São inúmeras as publicações que referem que 100 mil pessoas saíram às ruas do Japão (um país pouco habituado a protestos em massa) contra o tratado global sobre pandemias da Organização Mundial da Saúde. “Mais de 100 mil japoneses saíram às ruas determinados a proteger as suas crianças e defender a sua nação contra a agenda sanitária e o tratado pandémico da OMS”, diz uma das publicações, que também partilha um vídeo de um aglomerado de pessoas, em que algumas agitam bandeiras do Japão.

O vídeo em causa é verdadeiro. Retrata um protesto, que teve lugar no distrito de Ikebukuro, em Tóquio, contra a substância do tratado internacional sobre pandemias — um documento que ainda continua a ser discutido no seio da OMS, mas que terá como principal objetivo garantir uma resposta concertada entre os países aquando da próxima pandemia.

No que diz respeito ao protesto, que ocorreu no dia 13 de abril, nenhuma entidade governamental nem local japonesa avançou uma estimativa do número de participantes. Os organizadores tinham como objetivo reunir 100 mil pessoas nas ruas do Japão. Mas, para além de Tóquio, não há registo de protestos noutras cidade nipónicas.

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E, mesmo na capital, o número de manifestantes ficou bem aquém do objetivo. Embora não existam dados oficiais, a agência de gestão de risco Crisis24 fala em alguns milhares de pessoas reunidas na zona de Ikebukuro. Numa publicação sobre o protesto, Hiroshi Tanaka, membro do partido Sanseitō (ou Partido Faça Você Mesmo, numa tradução livre), uma força nacionalista e ultraconservadora criada em 2020, partilhou a sua própria experiência como membro da organização.

No blogue Go2Senkyo, Tanaka elabora sobre a forma como a sociedade nipónica, por regra, não adere a manifestações em massa. E, depois, refere-se diretamente ao protesto de 13 de abril. “No que diz respeito a manifestações, que os japoneses detestam, estiveram mais de 7 mil pessoas [presentes nas ruas de Tóquio], pelo menos numa estimativa por baixo. Se contabilizarmos as pessoas que encheram as laterais das ruas, devem ter estado bem acima das 10 mil pessoas” no protesto contra o que tem sido designado de “tratado pandémico”.

No mesmo blogue, outro membro do mesmo partido, Masanao Kaji, descreve aquilo que terão sido “dezenas de milhares de manifestantes” a participar naquele protesto, sem referência a um número concreto.

Olhando para as imagens, e embora não sejam claros os limites da manifestação, o número de pessoas, reunidas numa praça diante de um palco (onde outras pessoas discursavam), não parece aproximar-se dos valores referidos, ou seja, das 100 mil. E o próprio relato de quem participou na manifestação — e ajudou a organizá-la — aponta, nas estimativas mais otimistas, para valores 10 vezes abaixo do referido na publicação em análise.

Conclusão

Não há evidências de que tenham estado 100 mil pessoas numa manifestação em Tóquio contra o tratado internacional sobre pandemias. A agência de gestão de risco Crisis24 fala apenas em alguns milhares de pessoas e um dos organizadores fala em, no máximo, 10 mil manifestantes.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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