Um desenho do italiano Walter Molino tornou-se viral por supostamente retratar um futuro marcado por uma situação pandémica, no qual que as pessoas são obrigadas a deslocar-se em veículos fechados para garantir o distanciamento social. Alegadamente intitulado “A vida em 2022”, a ilustração, feita em 1962, terá previsto um cenário de pandemia. Mas não era esse o objetivo de Molina quando o realizou.

Walter Molino (referido como “Moinho” nalguns posts partilhados no Facebook) nasceu a 5 de novembro de 1915, em Reggio Emilia, uma cidade da região de Emilia-Romagna, no norte de Itália. Cartoonista e ilustrador, colaborou ao longo da sua vida com vários jornais italianos, a começar pelo Il Popolo d’Italia, fundado durante a Primeira Guerra Mundial por Benito Mussolini. Foi, aliás, o próprio Mussolini que, ao reparar no trabalho do jovem ilustrador no jornal da sua universidade, o convidou para trabalhar no Il Popolo, o órgão oficial do partido fascista, em 1935.

O post do Facebook que atribui o título “A vida de 2022” à ilustração de Walter Molino, aqui apelidado de “Moinho”

No ano seguinte, Molino começou a colaborar com a revista satírica Bertoldo, iniciando um trajeto profissional ligado sobretudo à sátira e à comédia. Juntamente com Federico Pedrocchi, autor de algumas das primeiras bandas-desenhadas da Disney, criou várias histórias aos quadradinhos, nomeadamente Virus, il mago della Foresta Morta. Em 1941, tornou-se ilustrador oficial do La Domenica del Corriere, onde era responsável por desenhar a capa da edição semanal. O jornal, que pertencia ao mesmo grupo do Corriere della Sera, fechou portas em 1989. Molina morreu a 8 de dezembro de 1997, aos 82 anos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Foi para a capa do La Domenica del Corriere que, em dezembro de 1962, Molino fez a ilustração que agora circula nas redes sociais com o título “A vida em 2022”. Originalmente, esta chamava-se “É assim que vamos circular na cidade?” e imaginava um cenário no futuro, em que os humanos circulariam em veículos mais pequenos, de apenas um lugar, chamados “singoletta”. A legenda original dizia o seguinte: “Eis como o tráfego pode ser aliviado nas cidades. Em vez dos volumosos carros atuais, minúsculos monolugares que ocupam uma área mínima de superfície e que poderiam ser chamados singoletta”. O ano de 2020 (ou o de 2022) não era referido.

O Corriere della Sera recuperou a ilustração de Molina a 18 de maio, explicando o contexto da sua publicação original e sugerindo que o ilustrador previu a mobilidade dos dias de hoje, lembrando a necessidade de redesenhar os transportes urbanos “em temos de coronavírus”. Não parece, no entanto, ter sido a peça deste jornal italiano a originar a partilha da imagem nas redes sociais, uma vez que é possível encontrar o desenho com a legenda “A vida em 2022” em posts anteriores à peça de 18 de maio.

Conclusão

A ilustração feita por Walter Molino para a capa do La Domenica del Corriere em 1962 não tinha como título “A vida em 2022” nem pretendia ser uma previsão de um futuro onde os humanos teriam necessidade de se deslocar isoladamente. Originalmente, esta chamava-se “É assim que vamos circular na cidade?” e imaginava um cenário em que os humanos circulariam em veículos mais pequenos, de apenas um lugar, chamados “singoletta”. A alegação feita no post do Facebook é, por isso, falsa.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge