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Primeiro dia dos deputados da XV Legislatura na Assembleia da República. Os deputados fazem a sua inscrição no sistema. Lisboa, 29 de Março de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR
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Novos deputados tomaram posse na Assembleia da República

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Novos deputados tomaram posse na Assembleia da República

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Os bastidores de um dia de estreias: as máscaras de Portugal, o autocarro 727 e os momentos dedicados à família

No dia em que tomaram posse os novos deputados da Assembleia da República, os corredores foram palco do que é habitual: estreantes a pedir indicações, alguns nervos e um espírito de regresso às aulas.

Falta uma hora para o início da sessão e um dos assessores de uma das maiores bancadas entra no elevador da Assembleia da República para subir até ao piso onde vai decorrer a tomada de posse do Parlamento. Na mão, um papel branco com as anotações da agenda do dia e um lembrete mental, entre dentes, sobre o nome escolhido para liderar a bancada parlamentar do PSD: Paulo Mota Pinto. A notícia era da noite anterior, mas há dias em que nada pode falhar.

À mesma hora, lá fora e ainda sem pressa, alguns dos estreantes do Chega começavam a reunir-se na porta lateral da Assembleia da República. Não entraram todos juntos, uns foram subindo para tomar o pequeno-almoço no bar, outros tinham ido diretamente aos novos gabinetes e outros foram ficando por ali mais uns minutos.

Eram fáceis de identificar e isso notou-se no arranque dos trabalhos. Estava tudo combinado. Esperaram para serem dos últimos a entrar no hemiciclo e colocaram todos a mesma máscara, uma bandeira de Portugal que não passava despercebida — em dia de jogo da Seleção Nacional.

O objetivo era “criar impacto”, como admite um dos novos deputados em conversa com o Observador. Pelos corredores, é esse o símbolo que permite perceber, até à distância, quem faz parte da nova bancada do Chega, agora mais robusta com 12 representantes. Muitos parlamentares circulam sozinhos ou em grupos pequenos, ao contrário do que muitas vezes acontece no partido — em que maioria dos deputados andam sempre em grupo.

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O coração que bateu mais forte e o pedido de ajuda nos corredores

É o caso de Rita Matias, que tentou acreditar-se por diversas vezes durante a manhã, mas o enorme leque de requisições para entrevistas e declarações levou-a a desistir outras tantas vezes. Ainda tentou guardar lugar através de um colega deputado que por ali estava, mas a fila foi avançando e perdeu-o. A única mulher da bancada do Chega tem 23 anos, é a parlamentar mais nova da Assembleia da República e reconhece que o coração bateu mais forte no minuto em que entrou no hemiciclo — os colegas foram dizendo que o nervosismo não existia.

Primeiro dia dos deputados da XV Legislatura na Assembleia da República. Os deputados fazem a sua inscrição no sistema. Rita Matias, deputada do Chega Lisboa, 29 de Março de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR Primeiro dia dos deputados da XV Legislatura na Assembleia da República. Leitura do Relatório da Comissão Eventual de Verificação de Poderes dos Deputados Eleitos e Eleição do presidente da Assembleia da República. Rita Matias do Chega Lisboa, 29 de Março de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

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A idade, o género e o crescimento da bancada que a deputada representa foram um cocktail perfeito para captar grande parte da atenção entre os estreantes que desfilaram nos corredores. Corredores esses onde, apesar de já ter estado algumas vezes, confessa ainda perder-se. Precisa de ajuda e não hesita em pedi-la, até para encontrar a máquina da água que fica mesmo em frente à entrada do grupo parlamentar do PS.

A corrida que não foi para fugir dos nervos e os livros de preparação

As passadeiras vermelhas que estão no chão da casa da democracia são menos desconhecidas para os novos deputados da Iniciativa Liberal, nomeadamente para Bernardo Blanco, que trabalhou dois anos e meio no gabinete de João Cotrim Figueiredo e que chegou a deputado nas últimas legislativas.

É o homem mais novo entre os deputados. Começou o dia a correr no Parque Vale Grande, na freguesia de Santa Clara, mas não para fugir dos nervos. Esses estão guardados para o dia em que tiver de falar pela primeira vez em plenário. Sabe que aí vai sentir o momento de forma mais intensa. Ainda assim, já se anda a preparar e leu “dois ou três livros de public speaking desde que foi eleito. Costumava estar do ‘outro lado’, a analisar discursos de Cotrim Figueiredo, a ajudar a corrigir as falhas e agora está do lado de quem tem de melhorar e é apenas um dos oito deputados da IL que estão a apostar em formação nesta área.

Primeiro dia dos deputados da XV Legislatura na Assembleia da República. Os deputados fazem a sua inscrição no sistema. Bernardo Blanco, deputado da Iniciativa Liberal Lisboa, 29 de Março de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR Primeiro dia dos deputados da XV Legislatura na Assembleia da República. Leitura do Relatório da Comissão Eventual de Verificação de Poderes dos Deputados Eleitos e Eleição do presidente da Assembleia da República. Bernardo Blanco e João Cotrim de Figueiredo da Iniciativa Liberal Lisboa, 29 de Março de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

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Há mais de dois anos que a rotina de Bernardo Blanco passa pelo Parlamento e isso torna-o mais um anfitrião para os liberais estreantes do que um novato. Na Sala Lisboa — que pertencia ao Bloco de Esquerda e que agora é da Iniciativa Liberal — o ambiente do primeiro dia é descontraído.

O fotógrafo de serviço, o apoio das famílias e os almoços fora

João Cotrim Figueiredo está no gabinete parlamentar de máquina fotográfica na mão, uma das grandes paixões da vida do presidente da Iniciativa Liberal. Agora que o protagonismo é a dividir por oito e nem tudo está focado no líder dos liberais, há tempo para uns disparos fotográficos e para guardar memórias de um dia histórico para o partido — o dia em que um deputado único dá espaço a uma bancada parlamentar.

