O vídeo mostra um cenário de caos: uma sala praticamente destruída, dezenas de pessoas em pânico e o som audível de tiros. Na legenda da publicação são oferecidos mais detalhes. Lê-se que o exército israelita bombardeou “a cave de um edifício de cirurgia especializada” no hospital Al-Shifa, tendo, igualmente, “detido dezenas de cidadãos depois de lhes tirar as roupas”. Tudo, acrescenta o autor, durante uma “troca de tiros contínua”.

Há outros dois aspetos na publicação que merecem referência. Primeiro, o post cita o serviço árabe da Al Jazeera como fonte desta informação. Em segundo lugar, a data em que o incidente terá ocorrido: 16 de novembro de 2023, mais de um mês depois do escalar do conflito entre Israel e o Hamas. Será verdade?

Não é. Uma simples pesquisa através da ferramenta Google Images permite-nos perceber que, na verdade, o vídeo foi publicado há mais de uma década. E os erros factuais não se ficam pela data. O tiroteio em questão foi filmado no Egito, mais concretamente no hospital Rabaa al-Adawiya, na cidade do Cairo. Aliás, a bandeira nacional do Egito pode ser vista nas filmagens.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A gravação foi originalmente publicada pela agência de notícias egípcia Rassd News Network (RNN) no Youtube, em 16 de agosto de 2013 — ou seja, mais de 10 anos antes do reacender dos confrontos na Faixa de Gaza.

Fazendo alguma pesquisa adicional, percebemos o que esteve na origem deste vídeo. O incidente, que ficou conhecido como o “Massacre de Rabaa, teve lugar a 14 de agosto de 2013 e decorreu num período marcado por violentas manifestações contra a destituição do então Presidente Mohamed Morsi e contra o golpe militar liderado pelo agora chefe de Estado do país, Abdel Fattah el-Sisi. Numa dessas manifestações, a 14 de agosto, as autoridades utilizaram a força para dispersar um protesto na praça de Rabaa, provocando centenas de vítimas mortais. O hospital que surge na imagem localizava-se nos arredores.

A violência dos confrontos foi noticiada por vários órgãos de comunicação internacionais, incluindo as publicações norte-americanas The Atlantic e The Washington Post.

É no entanto verdade que vários hospitais da Faixa de Gaza, incluindo o referido hospital Al-Shifa, têm sido frequentemente atacados e/ou cercados pelo exército israelita. Al Shifa, em particular, foi revistado em meados de novembro pelas forças de defesa de Telavive, por suspeitas de que o Hamas estaria a usar o edifício como uma infraestrutura terrorista (alegação desmentida pelo grupo islâmico). Este episódio esteve envolto em polémicas, dúvidas e desinformação, levando a inúmeros pedidos de esclarecimento por parte da comunidade internacional.

As armas, os dois alegados reféns e as horas: frame a frame, as dúvidas do vídeo do hospital al-Shifa divulgado por Israel

De resto, importa referir que a publicação já foi igualmente desmentida por outros factcheckers internacionais, como o da agência Reuters.

Conclusão

Publicação é falsa. Imagens não foram captadas em contexto de guerra, nem mostram o exército israelita a invadir um hospital na Faixa de Gaza. O vídeo original foi filmado em 2013, durante um tiroteio num hospital de campanha no Egito.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge