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Pedro Borges, que esteve por trás da reabertura do Cinema Ideal em 2014 e cuja distribuidora Midas Filmes explora a sala desde então
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Pedro Borges, que esteve por trás da reabertura do Cinema Ideal em 2014 e cuja distribuidora Midas Filmes explora a sala desde então

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Pedro Borges, que esteve por trás da reabertura do Cinema Ideal em 2014 e cuja distribuidora Midas Filmes explora a sala desde então

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Pedro Borges, 10 anos de Ideal e os cinemas portugueses: "Se não houver salas não há espectadores"

O produtor e distribuidor da Midas Filmes quis devolver a Lisboa um cinema de bairro. Uma pandemia e uma avalanche turística depois, como vive o Cinema Ideal e a exibição de filmes em Portugal?

Há dez anos, uma sala de cinema abriu em vez de fechar. No número 15 da Rua do Loreto, em Lisboa, o Cinema Ideal inaugurou num absoluto contraciclo face ao desaparecimento galopante dos cinemas de bairro da capital. “Quem são estes palermas que acham que vão recuperar um cinema e logo aquele cinema porno?”, recorda Pedro Borges, que esteve por trás da reabertura e cuja distribuidora (Midas Filmes) explora a sala entre o Largo de Camões e a Calçada do Combro. “Havia uma natural simpatia pela inconsciência da ideia”, lembra.

Inaugurado em 1904 por João Freire Correia, fotógrafo lisboeta que mais tarde se ligou à produção de filmes, o Salão Ideal é apontado pela historiadora Margarida Acciaiuoli, autora de Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX (Bizâncio), como “o primeiro salão que aparece na cidade com alguma estabilidade”. Ao longo de 120 anos, a sala conheceu vários nomes: Salão Loreto, Salão Ideal, Cine Camões, Cine Paraíso. Com a perda de espectadores viria a fechar, como tantas outras salas. Até que, em 2014, o espaço foi alvo de uma profunda recuperação e renovação no âmbito de um projeto conjunto da Casa da Imprensa, proprietária do edifício, e da Midas Filmes, responsável pela execução. A recuperação ficou a cargo do arquiteto José Neves, Prémio Secil de Arquitectura 2012 e cinéfilo, e teve um custo de cerca de 600 mil euros.

Desde então que o Cinema Ideal se afirmou como a única sala de cinema do centro histórico da capital, privilegiando o cinema independente, e em particular o cinema português e europeu, com sessões especiais, acolhimento de festivais e um serviço à população da freguesia em que está inserida, em articulação com a Junta de Freguesia, promovendo sessões para os mais novos. Só que o bairro mudou. Nas últimas semanas foram vários os anúncios de encerramento de estabelecimentos comerciais simbólicos da cidade de Lisboa, alguns dos quais classificados como Lojas com História. Mas os efeitos da turistificação de Lisboa, num bairro onde populam lojas de souvenirs e alojamentos locais, há muito chegaram à sala de cinema no olho do furacão, como conta Pedro Borges ao Observador.

Em entrevista, o responsável pelo Cinema Ideal aponta ainda o impacto da pandemia nos hábitos de consumo, reflete sobre a falta de cinemas em Lisboa e critica a falta de apoios públicos ao sector da exibição. Ainda assim, “estamos a dar qualquer coisa à cidade e aos lisboetas”.

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Na sala de cinema na Rua do Loreto mostram-se filmes desde 1904. O espaço, que conheceu diversas designações ao longo dos anos, reabriu em 2014, restaurado e refeito de alto a baixo

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

“A abertura do cinema, num contexto económico difícil, é uma escolha corajosa e arriscada e uma declaração de confiança”, dizia o comunicado dos Prémios Europa Cinemas quando o distinguiram como empreendedor do ano, em 2016. Porque arriscou abrir uma sala de cinema quando outras fechavam?
Quando deixei de trabalhar noutro sítio e a Midas começa em 2006 sabia que era muito importante ter uma sala de cinema. Ser distribuidor sem ser exibidor era muito limitativo. Na altura havia o [Cinema City] Alvalade e o El Corte Inglés onde podíamos estrear alguns filmes, mas nunca era exatamente para ali que os filmes eram destinados. Na altura não havia o [Cinema] Trindade, no Porto. Este espaço do Ideal teve sempre uma programação interessante, depois acabou os últimos 10 anos como cinema porno, mas tinha tido sempre um estatuto, toda a gente o conhecia.

A partir de 2008 metemos na cabeça que era aqui que se devia fazer alguma coisa porque o Ideal era o único cinema que sobrava no centro histórico de Lisboa. Na altura a vida em Lisboa e a vida nesta área da cidade era completamente diferente. Toda a gente vinha jantar fora ao Bairro Alto, festejar no Cais do Sodré, isto era uma situação privilegiadíssima. Foi por isso que começámos a batalhar por este projeto.

