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JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

O adeus dos lisboetas a António Costa começou neste 5 de outubro

Os poucos lisboetas que foram à Praça do Município não duvidam que os dados estão lançados para as eleições e que só falta saber quando é que Costa deixa o município para se tornar primeiro-ministro.

Este 5 de outubro foi repleto de novas experiências. Foi a primeira vez que a implantação da República foi celebrada depois da saída da troika do país, a primeira cerimónia oficial de António Costa depois de ter vencido as primárias no PS e, também, a primeira vez que se encontrou publicamente com o Presidente e com o primeiro-ministro nas funções de quase líder da oposição. Para os (poucos) lisboetas que acorreram à Praça do Município, e que neste dia tiveram um vislumbre do seu autarca, também havia um sentimento novo. A inevitabilidade do adeus a António Costa.

“Ele não leva o mandato aqui na Câmara até ao fim, só fica até ser eleito primeiro-ministro”, diz ao Observador com muita certeza Domingos Leal, lisboeta e apoiante do autarca. Votou nele nas primárias do domingo passado. Afirma que, quando chegar a altura de optar, Costa não vai hesitar porque “o que ele idealiza é ser primeiro-ministro”. Socialista convicto, Domingos Leal diz que a influencia de António Cota se tem notado mais em Lisboa, mas que na votação das primárias se notou “que há uma maioria de apoio em todo o país”.

Este não é o primeiro 5 de outubro de Domingos Leal – “venho cá sempre, até quando era proibido” -, nem o de mais alguns lisboetas que se juntaram em frente aos Paços do Concelho e, por isso, as diferenças de há uns anos para cá, são notórias. Fernando Raposo e Cesário Alves discutiam fervorosamente este tema encostados à baia de segurança que isolava grande parte da praça. “Estamos a conferir que mataram o 5 de outubro, isto é só estrangeiros. É um ato histórico muito importante, emociona estar aqui e isto devia ser respeitado”, conclui Fernando. Como antigo professor não concebe as alterações feitas a uma data que ensinava aos seus alunos e agora diz-se “magoado”.

Atrás das baias eram poucos os curiosos, com muitos polícias e jornalistas a acompanharem a cerimónia

Quando o tema é António Costa, o caso muda de figura. “O António Costa tem o meu voto”, assegura Fernando Raposo – neste ponto Cesário, que há 56 anos diz ter passado o 5 de outubro no cemitério do Alto de S.João ao lado de Humberto Delgado, abana a cabeça e diz a rir: “Não é a minha equipa”. Fernando é socialista, votou nas primárias e não está arrependido da escolha: “Seguro é da linha de Passos Coelho, vêm das juventudes partidárias. Costa tem calo”. Daqui até às eleições, Fernando considera que António Costa “não vai dar muitas aberturas” porque sabe “que está a ser escrutinado”, e as ideias para o país são “mais para diante”. Uma certeza é que Costa não fica na câmara: “Está já a preparar a sucessão dele com o vice-presidente [Fernando Medina]”.

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António Tavares dá um prazo ainda mais curto a Costa na Câmara. “Não sei se ele irá continuar como presidente da Câmara já que, logo que assuma o cargo de secretário-geral do PS, vai começar a fazer oposição”, deduz o lisboeta. Não costuma vir assistir às cerimónias do 5 de outubro e só veio este domingo porque tem um familiar militar que está a fazer serviço nesta ocasião, mas diz preferir António Costa para primeiro-ministro caos este se venha a confrontar com Passos Coelho nas legislativas – “Já preferia que ele ganhasse nas primárias e voto nele nas eleições em 2015”.

Dentro e fora, dois ambientes bem diferentes

Enquanto cá fora a Praça do Município tinha pouco mais de uma centena de pessoas a ver hastear a bandeira – sobretudo estrangeiros, surpreendidos com a pompa da circunstância e tentando averiguar o que ali se passava -, dentro do edifício da câmara, a situação era diferente. António Costa recebia à porta os convidados, muito sorridente, enquanto esperava pelo Presidente. No salão nobre, as cadeiras estavam todas ocupadas com algumas mudanças notórias. Sem secretário-geral, o PS foi representado pela presidente Maria de Belém e o novo líder da bancada parlamentar – convidado por Costa para assumir esse papel -, Eduardo Ferro Rodrigues, já constava do plano da sala.

