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Naomi Osaka regressou à competição em Brisbane, onde caiu no segundo jogo, e treinou esta semana com Ons Jabeur
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Naomi Osaka regressou à competição em Brisbane, onde caiu no segundo jogo, e treinou esta semana com Ons Jabeur

Getty Images

Naomi Osaka regressou à competição em Brisbane, onde caiu no segundo jogo, e treinou esta semana com Ons Jabeur

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Saúde mental, um império em construção e a filha Shai que foi mesmo um presente: a segunda vida de uma outra Naomi, 500 dias depois

Superou lesões, foi mãe, cuidou da saúde mental e teve uma preparação diária que começava sempre no osteopata. Aos 26 anos, Naomi Osaka é mais do que uma jogadora. Agora, só quer ser de novo jogadora.

“Sei que partilhámos algumas memórias fantásticas, também sei que existem algumas coisas que gostaria de ter lidado de forma diferente. Apesar de tudo, obrigado a todos por me terem permitido crescer no tempo que necessitava e obrigado por toda a paciência que tiveram. Não sei o que mereci para ter tudo isso mas sinto-me extremamente grata. Sinto muita honra para avançar para um segundo capítulo desta jornada no ténis com todos vós e estou muito entusiasmada para ver todos no próximo ano.”

Foram quase 500 dias de ausência dos torneios WTA. Pelo meio, aconteceu um pouco de tudo. Recuperou de lesões, equilibrou a sua saúde mental, lançou novas ideias na sua empresa, foi mãe – e voltou a ser notícia de forma indireta por declarações da irmã contra o pai, já depois do regresso aos courts em Brisbane. Naomi Osaka pode ostentar apenas 26 anos no Cartão do Cidadão mas tem uma vida que conta mais histórias do que seria normal e a próxima será jogada ao longo de 2024, a começar pelo regresso aos Grand Slams.

Após ter desistido do Pan Pacific Open em setembro de 2022, na primeira prova que fez após cair na ronda inaugural do US Open frente a Danielle Collins, a japonesa “desapareceu”. Desapareceu ao ponto de, meses depois, responsáveis do Open da Austrália enfrentarem dificuldades para chegarem à fala com a jogadora só para perceberem se estaria ou não interessada em jogar o torneio de 2023. Agora, Osaka está apostada em mostrar uma nova versão, tendo regressado com uma vitória diante da alemã Tamara Korpatsch antes de ser eliminada em Brisbane por Karolina Pliskova, outra antiga número 1 do ranking mundial.

“Estive super nervosa o tempo todo. Parte de mim sentia que a Shai [a filha] me estava a ver. Queria dar o melhor por ela e, enquanto estiver a jogar, quero ser um exemplo para ela. Nos últimos anos que joguei antes de ter a minha filha, sinto que não retribuí tanto amor quanto recebi. Isso é algo que quero fazer neste capítulo da vida. Agradeço muito às pessoas que vieram torcer por mim porque sinto que houve um tempo em que era apenas uma criança tentando ver meus ídolos jogarem. Às vezes parece realmente surreal jogar nestes palcos. Tudo o que consigo pensar é no nervosismo que tive. Foi importante passar pela estreia, espero evoluir depois disso sabendo que nem sempre tive as melhores decisões no court“, comentou depois do jogo da “segunda estreia”, quase que elevando a fasquia para ter mais desafios para chegar onde agora pode ainda não conseguir: um regresso a finais do Grand Slam, com todas as adversários que “ganhou”.

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“Acredito que aproveitei ao máximo, também percebi que há muitas coisas que estão fora do meu controlo. Talvez uma bola que tenha ido dentro pudesse ter sido batida, admito. Por outro lado, agora sinto uma maior consciência de que estou a jogar com as melhores jogadoras do mundo. Ao mesmo tempo, treinei tanto e tão duro depois de ser mãe que preciso de aproveitar estes momentos. Ver a forma como a Sharapova e a Serena se retiraram faz com que perceba que a linha do ténis não é assim tão longa, o que faz com que tenha de aproveitar. Qualquer passo no court é uma vitória pessoal porque há um par de semanas ainda duvidava se seria capaz de voltar a jogar. Por isso, mesmo perdendo, estes dois encontros foram uma espécie de prova de que estou bem e que este ano vai ser melhor. Queria mais mas estou a colocar toda a minha alma em cada ponto, a redescobrir aquele sentimento. Isso foi importante”, acrescentou.

Agora, a nova versão da mesma Naomi Osaka que foi campeã do Open da Austrália em 2019 e 2021 e do US Open em 2018 e 2020, aquela que chegou a número 1 do ranking mas que começou 2024 fora do top 800, vai começar o regresso a Melbourne com um encontro complicado frente a Caroline Garcia. Antes, e ao longo de quase 500 dias, aconteceu um pouco de tudo na vida da japonesa. Foram quase 500 dias longos.

Naomi Osaka perdeu com Karolina Pliskova no Open de Brisbane. Em Melbourne, fará o primeiro jogo com Caroline Garcia

PATRICK HAMILTON

As vitórias que não davam felicidade, os problemas na gravidez e o nascimento de Shai

Recuemos até 2021. Quando ganhou o Open da Austrália, fazendo algo que apenas Roger Federer e Monica Seles tinham conseguido na história (vencer as quatro primeiras finais de Grand Slam), Naomi Osaka parecia ser imparável. Não daqueles imparáveis que ganham, ganham, ganham e voltam a ganhar mas como as máquinas que não se deixam abalar por qualquer contexto e controlam o espaço e o tempo. Aliás, nem na sequência daquela final para esquecer do Miami Open contra Maria Sakkari, que impediu que voltasse para a liderança do ranking mundial, a perceção geral mudou. A seguir, tudo foi ruindo, sempre de dentro para fora dos courts: depois da multa por não comparecer numa conferência de imprensa, desistiu de Roland Garros por questões de saúde mental, passou Wimbledon, chorou numa conferência de imprensa. Então, quis parar. Parou mesmo. “As vitórias já não me fazem felizes como antes”, admitiu. E 2022 não seria melhor.

As raízes da quebra, essas, estavam à frente de todos sem que ninguém percebesse. Ou melhor, seguindo de forma mais atenta a série documental com o seu nome da Netflix, aquilo que se passou a seguir ao US Open de 2020 explicava algo. Aí, isolou-se, sem família ou amigos, cumpriu diversos compromissos publicitários e foi pensando e duvidando de tudo na vida. Há também aquela famosa pergunta à mãe quando tinha 22 anos acabados de fazer, querendo perceber se era aceitável o que tinha feito na vida e na carreira até aí. Entre as batalhas contra depressões que foi travando e ganhando, havia sempre algo que parecia faltar. Agora, após o afastamento propiciado por arreliadoras lesões que não deixavam sequer que se redescobrisse em campo, esse “algo” apareceu com a maternidade. “Hoje sinto-me completa enquanto pessoa com a Shai, foi quase como se precisasse dela na minha vida”, resumiu no momento em que chegou a Brisbane.

“Naomi Osaka”. A vulnerável e honesta história de uma campeã

“Sou aquele tipo de pessoa que não pode ficar a pensar em si. Tomo decisões precipitadas e ela ajudou-me a ser mais madura. Hoje estou mais confiante com a pessoa que sou e sinto-me agradecida todos os dias pelo que aconteceu. Saber que existe uma pequena pessoa que me ama de qualquer forma e que os meus dias têm outra luz por causa dela faz sentir-me completa como pessoa”, salientou numa entrevista à BBC, entre as memórias de uma gravidez com muitos enjoos e um parto difícil. “Fiquei afetada depois do nascimento. Não sei se percebi o que era na altura, pensei apenas que tinha sido uma grande transição. Mas tive sorte, a minha mãe esteve lá, ajudou-me muito numa fase de mudanças drásticas. Houve um período que tudo parecia mais agitado mas hoje estou bem, muito melhor do que era antes. Sinto-me calma, relaxada. Ser mãe fez-me ver o quão forte sou e quão forte são todas as mães”, destacou na mesma conversa a tenista. À Glamour, acrescentou ainda um outro capítulo: “Deixei de querer saber da opinião que os outros têm”.

"Hoje sinto-me completa enquanto pessoa com a Shai, foi quase como se precisasse dela na minha vida."
Naomi Osaka

Naomi Osaka aprendeu coisas que não sabiam existir. Por exemplo, durante a gravidez, há uma imagem que descreve quase de forma irónica o que desconhecia como quando já tinha de rebolar para sair da cama. “O corpo de toda a gente é diferente e eu aprendi imenso sobre ele”, conta. Já o gatilho do regresso esteve na TV e nos jogos que foi vendo dos derradeiros Grand Slams do último ano – a vontade estava lá, tudo o resto foi diferente. Os horários mais apertados, os dias definidos ao segundo para não falhar em nenhuma parte, a vontade de jogar ao mais alto nível quase como uma tentativa de deixar a filha orgulhosa, as ligações que foi criando com atletas de outras modalidades durante a jornada da gravidez “que pode ser difícil”.

Após testar positivo a uma infeção bacteriana que pode trazer problemas graves à mãe e à bebé, o caso de Tori Bowie, que morreu no oitavo mês de gravidez devido a complicações, foi como um teste à capacidade de resistência de Osaka. “Estava a começar-me a passar um bocado com todas essas notícias”, referiu. Como foi combatendo esses receios? Falando com Allyson Felix, uma das melhores atletas norte-americanas de sempre com um total de 11 medalhas olímpicas e que teve problemas durante o nascimento prematuro do seu filho ou Serena Williams, que correu também risco de vida durante o parto. “Recordo-me bem de quando estava em trabalho de parto. Foi a pior dor que senti na vida mas agora também sei que, se passei por isto, qualquer coisa que venha será muito fácil”, contou à InStyle sobre a primeira filha com o rapper Cordae. “Foi a maior mudança da minha vida num dia. Quando voltamos para casa, tudo é diferente”, acrescentou.

Naomi Osaka recordou em entrevista as dificuldades, problemas e preocupações que foi vivendo ao longo da gravidez

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A aposta na Evolve, a preparação ao detalhe e a mensagem (apagada) da irmã

A forma como descreve a importância de Shai é como o tal “presente” que traz no nome (“shai” em hebreu). A forma como a descrevem, da equipa técnica no ténis à agência de talentos que criou, foi também um presente para todos. Nunca faltaram atributos a Naomi Osaka mas a vontade, a perseverança, a coragem e a garra com que se apresentou em todos os capítulos de uma vida cada vez mais preenchida e que está longe de resumir-se ao ténis (embora tenha sido aí que tudo nasceu e vai continuar). “Por alguma razão, sentia-me um bocado em baixo nos últimos anos da minha vida. Agora, deixei de sentir isso mesmo”, realça.

Com inúmeros contratos com algumas das principais marcas do mundo, Naomi Osaka, que em 2022 ficou sem o patrocínio da FTX que acabou por declarar falência, foi durante três anos a atleta mais bem paga do mundo. Nesse último ano antes da paragem, conseguiu ganhos que chegaram quase aos 50 milhões de euros, à frente de Serena Williams e Eileen Gu. Foi também aí que começaram os investimentos mais a sério no seu grande projeto extra ténis, a Evolve, com o lançamento de um produto de cuidados de pele a juntar-se à criação de uma agência de produção e de talentos. Tudo começou com uma conversa com o seu agente há dois anos no aeroporto de Tóquio após os Jogos Olímpicos, quando fizeram uma reflexão sobre os impérios que amigos e mentores como Kobe Bryant ou LeBron James tinham mas que não havia entre as mulheres.

Foi assim que nasceu a Evolve, que já representa não só tenistas mas também jogadores de golfe do LPGA e jogadoras da Liga norte-americana de futebol e que tem extensões como a Hana Kuma, uma agência de produção. Ao mesmo tempo que ganhou e tenta voltar a ganhar nos courts, Naomi Osaka foi trabalhando para ganhar fora dele, assumindo-se como um símbolo em termos sociais. “Evitei ver o Open da Austrália no ano passado porque sabia que ia ficar perturbada, por estar grávida. Depois, no resto da época, fui fazendo um controlo do tempo porque ver outros jogar dá-me vontade de jogar também”, contou ao The Athletic.

epa09025449 Naomi Osaka of Japan walks past the trophy before the women's singles final against Jennifer Brady of the United States on day 13 of the Australian Open tennis tournament at Rod Laver Arena in Melbourne, Australia, 20 February 2021.  EPA/DEAN LEWINS  AUSTRALIA AND NEW ZEALAND OUT

Naomi Osaka já ganhou por duas vezes o Open da Austrália entre os quatro Grand Slams que tem na carreira aos 26 anos

DEAN LEWINS/EPA

Foi também nessa mesma entrevista que a japonesa detalhou todos os pormenores de como foi preparando o regresso. A preparação diária começava com o tratamento de um osteopata durante 30 a 45 minutos para alinhar o corpo, seguia com um período com a mesma duração onde fazia alongamentos dinâmicos e exercícios para trabalhar as mudanças de direção, os saltos, as acelerações e as travagens a fim de preparar as articulações para os jogos, a seguir passava duas horas e meia pelo court e por fim fazia treino de força. A seguir a cuidar de Shai e fazer uma pequena sesta, voltava a trabalhar e regressava a casa para tomar conta de Shai, que não irá à Austrália mas estará sempre presente ao longo da temporada de 2024. Conclusão, como Osaka já afirmou: o jogo feminino mudou, está mais competitivo e as jogadoras mexem-se mais do que na paragem mas admite que vai tentar ganhar um Grand Slam na segunda metade do ano.

Já esta semana, um outro episódio acabou por marcar o regresso de Naomi. Mari, irmã mais velha que foi também jogadora mas que é hoje fashion designer, acusou o pai, Leonard François, de abusos contra si e contra a mãe numa publicação que entretanto foi apagada. “Tenho nojo de seres meu pai. Falhaste de todas as formas possíveis. Abusaste de mim desde criança e continuas a perseguir a minha mãe. Abusas emocionalmente dela e vens à nossa casa quando tens a tua. Estou a tornar isto público porque és um cobarde que se esconde atrás da capacidade física de me bater e na nossa recusa de chamar a polícia. Acabou-se. A próxima vez que vir a tua cara chamo a polícia. Considera isto uma ameaça. Da maneira que magoaste a tua família, honestamente nem me vou arrepender se te matarem, por isso vem cá a casa e ameaça bater-me outra vez. Vou lutar de volta. Vou matar-te a não ser que me mates primeiro ao trazeres uma arma como cobarde que és”, escreveu na publicação. Naomi não fez qualquer comentário sobre as acusações.

"Por alguma razão, sentia-me um bocado em baixo nos últimos anos da minha vida. Agora, deixei de sentir isso mesmo."
Naomi Osaka

“O facto de voltar aqui e ter o mesmo balneário que antes é uma comodidade que adoro, pequenas coisas assim deixam-me feliz. Depois, o facto de ter voltado a treinar na Rod Laver Arena, olhar para o céu e pensar que fui campeã duas vezes aqui. Oxalá consiga isso de novo. Expetativas? É difícil gerir porque penso em todas as recordações incríveis que já tive. Também penso em quem sou para regressar ao segundo torneio e esperar tanto de mim mesma, especialmente contra as melhores do mundo. A treinar com a Ons [Jabeur] senti-me um pouco dececionada comigo mesma quando cometia alguns erros. Mas estou a jogar com a Ons… Tenho de me dar muito tempo e paciência”, comentou na antecâmara do Open da Austrália, numa conferência onde a filha acabou por tornar-se um tema principal… mesmo não estando presente.

“Tem sido muito difícil [a ausência], ela está a aprender coisas enquanto não estou lá. Espero que não aprenda a gatinhar antes de eu voltar! Ela já desliza para a frente e para trás, pelo que deve ser inevitável. Estou triste, mas é uma tristeza egoísta porque quero que esteja aqui, mas pela sua saúde e por ter toda a sua vida ali em casa… Não quero tirá-la disso tão pequena. Faço FaceTime várias vezes”, contou.

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