Tínhamos um grande otimismo na frequência e rentabilidade futuras. Só que entretanto a cidade mudou imenso. A grande diferença é que havia muitas pessoas que moravam num raio de 20, 30 minutos daqui a andar a pé. Pessoas que vinham a pé ao cinema, que não precisavam de apanhar transportes, nem vir de carro. Havia muitos escritórios, ateliês, muita gente que trabalhava aqui nesta zona. Eram aquelas pessoas que saem às cinco ou às seis e meia, vão ver um filme e só depois é que vão para casa ou jantar. Isso é a grande diferença. O nosso problema não é a frequência, não é a programação, não é não conseguir enfrentar os encargos.

O problema é ter um cinema no Chiado?
Hoje em dia não é muito agradável vir para o Chiado. Os transportes são maus, a quantidade de pessoas na rua é tremenda, não se veem portugueses. Não é agradável vir passear. A Baixa, em geral, era um sítio simpático. Foi isso que mudou imenso. Não havia nada de especial no facto de ter feito aquilo. Tivemos uma sorte tremenda que foi o arquiteto e o empreiteiro da obra. Já conhecia o José Neves de outras vidas, é um arquiteto que já tinha organizado ciclos de cinema com a Cinemateca. Além de ser um amigo, queria imenso fazer um cinema, pela ligação intelectual que tinha ao cinema.

Descreveu que para abrir o Ideal precisou de ter uma certa dose de inconsciência…
Na atividade do cinema é sempre essencial ter alguma dose de inconsciência. Temos que ser responsáveis, porque é preciso pagar as dívidas, não se pode ficar a dever, mas há sempre envolvida uma certa dose de inconsciência. Se quisermos que esteja tudo garantido nunca se vai fazer nada. Tudo implica risco, claro. Podia ter corrido tudo mal. Apesar de tudo, conseguimos convencer a burocracia camarária, a burocracia do Estado, a IGAC… Foi uma coisa extravagante. Quem são estes palermas que acham que vão recuperar um cinema e logo aquele cinema porno? Criou-se alguma simpatia natural pela inconsciência da ideia e isso facilitou algumas coisas. Quem é que vai agora estar a restaurar um cinema, e um cinema com uma sala só? Um cinema numa sala só não funciona em lado nenhum, e aquilo como foi porno ninguém vai lá querer entrar. O maluco foi fazer um cinema… As coisas que faço em geral, e que sempre fiz, não têm essa simpatia natural que o cinema teve.

Depois, quando as pessoas o conhecem aberto, já não estão habituadas a ver um cinema que tem uma personalidade própria, no sentido de arquitetura, e sobretudo arquitetura de interiores. [O Cinema Ideal] tem uma assinatura própria, uma identidade, e isso as pessoas já não conheciam dos cinemas. Não conheceram o Éden, o Tivoli que veem não tem interesse nenhum, o [Cinema] São Jorge mais ou menos. Uma coisa nova que tem uma identidade própria as pessoas já não sabiam que podia existir. Mesmo que não gostem das cadeiras. Há muita gente que não gosta.

O produtor fundou a Midas Filmes em 2006, depois de ter trabalhado com Paulo Branco na Atalanta Filmes durante mais de 15 anos

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

As críticas às cadeiras são um facto. Porque escolheu estas cadeiras?
São maravilhosas. São de um designer finlandês e iguais às cadeiras da ópera de Helsínquia. Já sou velho, mas havia cadeiras de pau e não era aqui. Quando o Éden fechou, as cadeiras da plateia mais perto do ecrã eram ainda em madeira. Isto nos anos 80. Só quando o cinema foi para os shoppings é que os americanos passaram a ter aquelas coisas para dormir. Serve para dormir, não serve para mais nada. Se entrar numa sala parecida, com os mesmos metros cúbicos, as cadeiras standard dos cinemas são coisas pesadíssimas do ponto de vista visual. Quando entra no Cinema Ideal, a sala parece muito maior. É uma escolha muito certa. Não tem é esse paradigma de as pessoas sentarem-se ali e pensarem: “dormia aqui tão bem a minha sesta”. O cinema não é para dormir sestas. Mas as pessoas têm sempre de encontrar qualquer coisa para embirrar.

Mede o sucesso pelo número de espectadores? Quantos está a fazer o Cinema Ideal?
O nosso melhor ano foi 2019: 40.989. É um número fácil de decorar. E ainda não recuperámos. Gostava de não baixar dos 40 mil, mas estamos abaixo disso — o total de 2023 foram 30.123 espectadores, uma subida de 18% em relação ao ano de 2022. Não sei se é possível voltar ao que era. Por essa Europa fora a situação não é muito diferente. Com a pandemia, há pessoas que se habituaram a ver cinema em casa. E são pessoas que são uma parte grande do nosso público. É isso que explica que estejamos ainda um bocadinho abaixo. Agora não podemos fechar porque temos dívidas para pagar. E porque acho que estamos a dar qualquer coisa à cidade e aos lisboetas — e ao país, do ponto de vista simbólico.

Mas algo se perdeu?
Há uma derrota profunda em tudo o que fizemos desde há dez anos: achei que podiam aparecer outros cinemas parecidos. Com melhores cadeiras, claro, mas parecidos. O Trindade, no Porto, que vem mais ou menos dois anos depois, é a reabertura de um espaço que nunca deixou de existir. O impacto público da existência do Ideal, os prémios que recebeu de arquitetura… Achei que isso podia levar as pessoas a dizer “se calhar aqui em Faro também devíamos ter uma coisa destas”. E em Évora, Viseu, Aveiro… Achei que houvesse pessoas e autarquias, convencidas pelo ICA e pelo Ministério da Cultura, a dizer: se isto pode funcionar no Chiado, porque é que não pode funcionar na nossa cidade? Será que não temos a obrigação de que haja uma coisa igual nesta cidade?

Qual é o investimento da Câmara Municipal de Lisboa no Cinema Ideal?
É um apoio anual. Tem variado. Era 40 mil e depois da pandemia foi aumentando para fazer face à pandemia e agora está um bocadinho acima disso. É de 50 mil neste momento. Mas lá está, no dia em que um vereador da Cultura diga “afinal não”, fica muito complicado…

Sem o apoio do município, o Cinema Ideal fecharia?
Não estou a dizer que fecharia. Passava talvez a dar meia sessão por dia, não sei. É o mesmo apoio que tem o Nimas, já antes de nós. É um serviço que estamos a dar à cidade e é uma verba quase inexistente nos não sei quantos milhões que a Câmara tem para apoios a toda a atividade cultural, a teatros, coletividades e atividades. A EGEAC tem um orçamento de 20 e tal milhões [de euros] por ano. 40 mil para o Ideal é uns dinheiros que caíram ao chão e que a gente apanhou. E é uma bela ajuda.

"Dois terços da programação do Nimas é com clássicos. Corre lindamente e acho muito bem. A mim preocupa-me que o cinema seja uma arte viva e que aquilo que está a fazer hoje em dia exista e que as pessoas possam ver. O nosso trabalho é mostrar"

Dizia que esperava que o Cinema Ideal motivasse outras aberturas pelo país. O que o leva a desconsiderar o Batalha Centro de Cinema, no Porto, ou a Casa do Cinema, em Coimbra, herdeiros desse movimento?
O Batalha não é um cinema de estreia, é uma espécie de uma cinemateca, diria cinemateca de vanguarda. É o que o Batalha faz. Claro que mostramos clássicos, com o [Nanni] Moretti estreámos um filme que ele fez em 1990 e que nunca estreou cá e que tem uma relação mais ou menos direta com este filme. Faz sentido. Mas a nossa programação é sobre a atualidade. Dois terços da programação do Nimas é com clássicos. Corre lindamente e acho muito bem. A mim preocupa-me que o cinema seja uma arte viva e que aquilo que está a fazer hoje em dia continue a existir e que as pessoas possam ver. O nosso trabalho é mostrar. Depois as pessoas vêm ou não vêm. Os filmes que programamos ou que a Midas estreia têm sempre essa ligação. Isto é uma atividade comercial. Tem que sair dinheiro e tem que entrar. Depois há apoios públicos, pelas razões evidentes para toda a gente e que provavelmente deviam ser muito maiores.

Teve apoios?
Para abrir um cinema tive zero euros de apoio à obra em si. Dei sempre o exemplo: se abrisse uma fábrica de sapatos em Odivelas, tinha um programa qualquer que me dava 60%. Para o cinema não há. Isso é uma das guerras absolutamente perdidas, que é não se conseguir alargar a atividade cultural àquilo que existe em termos de apoios à atividade comercial e industrial normal. A Autoeuropa é maravilhosa para o país, mas o país deu à Volkswagen milhões para que se viessem a instalar cá. Para abrir cinemas não há nada.

"Há uma derrota profunda em tudo o que fizemos desde há 10 anos, que é: achei que podiam aparecer outros cinemas parecidos. Que pessoas e autarquias dissessem: se isto funciona no Chiado, porque é que não funciona na nossa cidade?"

A escassez de espectadores foi um argumento utilizado em encerramentos como o do Cinema Londres, em 2013, ou do cinema do Saldanha Residence, em 2015, ambos em Lisboa. Se não há espectadores, pode dizer-se que a cidade tem falta de cinemas?
Diziam que o Porto não tinha espectadores de cinema, que era escusado fazer qualquer coisa no Porto. E, de repente, o Trindade tem 60 mil espectadores. Como não eram bebés nascidos naquele ano, parte-se do princípio que os espectadores já lá estavam, não tinham era um cinema onde pudessem ir. Sempre foi assim. Sou o primeiro a admitir que estamos abaixo do que estávamos em 2019, mas o número de espectadores do país, provavelmente este ano vai estar muito próximo dos valores antes da pandemia. Não é por aí. As pessoas podem é estar mais facilmente a voltar ao cinema para ver blockbusters americanos. Há outros que fizeram em Portugal proporcionalmente mais do que noutros mercados. Portanto, a coisa não é tão simples e tão direta assim. Mas se não houver salas para ir não há espectadores.

Defende, portanto, que em Lisboa há falta de salas de cinema?
Claro. Faltam desesperadamente.

O programa Um Teatro em Cada Bairro tem reabilitado vários espaços na cidade de Lisboa. Por comparação, faria sentido ter um cinema em cada bairro?
Há dez anos achava que sim, que podia haver um Ideal na Graça, que era só o primeiro-ministro ir falar com o Pingo Doce [o supermercado está instalado no espaço de um antigo cinema] e dizer que iam tirá-lo do Cinema Royal.

Cujo interior foi destruído.
Sim, mas está lá a fachada maravilhosa. O interior é uma sala aberta. Um cinema é uma sala, desde que o telhado não caia. Mas há espaço. Há espaço para centros culturais. O cinema tem sobre as outra atividades uma vantagem: que abre sete dias por semana e desse ponto de vista já é serviço público. Está pelo menos aberto 10 horas por dia, das 14h à meia-noite. E é interclassista, com alguns limites. É das poucas atividades onde não há uma hierarquização. Vai ao Coliseu e senta-se na primeira plateia para ver o Caetano [Veloso] e paga 120 euros, quando vai para o galinheiro paga 20. Há uma estratificação que não existe no cinema. No cinema somos todos iguais.

Voltando ao Cinema Ideal, que se distingue por estar numa zona intensamente turística. Nos últimos anos temos assistido ao despovoamento do centro histórico e à saída de moradores, que em teoria seriam espectadores…
Uma parte considerável.

Em termos de receita, os turistas estão a compensar este êxodo de moradores?
Os turistas não. A não ser em Paris, que sempre foi assim. Ninguém vai a Madrid e diz “deixa-me ir ver um filme”. Vai conhecer a cidade, os museus, os restaurantes, a tourada. Não se vai fechar num cinema. Há cinéfilos especiais que vão, mas o turismo para este tipo de atividade não serve. É como uma livraria. O turismo não traz nada a uma livraria nesta zona. As pessoas foram expulsas da cidade. As pessoas não saíram. Foram expulsas. Parece violento e é. Deixou de haver espaço para habitantes. A freguesia de Santa Maria Maior é a pior, perdeu 35% dos eleitores — e isso quer dizer habitantes. A da Misericórdia, que vai desde o Cais do Sodré até uma ponta do Príncipe Real, também perdeu quase 30% dos eleitores. Abre o Google e só lhe aparecem AL (Alojamentos Locais). É aterrador.

Refletiu-se na frequência do Cinema Ideal?
Sim. O cinema sempre foi uma coisa das pessoas que vivem perto. O Quarteto nos seus melhores dias ou o King tinha toda aquela zona de pessoas que iam a pé até lá. Não é cinema de bairro no sentido em que havia, mas faz parte que quem trabalha e quem vive seja uma parte considerável. Convém estar num sítio onde as pessoas vão beber um copo, jantar. Isso tudo desapareceu daqui.

A programação de cinema português no Cinema Ideal "anda à volta dos 20, 25%". "É natural estrear os portugueses, não são piores que os outros", resume Pedro Borges

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Ponderou abrir uma segunda sala de cinema?
Não, um segundo cinema com quatro salas. Hoje em dia consegue-se operar quatro salas basicamente com o mesmo número de pessoal que se tem para uma sala só. A projeção pode ser comandada pelo computador da bilheteira. Temos um programa que permite que as portas corta-fogo se desprendam e fechem com tudo comandado pela bilheteira, não é preciso ninguém carregar no botão. Se diferenciar o horário de início de cada sessão e de fim de cada sessão são duas, três pessoas que fazem o serviço para as quatro salas. Para programar, para poder ter em exibição os filmes que interessam, albergar festivais, fazer reposições, ter coisas estranhas a acontecer, o ideal é ter quatro salas e uma sala pelo menos cujo ecrã seja o dobro deste, um ecrã com 14 metros de largura, porque há filmes que ficam diferentes. Era isso que era preciso em Lisboa. Sobretudo se puder associar a outras atividades. Livraria, teatro, exposições, um bom café-restaurante, com coisas boas sem ser caras.

