É uma teoria e nem é de agora. O debate tem sido lançado nas redes sociais pelo menos desde 2012. Afinal, Barack Obama, o primeiro Presidente negro da história dos Estados Unidos, é ou não americano?

Uma rápida pesquisa pela cidadania e nacionalidade do antecessor de Donald Trump na Casa Branca remete-nos para uma página na Wikipédia (tanto em português como em inglês) sobre as “teorias conspiratórias acerca da cidadania de Barack Obama”. O nome completo do 44º Presidente dos Estados Unidos — Barack Hussein Obama II — e certamente o tom de pele — foi o primeiro Presidente afro-americano do país — serviram como justificação para a origem de uma longa lista de, tal como escreve a Wikipédia, “teorias da conspiração”.

As teorias são mais que muitas e um dos seus principais promotores foi o insuspeito Donald Trump, que apenas reconheceu que Barack Obama nasceu nos Estados Unidos… em 2016, cinco anos depois de a Casa Branca partilhar (pela segunda vez) o certificado de nascimento do antigo Presidente dos Estados Unidos. Em 2012, Donald Trump já era apontado como um nome para concorrer à nomeação do Partido Republicano e enfrentar o Presidente Democrata.

Questionar a nacionalidade do antigo Presidente tinha como objetivo negar a legitimidade da sua eleição (Barack Obama venceu duas eleições para a Casa Branca, a primeira em 2008, a segunda em 2021). Aliás, Obama divulgou a sua certidão de nascimento em 2011 que mostra que nasceu em 1961 na cidade de Honolulu, no estado do Havai, mas antes já tinha divulgado uma cópia mais curta do mesmo documento (na campanha eleitoral em 2008). A última versão, que já tem 13 anos, foi assinada não só pela mãe, Ann Dunham Obama, como pelo médico que assistiu ao parto.

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A explicação é extensa mas é necessária, porque o que está a circular nas redes sociais é uma variante desta mesma teoria. Como poderia Barack Obama ser um cidadão norte-americano se, quando estudou na Universidade de Columbia, era designado um “estudante estrangeiro“?

Publicação de Facebook partilha um suposto cartão de estudante de Barack Obama enquanto aluno da Universidade de Columbia.

Publicação de Facebook partilha um suposto cartão de estudante de Barack Obama enquanto aluno da Universidade de Columbia.

Mas a teoria específica que lança dúvidas sobre a nacionalidade de Barack Obama, a reboque de um suposto cartão de estudante, não é nova. Mas aquele nunca poderia ser o cartão de estudante de Barack Obama. Porque o formato de cartão com identificação digital, como o que está a circular nas redes sociais, apenas surge na Universidade de Columbia em 1996. Ora, Barack Obama deixou a Universidade em 1981. Ao consultar o número do cartão podemos ver que é atribuído a um outro aluno, Thomas Lugert, de 1998.

E mais: a fotografia que aparece na imagem falsificada do cartão de estudante da Universidade de Columbia não é uma fotografia de Barack Obama de 20 anos, em 1981. É sim uma fotografia tirada durante o período em que o antigo Presidente dos Estados Unidos esteve na Faculdade de Direito de Harvard (10 anos depois, já na década de 1990).

Conclusão

A imagem que circula nas redes sociais, que mostra um cartão de Barack Obama enquanto frequentava a Universidade de Columbia, é uma simples manipulação. Não só o número de cartão que pertence a um outro aluno, anos depois de Barack Obama deixar a Universidade de Columbia, como este tipo de cartões com identificação digital apenas surge em 1996. Obama deixou a Universidade em questão em 1981.

Alem de tudo isso, esta é apenas uma variante da teoria que durante anos questionou a nacionalidade de Barack Obama, antigo Presidente dos Estados Unidos. Todas as teorias caíram por terra quando a Casa Branca divulgou a sua certidão de nascimento, em 2011.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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