Há publicações nas redes sociais a afirmar que a Torre do Diabo, uma estrutura rochosa com 275 metros de altura no estado norte-americano de Wyoming, já foi uma árvore gigante porque, por baixa dela, terá sido encontrado um sistema de raízes petrificadas. A investigação que terá descoberto essa suposta rede de raízes está a ser atribuída ao Departamento de Parques do estado de Wyoming.

“Uma enorme e surpreendente descoberta foi feita na Torre do Diabo em Wyoming. Cientistas do Departamento de Parques do Estado de Wyoming estavam a realizar leituras sísmicas fotográficas debaixo da torre quando descobriram um sistema radicular petrificado incrivelmente grande”, dizem as publicações, afirmando que a investigação pode “reescrever a História e a ciência como as conhecemos”.

E incluem um alegado comunicado do departamento:

Nós descobrimos o que parece ser um sistema de raízes gigantes que se origina da base da Torre do Diabo. O sistema radicular foi medido a quatro milhas [6,4 quilómetros] de profundidade e tem sete milhas [11,3 milhas] de largura. Estamos atualmente a realizar estudos e testes para confirmar que este é realmente um sistema radicular e não uma coincidência”.

Mas nada disto é verdade. A página do Departamento de Parques do Estado de Wyoming admite que a Torre do Diabo está a ser estudada desde o século XIX sem que nunca se tenha determinado a sua origem. Há quatro teorias dominantes em cima da mesa, mas nenhuma afirma que a Torre do Diabo é, na verdade, o que resta de uma gigantesca árvore com um colossal sistema de raízes.

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A publicação em análise tem origem noutra realizada em 2017.

E a sua composição, essa, está bem estabelecida: “Sabemos que a Torre é formada por uma rocha ígnea rara, o fonólito, e é o maior exemplo de disjunção colunar do mundo“. As rochas ígneas são as formadas após o arrefecimento do magma em ascensão a partir do manto; e o fonólito, que é um tipo raro dessa rocha, rico em microcristais (porque se gera através de um arrefecimento muito rápido do magma à superfície), que emite um som metálico quando um corpo duro lhe atinge.

Não só a Torre do Diabo é composta por esta rocha magmática rara como o seu formato também é único. “À medida que o magma arrefece de uma forma líquida para uma forma sólida, ele começa a contrair. Isso cria tensão na rocha em arrefecimento, que começa a rachar. As fissuras irradiam dos pontos de tensão, formando formas hexagonais”, explica o departamento norte-americano. É a disjunção colunar.

Embora a formação da Torre do Diabo continue envolta em mistérios que os cientistas tentam deslindar, a teoria de que foi uma árvore gigante no passado não está em cima da mesa. Isso mesmo foi assegurado pelo Departamento de Parques do Estado de Wyoming à Reuters: “Não há evidências para apoiar uma teoria como um tronco de árvore ou raízes de árvores petrificadas“.

Então, de onde vem esta informação falsa? A primeira publicação que sugere uma ligação entre a Torre do Diabo e uma suposta árvore gigante com raízes petrificadas é de 2017 e foi realizada pela página Casper Planet. Na descrição que fazem do site, os autores esclarecem logo o carácter jocoso das publicações: a missão é “entregar as notícias que não importam diretamente no seu feed de notícias”, com “sátira, humor e opinião“. E os “nomes e locais são inventados”.

Aliás, a brincadeira foi mesmo apresentada como tal numa rádio local em Wyoming, a KGAB AM 650, que em agosto de 2017, um mês após a publicação original, incentivou os habitantes a espalharem um “novo mito” sobre o estado norte-americano. “O lebrílope [cruzamento fictício entre antílope e uma lebre] e a caça ao gambozino, duas das maiores piadas de Wyoming que dizemos aos visitantes (…). Então aqui está uma nova para lhes dizer”, diz o artigo que noticia a brincadeira da Casper Planet.

Embora a piada tenha saído da mente criativa dos autores e não haja um sistema de raízes por baixo da Torre do Diabo, a ilustração apresentada na publicação não foi desenhada para esta anedota: na verdade, ela mostra o sistema de raízes do milho doce às oito semanas de desenvolvimento, de acordo com o site Soil and Health Library. Mas as suas dimensões estão na ordem dos centímetros — não dos quilómetros, como diz a publicação.

Conclusão

É falso que a Torre do Diabo seja parte sobrevivente de uma árvore gigante cujo enorme sistema de raízes está petrificado abaixo do solo. Essas afirmações foram retiradas de uma sátira que uma página publicou como tal no Facebook em 2017 — e está identificada como não passando de uma anedota.

A comunicação social de Wyoming, onde fica a Torre do Diabo, sugeriu mesmo que ela passasse a ser mais uma piada que os habitantes podiam contar aos turistas para os introduzir aos “mitos” do estado norte-americano. É verdade que os cientistas ainda desconhecem detalhadamente o processo de formação da Torre do Diabo, mas sabem que ela é feita de um tipo raro de rocha magmática.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

 FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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