Refere-se a algum espaço em particular?
Teria de ser um espaço que fosse propriedade pública, municipal ou da administração pública, que o preço do imobiliário em Lisboa é um disparate. Sou estatista, mas estou sempre a ser apanhado por inimigos de direita porque no caso da cultura defendo que seja tudo fora do Estado, porque acho o Estado um veneno tremendo. É uma contradição horrível. Há dois mundos separados que vivem em paralelo. As pessoas que trabalham para o Estado na cultura e as que não têm vidas completamente diferentes. Os artistas, técnicos e os profissionais. Quando foi a pandemia disse isso: vocês ao dia 23 o ordenado está lá. Eu no dia 23 não sei onde vou buscar os ordenados que tenho de pagar todos os meses. Aqui damos 365 dias por ano, 10 horas por dia. Quantas horas por ano é que o [Cinema] São Jorge está aberto e a funcionar?

Considera que o Cinema São Jorge está a ser subaproveitado com a atividade que desenvolve?
O São Jorge é uma sala de espetáculos, não é uma sala de cinema. A própria sala 3 do São Jorge atualmente não é uma sala de cinema, é uma sala para eventos, acontecimentos, debates, discussões, já não tem uma plateia. O São Jorge tem stand up comedy, espetáculos, já lá vi concertos magníficos. Mas não é um cinema. É uma sala de espetáculos da Câmara de Lisboa que provavelmente se juntarmos a atividade toda é mais de metade. Mas há muito mais a acontecer ali. Sobretudo é para festivais de cinema.

E isso é negativo?
Não tem a ver só com o cinema, tem a ver com outras áreas da cultura. A festivalização da cultura em Portugal ocupa muito mais espaço físico e espaço simbólico do que num país normal.

Não acredita que uma ida ao cinema no contexto de festival sirva para captar público?
Capta novo público de festival, não capta novo público de cinema. O festival autoreproduz-se. Cria novos espectadores de festival. As pessoas vão a eventos. É um efeito de moda. É incrível, os festivais impuseram-se publicamente. Tiro-lhes o chapéu.

O Cinema Ideal recebe festivais de cinema.
Recebe, claro. Resignamo-nos àquilo que é a realidade. Não temos a ambição de mudar a realidade nem as pessoas. Gostávamos era que quem vem aqui nos dez dias do festival que na semana seguinte viessem cá e assim sucessivamente. Ainda no outro dia a Leonor Teles me disse: “quando vi o Chungking Express (1994) era uma miúda, ainda ia para a escola de cinema, nem sabia que o King era ali”. Isso é deixar uma marca. Num festival isso não acontece. São dois mundos que correm em paralelo, mas que pouco se cruzam. Não estou a dizer que pessoas que vão todas as semanas ao cinema não vão também lá ver filmes. Há filmes que achamos que não podemos estrear e é porreiro passar num festival. Mas gosto de trabalhar é para filmes que ficam quatro, seis semanas em estreia, e que depois se podem ver em DVD e na televisão e em casa e que duram.

Além da sala de cinema, com 190 lugares, o cinema inclui no espaço uma loja de venda de DVD, cartazes de filmes e livros sobre cinema

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Quando está a programar no Cinema Ideal, é isso que o move, os filmes que ficarão na memória?
Há uma coisa que é: nunca programar em função do gosto pessoal. Mas isso é para tudo. Já sei que com o Jean-Luc Godard vamos perder dinheiro, mas temos de estrear o Godard porque o Godard tem de estrear em Portugal. No cinema há coisas absolutamente obrigatórias. Odeio O Triângulo da Tristeza (2022), acho um filme desprezível, um vómito. Posso dizer as coisas mais horríveis, mas não vou deixar de o estrear por isso. Porque tem a Palma de Ouro e há pessoas que o acham uma obra-prima. E, sobretudo, os espectadores que vêm ao Ideal querem ver esse filme.

Não custa programar um filme de que não se gosta?
Não me custa nada porque não é para mim. Se programasse para mim fazia uma sessão por mês e tinha três pessoas. Tem de ser sempre para fora. Nunca dou opinião sobre os filmes portugueses que estreio. É produzido por alguém sério, o realizador até se esforçou, não tem é grande talento, e esteve no festival A, B e C? Com certeza que tem uma janela. Com os apoios públicos que temos, isto não é à vontade do freguês. Tenho de prestar contas todos os anos para renovar esses apoios, porque nenhum é garantido e de mais de um ano. Não é como no teatro em que se fazem apoios a quatro anos. Aqui todos anos é preciso candidatar e logo vemos se nos dão ou não. Na criação artística é complicado porque corremos o risco de nos enganar. Um filme que vi há 15 anos e que achava que era uma obra-prima posso ver agora e pensar “enganei-me tanto”. É melhor não exagerarmos.

Há uma responsabilidade sobre o Cinema Ideal para exibir cinema português?
Claro. Mas não sou a favor de quotas. Só no caso de homens e mulheres e pessoas de origens humildes, de cor… O pôr quotas para o cinema português ou é natural ou não vale a pena.

Qual é atualmente a percentagem de cinema português na programação?
Varia. Anda à volta dos 20, 25%. É natural estrear os portugueses, não são piores que os outros. Há dinheiro que vem do ICA, da Câmara de Lisboa, e é para isso que serve. O apoio europeu da Europa Cinemas também exige ter um mínimo de programação de origem europeia.

