O Sargento na Cela 7 estreou-se em março deste ano e foi o primeiro dos Podcast Plus do Observador, a que se seguiram O Piratinha do Ar, em maio, e Um Espião no Kremlin, em agosto — o próximo podcast narrativo do jornal já está em fase avançada de produção.
Ao longo de seis episódios, a série desvendou a história de António Lobato, o prisioneiro de guerra português que mais tempo passou em cativeiro durante a guerra de África, mas também as dos homens que com ele se cruzaram ao longo desse período na Guiné Conacri. Mas conta também como foi montada a Mar Verde, a operação ultra secreta do Estado Novo para resgatar não apenas o sargento Lobato, mas os outros 15 militares portugueses que no final de 1970 continuavam detidos, às mãos do PAIGC, naquele país.
Ouvido quase 750 mil vezes, o podcast narrativo do Observador, que tem narração do ator Pêpê Rapazote e banda sonora original de Noiserv, foi agora adaptado a livro, pelos jornalistas Tânia Pereirinha e João Santos Duarte.
O Observador faz a pré-publicação do prólogo e do 16.º capítulo de “O Sargento na Cela 7, uma história real de amor e sobrevivência em tempos de guerra”, editado pela Oficina do Livro, chancela do grupo Leya, que estará disponível nas livrarias já a partir da próxima terça-feira, dia 26 de setembro.
“Quem era aquele maltrapilho meio nu, sem terra, sem família… sem ninguém?”
Quando a porta de ferro se fecha, o homem na cela número 7 não tenta conter as lágrimas. Escapou à morte por pouco, mas não é por isso que chora; nem sequer pelas dores que sente, no crânio que lhe racharam com um golpe de catana, e nas costas, ainda em chaga, que um curandeiro caridoso voltou a unir, sem anestesia nem desinfeção, com uma agulha grossa de coser sacos.
Através das grades no cimo da parede que dá para o exterior, chega-lhe um cheiro nauseabundo – ali mesmo, nas traseiras, descobrirá em breve, fica o recinto, uma espécie de esgoto a céu aberto, onde diariamente são despejados todos os baldes da prisão.
Não há água corrente, casas de banho muito menos. E mobília também não, percebe assim que os olhos se habituam à penumbra e, com a ajuda de uma pequena nesga de luz, consegue ver finalmente o espaço onde acabam de o trancar.
De um lado, há um bloco de cimento, com um colchão de pano, cheio de palha em cima – a cama. Do outro, dois baldes, um com água, outro vazio. Rapidamente vai perceber que só deve usar o líquido para se lavar em caso de extrema necessidade. Isto se não quiser beber água suja ou, pior, ficar com sede.
Nessa altura também ainda não sabe, mas, durante todo o ano que se há de seguir, aquelas quatro paredes e aquele minúsculo retângulo de chão, que atravessa com dois passos para um lado e quatro para o outro, serão tudo aquilo que vai ver, em solitária forçada; só depois disso os seus carcereiros vão finalmente permitir-lhe que saia para o exterior e tenha direito a tempo de recreio.
Não chegou ainda a passar um mês desde que o seu mundo foi abalado e a vida, tal como a conhecia, acabou. Pela primeira vez em 27 dias está totalmente sozinho, num país que não conhece, numa prisão para onde foi atirado sem qualquer sentença e, também por isso, sem qualquer horizonte de liberdade. E chora, que outra coisa pode fazer senão chorar?
Sessenta anos depois de ter sentido a porta fechar-se atrás de si, naquela cadeia infecta da Guiné Conacri, António Lobato já sabe como a história acaba; recorda as lágrimas, a sensação de vazio, o desespero do homem de 24 anos que tinha tudo o que queria – incluindo a mulher dos seus sonhos – e que de repente se vê despido, desprovido de tudo, vazio, sem nada.
Quando tenta voltar àquele junho de 1963, àquela cadeia nos confins de um país desconhecido, o mais difícil é recordar aquilo que sentiu – o que lhe passou pela cabeça tem bem presente; até ao momento em que decidiu que ia lutar e viver para sair dali, foram inúmeras as ocasiões em que bateu tão no fundo que o único escape que conseguiu vislumbrar foi a própria morte.
Levanta-se da poltrona onde está há horas a recordar, na sala de estar da casa nos arredores de Sintra onde continua a morar com Maria dos Anjos, a mulher com quem sonhou fazer vida, e socorre-se de uma cábula, um texto que escreveu já não sabe há quantos anos, para apresentar a uma plateia, também não se lembra onde nem a que propósito.
“O correr do ferrolho da porta de ferro fez-me estremecer, e nesse instante senti aquilo que um morto possivelmente sentiria se pudesse ter consciência da realidade no momento em que o entregam à sepultura”, começa, solene, a ler. “Logo a seguir, veio o cair da noite que me deixou a sós, frente a frente com um outro no qual não me reconheci. Foi exatamente isto. Outra pessoa. Não sou eu que estou aqui. Então vem a questão: quem era então aquele maltrapilho meio nu, sem terra, sem família… sem ninguém?”
[Pode ouvir aqui o primeiro episódio da série em podcast “O Sargento na Cela 7”. E ouça aqui o segundo episódio, aqui o terceiro episódio, aqui o quarto episódio, aqui o quinto episódio e aqui o sexto episódio. É a história de António Lobato, o português que mais tempo esteve preso na guerra em África.]
A fuga pela selva (sem saber que, no mar, a operação Mar Verde estava em curso)
Não há nada que António Lobato, João Neto Vaz e António Júlio Rosa dessem em troca da liberdade de que estavam a desfrutar naquele momento. Mas a verdade é que, se pudessem ter visto as caras dos guardas no exato instante em que abriram as portas das celas de manhã e as encontraram completamente vazias, também iriam sentir um irreprimível prazer. Vê-los passar do espanto à incredulidade, dela para a dúvida e no fim chegar à indignação: como teriam conseguido os portugueses transpor as portas de ferro maciço e desaparecer, sem que ninguém tivesse dado conta, sem fazer qualquer barulho, sem deixar qualquer rasto?
Em Kindia não havia um único sinal dos três prisioneiros portugueses que, na véspera, supostamente tinham sido trancados nas suas celas, como acontecia todas as noites. Naquela manhã de março de 1970, quando o alarme soou na prisão e os carcereiros começaram a fazer buscas em todos os recantos do hexágono, Lobato, Vaz e Rosa já estavam bem longe.
Na tarde anterior, nunca tinham chegado a regressar à cela. Em vez disso, esconderam-se dentro do depósito de água no recinto do recreio, a três ou quatro metros de altura do solo. E esperaram.
Quando o sol se começou a pôr e começaram a ouvir as primeiras orações a Alá, ritual que todos os dias assinalava o fim de mais um dia na prisão, naquele país de maioria muçulmana, os portugueses perceberam que o caminho estava livre. Se as orações estavam a decorrer normalmente isso só podia significar uma coisa: os guardas tinham atirado a malga com o jantar para dentro das celas e corrido os ferrolhos das portas de ferro sem se certificarem de que os presos estavam no interior.
Com todo o cuidado, para não fazerem o mais ínfimo ruído, os prisioneiros desceram do tanque e dirigiram-se até à pequena porta de ferro que dava para a horta. Abriram o cadeado com a chave improvisada com o pedaço metálico da frigideira velha, retiraram a corrente de ferro e passaram para o outro lado.
Antes de finalmente começar a escalada do muro, Lobato ainda fez uma última maldade aos carcereiros: com a porta aberta o suficiente para conseguir passar a mão, colocou a corrente no lugar e voltou a fechar o cadeado. Dessa forma, os guardas nunca iriam conseguir descobrir como tinham fugido da prisão. Para todos os efeitos, os portugueses tinham-se simplesmente evaporado.
Entre eles e a liberdade plena já só existia a muralha de três metros que separava a prisão do exterior. Aos ombros uns dos outros, conseguiram chegar lá acima. Depois, içaram o que tinha ficado mais em baixo, uma vez no topo do muro, só tinham de saltar. «Lembro-me de cair para o outro lado e de fazer um mortal sem saber como, mas não me magoei», recorda António Lobato, à distância de mais de meio século, convicto de que, por mais inverosímil que possa parecer, foi mesmo assim que aconteceu.
Pela primeira vez em quase sete anos, o sargento deu por si a respirar o ar puro da liberdade – mas não havia tempo a perder em contemplações, assim que se viram do outro lado do muro, os fugitivos começaram a correr em direção ao monte que, durante tanto tempo, tinham avistado, dia após dia, a partir da prisão.
A subida foi lenta, às apalpadelas e no meio da escuridão da noite, sem qualquer lanterna ou outra fonte de iluminação. Exaustos, física e emocionalmente, decidiram parar e escolher um sítio para passar o resto da noite, antes de se atirarem novamente à tarefa de trepar ao cume do monte. Quando ouviu um restolhar na vegetação ali perto, Lobato, que se tinha oferecido para ficar de vigia, chegou a pensar que, mais uma vez, tinha sido apanhado e ia ser recambiado para a cela número 7. Afinal, era «só» uma hiena, ali parada, apenas a alguns metros, a olhar para si. Manteve-se calmo, aqueles animais eram os que menos medo lhe metiam. E a hiena acabou por se afastar, como se nada fosse.
Aquelas primeiras horas de fuga chegaram para mostrar aos três homens que a tarefa à qual se propunham era tudo menos fácil. O objetivo era chegar, a pé, até à fronteira com a Guiné portuguesa, a cerca de 200 quilómetros de distância e através de selvas e montanhas, com todos os perigos que elas implicavam, em pleno continente africano. Para além disso, tinham ainda de evitar ao máximo povoações, para não correrem o risco de serem descobertos e apanhados. E, como se não bastasse, para se orientarem contavam apenas com uma página de um velho manual de primária, com um mapa muito rudimentar da Guiné Conacri, que Lobato tinha encontrado em tempos no recreio da prisão.
Prevendo já todas estas dificuldades, enquanto faziam os preparativos para a fuga, João Neto Vaz tinha insistido num plano alternativo. «As hipóteses de fazer aquilo a pé, com as condições de alimentação que nós tínhamos, eram muito reduzidas. Quando um gajo de táxi resolvia aquilo numa noite», explica. «Metermo-nos dentro de um carro era fácil. Depois de estar lá dentro, se ele não conduzisse, conduzia eu! E se tiveres o pescoço apertado podes ter a certeza de que o táxi anda. E lá, ou mandávamos o gajo para trás ou torcíamos-lhe o pescoço, mas ficávamos na Guiné.»
Era a guerra, matar ou morrer, defendia Vaz, mas o plano acabou por não ir avante, que continuavam a ser dois contra um. Ainda hoje diz que, se os companheiros de fuga não aceitaram a sua sugestão, foi porque não estavam preparados para tirar a vida a alguém. «Eles sabiam perfeitamente que nós só nos safávamos bem chegando à fronteira se matássemos o taxista, para ele não ir ao aquartelamento ao lado e chamar dois ‘“turras’”. A gente sabia que tinha de lhes limpar o sarampo e eles não queriam. O Rosa nunca viu um morto na Guiné e o Lobato também não. O Rosa esteve três meses, se viu algum morto foi quando foi apanhado,
algum que morreu por ali assim… E o Lobato andava só pendurado no ar», vai-se justificando, para depois, triunfante, revelar que, no final, tanto um como outro acabaram por dar-lhe razão. «Durante o caminho, várias vezes disseram: ‘“Porra, a gente vinha melhor de carro…’”»
Assim que os primeiros raios de sol nasceram, os fugitivos voltaram a andar. Quando finalmente atingiram o cume do monte, Lobato demorou-se sobre o hexágono de Kindia, onde tinha desperdiçado os últimos sete anos de vida. Depois, olhou para norte e conseguiu perscrutar também o longo caminho que ainda tinha de percorrer rumo à liberdade, a estrada de macadame que ligava Kindia à fronteira com o território português.
Pena que não pudesse ser assim tão fácil: nunca poderiam percorrê-la, sob pena de serem imediatamente identificados e capturados; aquela estrada seria apenas um ponto de referência, que nunca poderiam perder de vista mas de que também não podiam aproximar-se demasiado. Iam ter de fugir em modo corta-mato, em paralelo à estrada de ir improvisando desvios sempre que avistassem alguma aldeia.
Estavam em plena cordilheira do Futa Djalon, uma região montanhosa que atravessa o centro da Guiné Conacri, habitat de animais selvagens como hienas, onças, macacos e cobras. De dia, escondiam-se, à noite, punham-se em movimento. Para se defenderem tinham uns paus compridos, em que se iam amparando enquanto caminhavam, iluminados apenas pela luz do luar. O terreno era acidentado e cheio de obstáculos, como desníveis, inclinações e precipícios. Lobato recorda como, a certa altura, a única alternativa para seguir caminho era usar um cordão de grossas lianas que pendiam de duas árvores e permitiam chegar ao fundo de uma vala, à Tarzan: «Não havia outra maneira de descer, de encurtar caminho. E quando pomos os pés lá em baixo, o que é que há? Uma almofada enorme de bicharada! Tudo a mexer, pareciam centopeias, aquilo tudo a mexer. Pus os pés em cima e aquilo faz ‘“pssssssssh’”. Havia milhões e milhões de centopeias! Aquilo é terra virgem!»
Ao quarto dia de fuga, o cansaço já começava a fazer mossa nos corpos já de si frágeis e magros dos três fugitivos. Ao longo dos meses de preparação tinham decidido apontar a fuga para a época das mangas, mas agora, em pleno mato, percebiam que não era assim tão fácil encontrar o que comer.
À falta de frutos, recorriam a raízes e bagas, seguindo os velhos princípios militares. «Tudo o que não era amargo a gente comia!», explica Lobato. A fome que lhes latejava no estômago é que não passava assim, por isso quando avistaram um pequeno riacho e, logo a seguir, uma plantação de tomate, ainda hesitaram mas acabaram por não conseguir resistir. Se aquilo era uma horta, tinha de haver uma aldeia por perto, e, se havia uma aldeia, não faltariam também pessoas capazes de os entregar às autoridades que andavam à procura deles, mas à primeira vista não se via ninguém, nem se ouvia nada, a zona estava deserta. Foi Lobato quem deu o primeiro passo: atravessou o riacho e seguiu a rastejar até aos tomateiros. Depois de arrebanhar todos os tomates que conseguiu, voltou a olhar para a aldeia, para se certificar de que podia retirar dali em segurança. Foi nesse momento que viu dois olhos focados nos seus.
Era uma criança, pequena, completamente abismada com o intruso branco e andrajoso ali deitado, no chão, a roubar tomates. Assim que o piloto o fitou, o miúdo desatou a gritar e arrancou em passo de corrida em direção à aldeia.
Num impulso, Lobato pôs-se de pé e fugiu na direção contrária, voltou a atravessar o ribeiro, já sem se preocupar com o barulho que fazia, e começou a subir a encosta o mais rápido que pôde, altura em que Vaz e Rosa se lhe juntaram, os três a correr como se as suas próprias vidas dependessem disso – e dependiam.
Estavam já a mais de meio da elevação quando olharam para trás e viram mais de uma dezena de homens a correr esbaforidos na sua direção, espalhados pelo terreno de forma a conseguirem cercar as presas. Vinham armados com catanas e, naquele instante, Lobato não conseguiu deixar de voltar à fatídica manhã da captura na ilha do Como, as lâminas uma vez mais a rasgar-lhe a carne, a dor novamente a toldar-lhe os pensamentos.
Percebendo que não tinham saída e não querendo enfurecer ainda mais os aldeões, abrandaram o passo, para não transmitirem a ideia de que estavam em fuga, e, logo ali, magicaram um plano. Em vez de continuarem a correr, sentaram-se no chão.
Quando os perseguidores os alcançaram, atacaram de imediato, recorda o piloto, mas apenas com palavras. «E diz um deles assim: ‘“I munheti nara!’”. Com os anos, fui aprendendo algumas coisas dos dialetos deles, quer fula quer soussou. «“I munheti nara»” quer dizer ‘“Vocês são ladrões’”. Eu respondi-lhe à letra, e disse: ‘“I munheti mara de’”, ‘“Não somos nada ladrões.’”. Ele viu-me falar na língua dele e isso teve um impacto enorme.»
A jogada tinha sido altamente arriscada, mas estava a dar resultado. O piloto percebeu que, ao expressar-se na mesma língua, tinha aberto a porta para ganhar a confiança daqueles homens. Como o pouco sossou que sabia não chegava para tanto, logo a seguir passou para o francês – e foi nesse idioma que lhes vendeu a história que tinha acabado de inventar, com recurso ao ínfimo conhecimento geográfico que tinha da zona.
Ainda hoje, não consegue deixar de esboçar um sorriso quando recorda o episódio: «Expliquei-lhes: nós somos técnicos de leste, vamos para a barragem de Koncouré mas o nosso jipe avariou-se e perdemo-nos pelo caminho. E eles acreditaram.».
Um dos homens, um jovem, que não teria mais de vinte e poucos anos, deu um passo em frente, apresentou se como o filho do chefe da aldeia e convidou-os a seguir até à povoação, onde lhes serviram um belo arroz de galinha que suplantou em muito os tomates colhidos junto ao ribeiro.
O pior veio depois: o rapaz explicou-lhes que o pai, o chefe da aldeia, estava fora e só deveria regressar no dia seguinte – e que era ele quem ia decidir se os três homens podiam, ou não, partir.
Naquela noite não dormiram, com medo de, afinal, não terem enganado os aldeões e de que tudo aquilo fosse uma armadilha, para os empatar enquanto a polícia não chegava. O dia mal tinha nascido quando o filho do chefe da aldeia se aproximou e lhes explicou que, como o pai não tinha chegado ainda, iria ele próprio conduzi-los até à barragem.
Por muito que ainda desconfiados, Lobato, Rosa e Vaz não tiveram outra alternativa senão seguir o rapaz, que caminhava tranquilamente à sua frente, com um rádio portátil debaixo do braço. Naquele momento, não havia maior ameaça à sobrevivência da tripla do que aquele transístor roufenho: «O rádio sempre a tocar… E eu disse: daqui a um bocado estamos lixados. Há aí uma notícia qualquer de que há fuga de prisioneiros, e o que é que a gente faz? O rapaz tem de desaparecer. É assim… Na guerra é assim», confessa António Lobato.
Caminhavam em permanente tensão, a dizer isso mesmo por meio de olhares e sinais, quando de repente, do cimo de um alto, avistaram uma estrada que serpenteava no horizonte e desembocava numa ponte de ferro. A acreditar no velho mapa do livro da escola primária, estavam a chegar à estrada que ia dar ao rio Konkouré, que teriam sempre de atravessar se queriam seguir caminho até à Guiné portuguesa.
Estavam demasiado expostos e, como se não bastasse, atrasados, à conta da noite passada na aldeia, tinham de se ver livres do rapaz o quanto antes. De preferência, sem ter de lhe torcer o pescoço. Disseram-lhe que já sabiam onde estavam e que, a partir dali, podiam seguir viagem sozinhos. O filho do chefe da aldeia ainda insistiu em acompanhá-los até à barragem, mas acabou por ceder e voltou para trás, não sem antes se despedir dos três homens e de lhes desejar boa viagem.
Lobato, Vaz e Rosa nem queriam acreditar quando o viram desaparecer por trás de uns arbustos, tinham conseguido enganar uma aldeia inteira e continuavam em liberdade. Mal sabiam eles que, da próxima vez, não iam ter a mesma sorte.