790kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

AFP/Getty Images

AFP/Getty Images

“Ouvi tiros, gritos, depois não sabia o que fazer"

Depois de descer o nível de alerta, a polícia lançou várias operações e deteve pelo menos nove pessoas. Dois suspeitos foram alvejados esta sexta-feira. Reportagem do enviado especial do Observador.

O nível de alerta terrorista foi reduzido na quinta-feira, mas a caça ao homem parece longe de terminar. As sirenes têm-se feito ouvir um pouco por toda a cidade e de forma constante e as autoridades belgas detiveram mais três homens esta sexta-feira, dois dos quais foram alvejados numa perna. O ambiente em Bruxelas é tenso e parece estar para continuar.

Desde os atentados de terça-feira, que provocaram a morte a 31 pessoas e deixaram quase 300 feridos, alguns deles ainda em estado crítico e com prognóstico reservado, que as autoridades belgas têm-se desdobrado em raides, rusgas e todo o tipo de operações.

Na quinta-feira à noite, mais uma mega-operação policial em três comunas da capital belga: Bruxelas, Jette e Schaerbeek. As autoridades detiveram seis pessoas e entre elas estará Fayçal Cheffou, o único nome entre os três que foram detidos nestas operações que foi dado a conhecer.

Em França, Reda Kriket, um dos homens condenados (estava em fuga) pela justiça pelos ataques de Paris a 13 de novembro do ano passado, e que provocou a morte a cerca de 130 pessoas, foi detido. Bernard Cazeneuve, ministro do Interior francês, diz que com esta operação as autoridades impediram um atentado cujo plano já estava em fase avançada, tendo encontrado armas e explosivos. Reda Kriket foi detido em Argenteuil, um subúrbio de Paris.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As operações foram retomadas esta manhã, novamente em Schaerbeek, mas também em Forest e Saint-Gilles (local onde há uma forte presença da comunidade portuguesa), alegadamente despoletadas por informações conseguidas em Paris, com a detenção de Reda Kriket.

Em Meiser, na parte oeste do distrito de Schaerbeek, a operação foi crescendo até ao início da tarde, altura em que testemunhas dizem ter ouvido duas explosões, confirmadas pelo burgomestre da comuna, que diz terem-se tratado de explosões controladas. A polícia belga procurava explosivos e pelo menos mais uma explosão aconteceu ao início da tarde, testemunhada no local pelo Observador, que pode ter resultado de uma carga colocada pelas autoridades. Antes disso ouviram-se tiros.

A paragem de elétrico em Meiser, Schaerbeek, onde o homem foi baleado na perna

“Ouvi tiros, gritos, depois não sabia o que havia de fazer e comecei a correr para a escola e avisei todos os meus amigos para começarem a correr para a escola”, explicou Wilma Correia, 17 anos, uma estudante portuguesa de Setúbal que vive há oito anos com a sua família em Bruxelas.

Os acessos à rotunda de Meiser foram quase todos cortados pelo forte dispositivo policial no local, mas ainda houve um homem detido, já depois de ser baleado numa perna. Segundo relatos de testemunhas que falaram com o Observador, o homem terá saído de casa com uma mala ao ombro e foi intercetado pela polícia. O homem recusou os vários pedidos das autoridades para pousar a mala e acabou por ser baleado numa perna, quanto estava na estação do elétrico de Meiser.

“A polícia já está aqui desde as 8h00 da manhã. Um homem saiu dali do apartamento dele, sem fazer nada, a policia pediu-lhe para abrir o saco, ele não quis. Recusou várias vezes, então aí é que ele começou a correr para ali para o elétrico. A polícia atirou uma bala na perna, para acalmá-lo e largar o saco, mas ele não quis largar o saco. Ficou estendido no chão. Não sei o que se passou depois”, disse ao Observador Nuno Tito, 19 anos, um estudante luso-descendente que se encontrava numa casa de apostas no lado oposto da rua ao da estação do elétrico onde tudo aconteceu.

Algumas imagens captadas no local por habitantes mostram o homem no chão, já depois de ser baleado, a ser intercetado pela polícia, sempre sem largar a mala. Junto a si estavam ainda uma mulher e uma criança, não se sabendo ainda se se tratava de passageiros do elétrico, reféns ou acompanhantes do homem detido. Depois de retiradas do local, a polícia lançou ainda um robot de deteção de explosivos para verificar a mala. Poucas horas depois, a meio da tarde, o local foi libertado.


Opération Schaerbeek 3 par sudpresse

Em Forest e Saint-Gilles foram detidos mais dois homens, identificados pelas autoridades como sendo Twafik A. e Salah A.. Tawfik também terá sido baleado numa perna.

As operações não terminaram por aqui. Em Schaerbeek, mais uma vez, a polícia realizava uma outra operação ao final da tarde, já depois de terminada a operação em Meiser.

Dois homens ainda em fuga

As autoridades ainda não capturaram o suspeito no vídeo divulgado no aeroporto onde alegadamente surgem os dois bombistas que provocaram a morte a 11 pessoas em Zaventem. O homem, nas imagens de gabardina branca, terá ajudado os dois suicidas e suspeita-se que tenha deixado uma terceira bomba no local, que acabou por não explodir e foi posteriormente desativada pelas autoridades. Esta terceira bomba seria a mais potente das três.

