O vídeo foi partilhado a 8 de novembro deste ano numa página do Facebook e, em apenas dez dias, já registava 462 mil visualizações e 3.200 partilhas. No vídeo, com cerca de quatro minutos e meio, vê-se um homem vestido com colete refletor e capacete defender a sua “obra” enquanto, em pano de fundo, um viaduto vai ruindo aos poucos — acabando mesmo por colapsar nos segundos finais do vídeo.

A legenda que acompanha o vídeo assegura: “Na Venezuela, um ‘engenheiro’ tenta explicar, numa reportagem, que está tudo bem com o viaduto, atrás dele… o que vale é sua a intenção em não admitir e não a realidade acontecendo a olhos vistos. Nenhum argumento vale. Assistam até o fim.”

Durante o vídeo, aparentemente filmado com um telemóvel na vertical, um suposto jornalista vai fazendo perguntas ao “engenheiro“, que se apresenta como Hector Poño, e apontando para o viaduto em pleno colapso. A dada altura, o entrevistador confronta o homem do colete refletor, perguntando-lhe se assume a responsabilidade pela eventual queda da ponte.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Durante todo o vídeo, o tal “engenheiro” vai desvalorizando as questões, desfazendo-se em justificações bizarras, incluindo a de que a aparente fragilidade do viaduto é um “efeito para entretenimento” e um “atrativo para a cidade“, já que “as pessoas vêm cá tirar fotografias”. Mais tarde no vídeo, afirma que é uma ponte com “efeitos especiais”, uma ponte com um “conceito vintage” ou um viaduto “retro“.

Noutro momento do vídeo, o “engenheiro” recebe um telefonema em que, aparentemente, é informado da queda de uma ponte. Imediatamente, o entrevistador confronta-o, perguntando-lhe se outras das suas pontes e viadutos ficaram mal construídos, mas o protagonista da filmagem argumenta que, na verdade, o que caiu foi uma ponte construída no Minecraft (um popular videojogo que permite a construção virtual).

Porém, nada disto aconteceu na realidade. Basta fazer uma pesquisa pelas imagens do vídeo no Google para chegar à fonte original: um vídeo humorístico do youtuber mexicano Pakito Quetzalcoatl, com o título “Puente defectuoso” (Ponte defeituosa). O vídeo original foi publicado a 24 de outubro e, na página de YouTube de Pakito Quetzalcoatl, conta apenas com menos de 9.500 visualizações. No Facebook, porém, na conta oficial (e verificada) de Pakito Quetzalcoatl, o vídeo já tem mais de 9,5 milhões de visualizações.

Nas páginas de Pakito Quetzalcoatl é possível ver muitos outros vídeos humorísticos, protagonizados pelo mesmo homem que neste faz de “engenheiro”.

Desvendada a origem do vídeo, resta apenas explicar que, como se poderá concluir da observação atenta das imagens, o colapso do viaduto não passa de uma montagem com vários erros que a denunciam de imediato. Por exemplo, basta prestar atenção ao piso por baixo do viaduto, onde vão caindo detritos ao longo de todo o vídeo: quando chegam ao chão, os “detritos” desaparecem por completo, em vez de se amontoarem ali.

Por outro lado, a inexistência de qualquer perigo no viaduto é indicada pelo facto de a vida normal naquelas vias de trânsito não ter sido minimamente afetada. Durante todo o vídeo, veículos ligeiros e pesados continuam a passar por cima e por baixo do viaduto com toda a naturalidade — e nenhum transeunte olha com particular atenção para o anunciado colapso que o vídeo parece dar a entender.

De resto, toda a montagem é de uma qualidade muito fraca, sendo facilmente identificável que tudo não passa de uma manipulação — como, aliás, vários comentários no próprio vídeo apontam.

Conclusão

O vídeo posto a circular como retratando um engenheiro que desvaloriza o colapso de um viaduto construído por si é, na verdade, um vídeo humorístico gravado por um youtuber mexicano, e não um vídeo real gravado na Venezuela. Além disso, vários elementos no próprio vídeo mostram que se trata de uma montagem.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge