quanto tempo ele conseguirá fazer isso… Não sei. Ele está sob muita pressão.

Sempre que há eleições nos Estados Unidos, costuma dizer-se na Palestina que os palestinianos seguem mais as eleições norte-americanas do que os norte-americanos. Porquê? Porque os palestinianos sentem que os norte-americanos e israelitas são aqueles que podem resolver o problema. Acredite em mim quando digo que seguimos as eleições norte-americanas porque é uma potência e esperamos que um novo líder norte-americano chegue e resolva o problema. Não penso que isso vá acontecer, ainda assim. Nem com as eleições israelitas, que são muito importantes. Vivemos, no final de contas, no mesmo país. O que pensa um primeiro-ministro israelita, como ele vê o mundo, afeta a situação dos palestinianos.

Mencionou as eleições norte-americanas. Não querendo fazer uma análise mais extensiva do tema, Joe Biden tem uma atitude mais conciliatória com a Palestina do que o ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, certo?
Absolutamente. Donald Trump parou toda a ajuda aos palestinianos e todo o apoio aos hospitais de Jerusalém Oriental. Perdemos 20 milhões de dólares (cerca de 18,6 milhões de euros) durante o seu mandato, perdemos muita ajuda financeira. Com Biden, tem razão, ele é mais flexível, está mais interessado no diálogo e apoia mais as pessoas que precisam. Desde que Biden tomou posse, as coisas mudaram. Gostávamos que tivessem mudado um pouco mais, mas a causa palestiniana foi mais apoiada. O que acontece em 2024, em novembro? Só Deus sabe.

Mas o que acha que vai acontecer?
Acho que, se Trump voltar, será com as mesmas políticas. E penso que vai afetar o hospital. Os norte-americanos agora apoiam os nossos projetos na Faixa da Gaza e na Cisjordânia. Mas não acredito que isso aconteça numa possível futura administração Trump. Estamos um pouco preocupados.

Ahmad Ma’ali diz ser alvo de pressões políticas e assinala que as eleições norte-americanas e israelitas o preocupam porque podem afetar a continuidade do hospital

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Tem de lidar então com todos os impactos geopolíticos. Não apenas gerir o hospital e as pessoas que lá trabalham…
Eu vou dizer uma coisa: para gerir este hospital de oftalmologia, tem de se ser um bom administrador e um bom político. Tem de se entender as políticas do país e como lidar com elas. E é preciso ter uma visão sobre o que vai acontecer durante umas eleições israelitas e com o governo israelita, mas também com as norte-americanas. Como já disse, somos apolíticos, mas sofremos os impactos da política. Quando há uma mudança na política, acredite, somos afetados.

E com as autoridades palestinianas e com o Hamas, como são as relações?
Temos uma política no hospital: não temos quaisquer relações diretas com o Hamas. Mas eles são o governo de facto em Gaza e em Gaza temos um hospital. Eles às vezes vão lá e inspecionam-no. Temos de aceitar e deixar que eles façam a inspeção. Mas nunca fizemos parte de nenhum projeto conjunto com eles. Temos uma política de não contactar o Hamas.

E com outras autoridades palestinianas?
Com outras autoridades palestinianas, temos acordos. Por exemplo, se um paciente é referenciado para um tratamento num hospital, não é o Hamas que paga. Não aceitamos dinheiro do Hamas.  É a autoridade palestiniana em Ramallah [na Cisjordânia] que trata das despesas.

"Para gerir este hospital de oftalmologia, tem de se ser um bom administrador e um bom político. Tem de se entender as políticas do país e como lidar com elas. Como já disse, somos apolíticos, mas sofremos os impactos da política. Quando há uma mudança na política, acredite, somos afetados"
Ahmad Ma’ali sobre dificuldades de gestão do hospital

“O prémio é uma honra e privilégio”

Quão importante é vencer o Prémio António Champalimaud de Visão? Como é que o prémio de um milhão de euros vai mudar a situação no hospital?
É muito importante por várias razões. Para ser honesto, quando ouvi pela primeira vez que poderíamos ganhar, ficámos muito entusiasmados. E ainda estamos. São bons dias para nós. O prémio Champalimaud é o maior prémio global na área da visão. É um prémio que traz prestígio e dá-nos reconhecimento global para os cuidados humanitários que tentamos prestar e pelo quais lutamos. Porque isto é uma luta. É uma luta contra a cegueira num ambiente muito complexo e desafiador. E o prémio é uma honra e privilégio. Vai ajudar a motivar-nos ainda mais e dar-nos os recursos para fazer mais.

Vamos usar os recursos para fazer mais. Vamos usar este prémio para ver mais pacientes. Estamos a tentar chegar a eles. E queremos construir um novo hospital no norte da Cisjordânia, em Nablus. É um ponto fulcral. Há muitos incidentes e é uma zona politicamente complicada — em termos de segurança também. Mas queremos ter lá um pequeno hospital para atender pacientes que não são capazes de se deslocar.

 
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