Nas mesas da sala em que estão quatro para quatro — uns vêm do gabinete parlamentar e os outros nunca tinham estado na AR — começam a construir-se outras memórias, com objetos vindos de casa. Há quem traga livros, mas Carla Castro faz questão de ter consigo uma “caixinha” que a acompanha há muito: “Think outside the box.” Descreve-o como uma “quase piada privada e motivacional entre procurar soluções e não ser formatada”.

Primeiro dia dos deputados da XV Legislatura na Assembleia da República. Leitura do Relatório da Comissão Eventual de Verificação de Poderes dos Deputados Eleitos e Eleição do presidente da Assembleia da República. Rodrigo Saraiva da Iniciativa Liberal Lisboa, 29 de Março de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

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No dia em que tomou posse, a nova deputada — que também já fazia parte do gabinete parlamentar e que esteve mais bem-disposta do que nervosa — fez questão de trazer os filhos à Assembleia da República. Já estão habituados a estas andanças, mas sendo este um trabalho que ‘rouba’ tanto tempo à família considera importante envolvê-los. Joana Cordeiro, deputada da IL, não trouxe o filho de cinco anos, que ficou em casa dos avós no dia de estreia da mãe na AR, mas recebeu uma chamada matinal de quem não se esqueceu da importância do momento.

Carla Castro não foi a única que incluiu a família nos planos do dia e não foi a única com visitas. Vários deputados do Chega tomavam café no bar que se situa no corredor onde está o novo gabinete do partido quando Dina Nunes, mulher de André Ventura, apareceu. Não foi difícil encontrá-lo: “Isto é o meu marido a rir-se”, disse enquanto mudava de direção. Não errou, nem seria de esperar.

Pedro dos Santos Frazão, deputado do Chega, aproveitou a hora de almoço para estar com a mulher, que faz anos, (“Estou dividido entre a tomada de posse e o aniversário”), e Rui Paulo Sousa fez exatamente o mesmo: preferiu um almoço com a mulher nas Docas do que juntar-se aos colegas que optaram por uma refeição na Assembleia da República.

De manhã, Rui Paulo Sousa chegou antes das 9h00 ao Parlamento e fez questão de trazer alguns livros para compor o gabinete em que vai ficar: a Constituição, alguns volumes de livros de Direito Constitucional, de Jorge Miranda, livros de Gestão, de Contabilidade Financeira, “Terrorismo Religioso” e “Populismo e Democracia”, de José Filipe Pinto.

Primeiro dia da XV Legislatura na Assembleia da República. Os deputados fazem a sua inscrição no sistema. O saco que é oferecido aos deputados Lisboa, 29 de Março de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR Processo de rececão aos novos deputados na Assembleia da República, Lisboa, 29 de março de 2022.  ANTÓNIO COTRIM/LUSA Primeiro dia dos deputados da XV Legislatura na Assembleia da República. Os deputados fazem a sua inscrição no sistema. Lisboa, 29 de Março de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

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O kit oferta, o autocarro e os deputados que andam sempre juntos

A Constituição que o deputado do Chega trouxe nem vai fazer falta, já que o kit de boas-vindas oferecido aos novos parlamentares (a todos, não só aos novos) trazia um saco onde estava esse mesmo livro, bem como o regimento da AR, uma agenda, vários postais e algumas folhas com informações. Para ali chegarem, toda a casa da democracia estava preparada com setas indicativas e com placas com QR Code para facilitar a vida.

As setas levavam ao corredor mais concorrido durante todo o dia, que dava acesso ao Salão Nobre, onde os deputados se acreditaram. O processo começava com uma fotografia — aqui não era João Cotrim Figueiredo que estava de serviço — e terminava com a inscrição nos serviços do Parlamento.

“Vou atrás de vocês que não conheço o caminho.” O passo apressado é de uma deputada nova que procura não correr o risco de se perder nos caminhos que, como é hábito, levam muitos ao engano. Cristiana Ferreira conhece bem o sentimento. Eleita pelo círculo de Viseu, confessa sentir “mixed fellings entre a ansiedade e o entusiasmo” do momento da tomada de posse.

Primeiro dia dos deputados da XV Legislatura na Assembleia da República. Os deputados fazem a sua inscrição no sistema. Cristiana Ferreira, deputada do PSD Lisboa, 29 de Março de 2022. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

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Por estes dias, pelo menos enquanto não conhece os cantos à casa, prefere andar em grupo. Como no distrito de Viseu só o cabeça de lista, Hugo Carvalho, já era deputado, sentem-se todos no mesmo barco. Porém, apesar das indicações, teve de pedir ajuda mesmo para ir buscar um café. “É tudo confuso, mas vamos conhecer rápido tudo.”

Rui Rocha é um dos novatos que já não precisa desse tipo apoio. Passado pouco tempo do resultado das eleições, os deputados da IL começaram a marcar presença constante na AR e a serem postos a par tanto das questões teóricas como das práticas.

O deputado liberal eleito por Braga chegou de autocarro à Assembleia da República, apanhou o 727, e antes de tomar posse ainda arranjou tempo para fazer uma entrevista para o gabinete parlamentar, que ainda não está fechado. Na bagagem, além da vontade constante de marcar presença no Twitter — um gosto que vem de longe — trouxe um livro sobre Bitcoin, uma prenda de Dia do Pai da filha mais nova.

Se ali bem perto as máscaras marcaram o dia, também há um dress code entre os liberais: ninguém usa gravata. Fato sim, sem gravata — à imagem daquela que foi a tradição de João Cotrim Figueiredo ao longo dos últimos dois anos.

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