A cadeira guardada para Ferro Rodrigues

A ocasião, serviu já, segundo Pedro Delgado Alves, deputado, presidente da Junta de freguesia do Lumiar e apoiante de Costa, para o próprio presidente da República reconhecer “uma situação política que mudou significativamente”, embora afirme que o consenso defendido por Cavaco Silva tenha uma “leitura muito própria”: “O consenso e a verdade sou eu [Cavaco Silva] e portanto é aderir à leitura que faço e isto é pouco democrático num certo sentido, porque o contexto mudou”. No discurso do autarca, diz que houve “coerência”. “Há ali muitos elementos no que diz respeito ao crescimento da economia, à aposta no empreendedorismo, à educação, setores que ele tem valorizado como autarca, mas que o país pode estar à espera de uma governação que passe por aí”, disse ao Observador.

Na altura dos cumprimentos e com os discursos já terminados, os abraços foram mais fortes e os apertos de mão mais prolongados. António Costa tinha lá a sua gente. Entre os presentes, para além dos presidentes da junta e vereadores que estiveram do lado da barricada costista na disputa das primárias, outras caras como a da ex-eurodeputada Edite Estrela, fiel apoiante de Costa, e a atriz Maria do Céu Guerra, também marcaram presença.

António Costa com os seu executivo, alguns presidentes de junta e apoiantes

C.F.

Para Margarida Cabral, também socialista, e que assistia de longe, o partido deve agora “unir-se” e “colaborar”. Estava por Seguro e teve “muita pena” que perdesse, mas agora que Costa parece estar à frente do PS, Margarida diz que em “equipa que ganhe não se mexe” e que está sempre à espera “do melhor” do seu partido. Já António Freire é do PSD, mas não tira valor ao novo “adversário” em dia de comemoração nacional. “Eu já fui muito sacrificado, já me tiraram bastante, mas se for para o bem do país, estou de acordo”. Quanto à oposição com António Costa, acha que vai ganhar “profundidade”. “Acho que fica mais bem entregue”, conclui.

Costa e Hollande. O mesmo destino?

O discurso de Costa de 5 de outubro já correspondeu, pelo menos, às expectativas de uma pessoa. Quando decidiu trazer o filho Dinis à Praça do Município, Manuel Santos perguntou-se antes de chegar se uma das novidades de Costa não seria a reposição dos feriados caso chegue ao Governo. E, de certa maneira, foi. Mas Manuel diz saber que isso não passa de “uma medida simbólica” e que até às eleições não haverá muito mais promessas: “Ele não vai fazer promessas, mas o povo vai pensar que ele os vai tirar da lama. Mas não vai acontecer. Nós é que nos temos de tirar da lama, não há salvador”.

Militante do MPT, não vem mais a estas comemorações porque deixou de ser feriado. Dinis, apesar de estar agora na quarta classe, tem a lição bem estudada. “É uma data muito importante porque foi a data em que foi implementada a República. Antes, só havia monarquia que dava muitos problemas ao país”, reforçando que o que mais gostou foi da banda a marchar em sentido. Este ano, para quem ficou de fora do salão nobre, os únicos momentos visíveis foram o hastear da bandeira pelo Presidente da República ao som do hino, as chegadas e a as despedidas das figuras de Estado e dos convidados.

António Costa e Cavaco Silva conversam à saída da cerimónia

C.F.

Manuel Santos não considera que António Costa esteja a fazer um bom trabalho na Câmara, pois diz faltar à capital “uma gestão eficaz do dia-a-dia” e dá exemplos: as luzes dos semáforos, os passeios, as estradas, a falta de obras na escola do filho. Sendo do MPT, admite, porém, que será mais fácil entendimentos com António Costa do que com António José Seguro, afirmando que o autarca “é considerado um homem de esquerda e Seguro era um estranho”. Seja como for, as próximas eleições não parecem trazer surpresas: “O António Costa não tem muita margem de manobra, pode acontecer o mesmo que aconteceu a François Hollande, em França, e ir contra a parede”.

 
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