Qual é valor do apoio da Europa Cinemas?
Cerca de 11 mil por ano, mas também varia. É triste estarmos dependente de apoios públicos. Há 30 anos era muito residual o apoio público ao cinema e é porque a situação piorou. Preferia ter maior liberdade do que aquela que tenho.

Em que é que receber apoios lhe retira liberdade?
Fazemos as coisas com independência, mas estamos sempre sujeitos a pessoas que abusam da nossa simpatia. Preferia não ter falar com aquelas pessoas, fazer candidaturas. Naturalmente estreamos filmes portugueses, naturalmente fazemos sessões infantis nas férias escolares com a Junta de Freguesia. Das melhores coisas é ter aqui a miudagem. Essas contrapartidas são naturais. Mas na administração pública as pessoas acham sempre que estão a dar dinheiro delas e que somos pedintes de mão estendida. Não percebem que aquilo é a obrigação delas. O Instituto de Cinema só existe porque existe cinema português, se não existíssemos não existia instituto para gerir os apoios públicos. Ainda por cima o instituto funciona com uma taxa sobre a atividade, não vem do orçamento geral do Estado.

O que quer isso dizer?
Estão a gerir uma taxa que se cobra à NOS, à MEO, que nos dão serviços de cabo. Aquilo nem sequer é dinheiro propriamente do Estado, é dinheiro que o Estado recolhe da atividade para redistribuir pela atividade. Mas somos tratados que nem cães. Andam nas antestreias como se viessem ver os súbditos a quem distribuíram umas notas do cofre do tesouro real. Não. Eles é que são criados dos artistas, e criados transitórios. O João Canijo e a Rita Blanco estão aqui há 30 e tal anos. Quantos ministros da Cultura já houve desde 1981 quando o João Canijo trabalhou no primeiro filme como assistente do Oliveira? Eles continuam a fazer coisas. O que os ministros fizeram não vai ficar para o futuro. Os filmes que eles fizeram pelos vistos vão.

O cenário ideal seria depender exclusivamente da receita?
Sim, mas para isso o preço do bilhete tinha de ser completamente diferente. Dito de outra maneira, se as pessoas estivessem disponíveis para pagar 15 euros por bilhete, podia prescindir dos apoios públicos.

Tem sido muito discutido sobre se haveria mais espectadores se os bilhetes de cinema fossem mais baratos.
É uma pergunta que não tem resposta. Ainda este ano na Festa do Cinema com bilhetes a 3,5€ naqueles três dias veio muita gente. A questão é se as pessoas vêm o dobro. Ou seja, se passasse de 40 mil para 80 mil espectadores com bilhetes a metade do preço, daria um bocadinho de mais trabalho, sujaria um bocadinho mais, mas não há grande diferença. Os custos para receber mais espectadores eram negligenciáveis. Se viesse o dobro de pessoas, podia passar o preço para metade. Mas o preço dos bilhetes é o preço de um maço de tabaco. O problema é que as pessoas ganham cada vez pior e os aumentos de ordenados têm sido sempre abaixo do custo de vida em geral. Olhe para o [Teatro Nacional] São Carlos. Se a ópera não fosse paga pelo Estado tinha de ser 200 ou 300 euros cada bilhete.

No Teatro Nacional de São Carlos as récitas estão sempre cheias.
Claro, mas são quantas pessoas? 600. Quantas récitas são? Três. São 1800 espectadores. O João Canijo teve 30 mil [17 com Mal Viver e 13 mil com Viver Mal]. As pessoas dizem que o cinema está fraco e que o teatro bomba que se farta porque veem muita gente em pouco tempo. Se estrearmos o filme do Moretti e dissermos que só está em três sessões, se calhar enchem todas. Mas não é assim que as coisas devem funcionar. Sendo que há um problema de renovação geracional no caso do cinema.

Qual é a média de idades de quem visita o Cinema Ideal?
É muito superior ao que era há 30 ou 20 anos. Sobretudo, o peso das pessoas abaixo dos 25 anos é diferente. Jovens e estudantes universitários. Talvez aí a questão do preço do bilhete tenha alguma relevância. No quinto ano do Ideal fizemos uns dias de entrada gratuita e tínhamos fila pela rua fora. Mas depois saíam daqui e bebiam duas imperiais e gastavam 5 euros. Era o que custava o preço do bilhete.

Em Lisboa os primeiros resultados do Passe Cultura, iniciativa que dá acesso, de forma gratuita, aos equipamentos culturais municipais pelos munícipes com mais de 65 anos e menos de 25, revelou sobretudo a procura deste último grupo (65,4%). As políticas públicas podem ajudar? 
Sou a favor de as Câmaras e Juntas de Freguesia distribuírem bilhetes como se fossem senhas e ao fim do mês vamos ao balcão da Câmara e dizemos: tenho aqui 150 senhas, a 5 euros cada uma são 750 euros, e a Câmara reembolsa-me. Sou a favor que uma parte do apoio seja assim. Não pode ser só isso, porque corremos o risco que as pessoas escolherem sempre o que é mais fácil e aquilo que já é mais popular e para o qual já têm apetência.

Era preciso que houvesse uma dinâmica diferente dos responsáveis. As instituições públicas querem é fazer coisas grandes e que deem grandes fotografias para as redes sociais e para as câmaras de telejornais. É tudo em função disso. Apesar de tudo, as pessoas gostam de dizer que não há escritores de jeito, que o teatro é uma chatice e que o cinema português é um aborrecimento, mas não é verdade. Há pessoas que trabalham a sério e que se esforçam muito. Um país desta dimensão ter a produção e a criação cultural que tem não envergonha. Se comparar com com países da nossa dimensão, a criação cultural portuguesa não é uma coisa desenxabida, sem interesse. Acha que os franceses compraram o Tiago Rodrigues [atual diretor do Festival de Avignon] porquê? ou o Tiago [Guedes] para a dança [lidera a Maison de la Danse de Lyon]? Já exportámos dois para as duas mais importantes instituições culturais francesas no teatro e na dança. Quantos ministros exportámos?

Antes do Ideal, Pedro Borges trabalhou na programação de salas de cinema como o Forum Picoas, o King, o Nimas ou o Monumental

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

No final de julho, depois de o Observador ter noticiado que os proprietários do Cinema Monumental consideravam que não havia “viabilidade” para o reabrir, surgiu um coro de protestos de cinéfilos e defensores do património da cidade. Surpreendeu-o a mobilização?
Não me surpreendeu sobretudo pelas pessoas mais velhas que ainda viram o Monumental a abrir e a funcionar. O Monumental quando apareceu foi o primeiro cinema com som digital em Portugal. Em termos de frequência de espectadores aquilo batia todas as médias europeias, era uma coisa fora do comum. E sobretudo permitiu fazer uma mistura de programação em que tinha no cineteatro o Jurassic Park (1993) e na sala 2 o Glengarry Glen Ross e noutra o filme do Stephen Frears feito com a classe operária inglesa, o The Snapper. De repente tinha gente de todos os géneros e feitios, era uma coisa muito impressionante e durou bastantes anos. De repente, ao fim destes quatro anos, quando foi anunciado que as salas iam continuar, saber que ia ser destruído, é normal que as pessoas tenham reagido. As pessoas têm noção que são precisos mais cinemas, que faltam salas de cinema.

Na carta aberta publicada e por si também assinada lê-se: “Mas sabemos que se há algum e muito grave buraco na política cultural, e em particular na política para o cinema e o audiovisual, ele é o da existência de salas de cinema.” O que falta fazer?
Faltava fazer maldades ao Dr. Nuno Artur Silva, quando apressadamente fez aprovar a chamada “Lei Netflix”, a lei que vertia para Portugal uma diretiva europeia que tinha a ver com taxar ou instituir obrigações para as plataformas de streaming. Era preciso que uma parte considerável da taxa fosse consignada ao setor que mais está a sofrer com as novas plataformas, que são os cinemas. É preciso mais cinemas e não me choca que os cinemas já existentes tenham benefício à sua atividade. Não me choca que os cinemas da NOS, ou empresas portuguesas que operam, os Cinema City, tenham direito a benefícios aos seus funcionamentos. Porque a Autoeuropa tem, a Sonae tem, a MEO tem, a NOS tem noutro setor da atividade. Há apoios públicos para isso. É preciso apoio à criação de novos cinemas.

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, auscultou o setor sobre o futuro do Monumental…
Auscultou e tanto quanto sei só houve uma pessoa que disse que aquilo não devia ser reaberto, todas as outras disseram que sim. Pelos vistos, houve quem tivesse sido convidado a visitar o local e a fazer propostas e creio que houve cinco ou seis empresas diferentes que fizeram visitas. Quanto a propostas, não faço ideia. O que seria preciso era ser dado um calendário sério para consultar o mercado, avaliar propostas. E até lá não haver desafetação. É de interesse público que aquele espaço continue a ser cinema. Quem esperou quatro anos espera quatro anos e meio ou cinco anos. Não é: digam lá quanto oferecem de renda e que garantias dão daqui a cinco dias. Não é assim que funciona.

Visitou o espaço? O que viu?
Constatei que há apenas duas alterações, o acesso a partir da rua que é diferente, mas não é pior, e uma alteração no espaço da cafetaria. E constatei que o espaço foi usado como escritório da obra do edifício durante esse período, mas que no essencial está exatamente como estava há quatro anos, ainda há cartazes pendurados nas paredes. Há uma degradação natural do espaço. No essencial é preciso fazer uma limpeza de alto a baixo para fazer uma avaliação do custo é preciso mais tempo.

Fez uma proposta?
Neste prazo e nestas condições ninguém de boa fé pode fazer uma proposta. Qualquer pessoa que avance teria de ser com um parceiro estrangeiro. A não ser a NOS, que tem dimensão para isso.

Agradar-lhe-ia esse desfecho?
Antes a NOS do que nada.

Os apoios do ICA à exibição duplicaram o valor na última década. Em 2023, o Cinema Ideal recebeu 57.500 euros, o valor máximo por projeto.
32.500 com uma majoração de 25 em função de determinados objetivos. Se programar mais do que “x” filmes, se fizer sessões especiais, uma programação com pelo menos 12 países diferentes. Ou seja, se nos portarmos bem temos direito a um brinde. Se não, é 32.500 euros e basta. Aumentou porque apareceu o Ideal, o Trindade, o Alvalade passou a candidatar-se porque o apoio é sala a sala. O orçamento do ICA no geral aumentou muito.

Em 2015, disse ao jornal Público: “Para que andamos a financiar o Miguel Gomes, o João Salaviza, o Pedro Costa, se depois não há cinemas pelo país fora onde as pessoas possam ver os filmes?” Há um desfasamento entre o financiamento da produção de cinema e a distribuição e exibição?
A distribuição não, mas a exibição sim. Não devia dizer isto, mas o apoio à distribuição de filmes portugueses devia ter algum limite que não tem. Há filmes que é suposto fazerem muitos espectadores e portanto o apoio público não precisava de ser tão alto como é. Um filme que recebe 40 mil euros de apoio público e que depois faz 150 ou 200 mil espectadores é um caso em que a bilheteira já é apoio suficiente. Se há uma esxpectativa de receitas muito elevada, o apoio público não se justifica. Os filmes que fazem muitos espectadores têm no ano seguinte o chamado apoio automático, que é em função da bilheteira e que pode ir até 300 mil euros. O Curral de Moinas (2022) vai receber 300 mil euros do ICA em função dos espectadores que teve (foi o filme português mais visto em 2022). Além da receita que o produtor teve pelos bilhetes vendidos. Quem faz resultados comerciais não tem menos apoios públicos, tem mais. A exibição foi sempre o elo fraco da cadeia, mas há vários anos que digo isso e o José Manuel Costa [diretor da Cinemateca Portuguesa] também tem feito a sua parte. É preciso apoio ao investimento. É preciso estabelecer parcerias entre o Estado central, ICA, Ministério da Cultura e as autarquias. No limite, o próprio PRR podia ter guardado uma parte da verba para isso. Outra coisa é as taxas cobradas às plataformas de streaming. Uma parte significativa podia ter ido para isto.

"O cinema é interclassista. É das poucas atividades onde não há uma hierarquização. Vai ao Coliseu e senta-se na primeira plateia para ver o Caetano [Veloso] e paga 120 euros, quando vai para o galinheiro paga 20. Há uma estratificação que não existe no cinema. No cinema somos todos iguais"

Em 2011, no âmbito de um projeto de investigação académica, perguntaram-lhe como subsistia uma empresa como a Midas. Respondeu: “Com ordenados muito baixos e não fazendo disparates. Não há propriamente nenhum segredo. Em vez de estarem aqui a trabalhar quinze pessoas, trabalham cinco, em vez de os ordenados serem como deviam ser, são trinta ou quarenta por cento abaixo do que seria suposto. É uma escolha de quem aqui trabalha.” Há uma cultura de precariedade no cinema com a qual estamos conformados?
Aqui não há precariedade. Aqui, além do meu, pago ordenados e todos com contrato, Segurança Social e descontos. Nunca tive ninguém a recibos verdes. As pessoas que trabalham nos filmes é que são contratadas para dois, seis meses, e são profissionais independentes. De resto nunca tive ninguém a recibos. E Deus sabe o que isso custa. Mas quem vem para esta área vem consciente de que o seu trabalho tem uma especialização grande, é tudo licenciado e com mestrado, mas os ordenados não estão à altura disso. Na distribuição e exibição não há a precariedade que existe na produção, é um bocadinho diferente. Mas são pessoas que sabem que se quisessem acumular dinheiro tinham ido para outra vida. Há é um stress próprio que cansa e desse ponto de vista é mais pesado. E há um lado que é: não há uma apreciação universal pela nossa atividade. As pessoas da cultura são sempre tratadas como pedintes, parasitas, subsídio-dependentes, como diria a Dra. Zita Seabra que tem uma reforma do Estado desde os seus 48 anos.

Porque julga que se criou essa imagem?
É uma coisa que ficou entranhada. Diz-se que o Governo criou incentivos à indústria da cortiça, mas muda de página e são os subsídios do teatro. Os incentivos da indústria da pesca são subsídios à indústria das pesca, mas nunca se chamam subsídios.

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