A polícia belga continua ainda à procura de um homem que suspeita que tenha sido cúmplice de Khalid el-Bakraoui, o homem que se fez explodir no metro de Maalbeek, na Rue de la Loi, a poucos minutos dos edifícios da Comissão Europeia e do Conselho Europeu. A explosão em Maalbeek foi a mais mortífera, provocando 20 mortos. A identidade deste homem não foi dada a conhecer pelas autoridades, não sendo claro se a polícia já o identificou.

Autoridades admitem erros no processo

Esta sexta-feira foi ainda revelado pelas autoridades mais um erro no combate a esta rede, que pode ter custado vidas. Segundo a polícia de Mechelen, esta força recebeu informações sobre a casa em Bruxelas onde foi detido Salah Abdeslam. As informações chegaram em dezembro do ano passado, um mês depois dos atentados de Paris, mas Abdeslam só foi detido na semana passada.

O erro terá sido de um agente que se esqueceu de introduzir a informação na base de dados nacional das polícias belgas, admitiu o chefe da polícia de Mechelen, cujo autarca local tem lançado várias críticas à forma como as várias polícias de Bruxelas têm conduzido o processo.

No Parlamento, também esta sexta-feira, três ministros do Governo belga foram dar explicações aos deputados sobre o processo. Entre as explicações esteve a falha que fez com que a polícia belga não tivesse na mira Ibrahim el-Bakraoui, que tinha sido marcado como um combatente do Estado Islâmico pela Turquia. Segundo o ministro do Interior belga, a culpa é de um funcionário da embaixada da Bélgica na Turquia, que não transmitiu todas as informações às autoridades na Bélgica.

Habitantes de Bruxelas ainda em choque

“Quando se passa mesmo ao lado de nós, nós aí é que percebemos que vivemos num mundo em que já não há segurança”, é como resume o jovem português o sentimento nesta altura em Bruxelas. Em conversa, Nuno Tito explica que o sentimento em novembro, depois dos atentados de Paris, era muito diferente. Bruxelas foi praticamente encerrada pelas forças armadas e pela polícia, mas os seus habitantes não o sentiram da mesma forma. “Nunca houve nada disto aqui”, acrescenta.

Wilma Correia pensa da mesma forma: “Paris? Nada a ver. Em dezembro as pessoas ainda estavam um pouco normais… Mesmo o que se passou aqui em Bruxelas é diferente”, diz.

“Agora está mesmo tudo mau. As pessoas têm medo, não sabem como é que podem viver, não sabem se podem sair ou não”, explicou. Schaerbeek, onde vive, era, diz, um bairro alegre. Desde terça-feira que isso mudou. E na escola as instruções também são diferentes.

“Disseram-nos para irmos todos para a turma e para não estarmos perto das janelas, (…) para não sairmos ao meio dia, para estarmos todos juntos e evitar grupos depois da escola, caso alguma coisa aconteça.”

Três jovens são algemados e detidos pela polícia numa rua perto da rotunda de Meiser, por provocarem distúrbios.

Regresso à normalidade a conta gotas

À medida que os dias vão passando, os bruxelenses tentam voltar à normalidade, dentro do possível. As restrições nos transportes começam a aliviar, mas ainda existem muitas. Há mais linhas de autocarro a funcionar, mas ainda com limitações de percurso e de horários.

O mesmo nas linhas do metro. A estação de Maalbeek está fechada e assim vai continuar, mas há mais estações a funcionar. Nas portas, exército e polícia continuam a fazer a revista de todos os passageiros antes de entrarem nas estações. No caso das estações mais centrais, a presença das autoridades é ainda mais forte e todas as carruagens são inspecionadas antes de o comboio poder avançar novamente, como o Observador constatou no local.

Pessoas acumulam-se à espera da revista dos militares à porta da Gare Central de Bruxelas

AFP/Getty Images

No caso do Zaventem, o principal aeroporto de Bruxelas, não deve abrir pelo menos antes do final da noite de domingo. “Até avaliarmos os danos, não é claro quando poderemos recomeçar as operações”, de acordo com a empresa que gere o aeroporto.

A empresa ainda não teve acesso ao local, onde a polícia continua a fazer perícias. No entanto, algumas das malas que foram deixadas no aeroporto começaram a ser devolvidas, tal como os carros que estavam estacionados no local. Ainda assim, mesmo para se recuperarem malas e carros, há fortes limitações: só serão devolvidas malas que tinham sido despachadas para voos de alguns aviões que já estavam na pista e algumas que foram deixadas em certas partes do aeroporto. A bagagem que foi deixada dentro do aeroporto, nos corredores das partidas e das chegadas, ainda não está disponível.

Quem quiser recuperar o seu carro, não pode levar consigo malas, mochilas ou computadores portáteis e só uma pessoa pode apanhar o autocarro que foi disponibilizado para os parques de estacionamento, por cada carro.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora