A meio de junho, o Observador desconstruiu uma publicação que afirmava que havia aviões a libertar “nuvens químicas” para “envenenar” a população. A publicação era falsa mas, agora, um novo post no Facebook promete revelar as “fotos secretas” dos aviões que voam “carregados com agentes químicos”. Só que as tais fotografias não são secretas — e também não mostram aviões carregados de veneno.

Estas alegações têm por base a teoria dos “chemtrails”, os tais rastos de fumo branco que seriam nuvens de agentes químicos ou biológicos a serem libertados para a atmosfera, acabando por contaminar as populações. “A teoria de conspiração dos ‘chemtrails’ é apenas isso: uma teoria de conspiração, sem uma única prova científica que a sustente”, disse, na altura ao Observador, Fernando Lau, professor de Engenharia Aeroespacial do Instituto Superior Técnico de Lisboa.

Fact Check. Aviões deixam “nuvens químicas” no ar para “envenenar” a população?

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Nesta nova publicação, partilhada numa página de apoio a um reconhecido magistrado português, e que conta com mais de 2 mil seguidores, o autor limita-se a partilhar o link para um artigo publicado na página “Sempre Questione”. O link sugere que o leitor está prestes a ser confrontado com “fotos secretas de aviões carregados com agentes químicos que são espalhados nos céus diariamente”. A própria publicação apresenta a fotografia do interior de um desses supostos aviões.

Na imagem, o que vemos é, de facto, o interior de uma aeronave. Rapidamente se percebe que, no local onde normalmente estariam bancos para passageiros (e embora resistam alguns lugares no avião), são visíveis pelo menos sete depósitos cinzentos, cada um deles a ocupar dois lugares da aeronave. Os depósitos parecem ligados por um sistema de tubos vermelhos e brancos. Ainda se identificam um sistema eletrónico e alguns monitores na imagem.

Imagem da cabine de um avião na fase de testes. Os tanques ajudam a simular o peso de passageiros e de carga em viagens futuras

Uma busca pela origem da fotografia, com recurso a programas disponíveis na internet para esse efeito, devolve — além deste imagem referida — vários resultados em tudo semelhantes a este: interiores de aviões despidos de bancos, várias botijas ou depósitos distribuídos pelo interior da cabine, fios, tubos e computadores. Fica claro que não se trata de “imagens secretas”. Mas serão tanques de envenenamento?

Não. Na verdade, trata-se de tanques de equilíbrio, usados para testar os aviões e que são carregados com água. Exemplo disso é a viagem de um protótipo do Airbus A350, em 2014, registada pelo site alemão aero.de, especializado em aeronáutica. “O MSN4 [o modelo do avião em causa] é usado, sobretudo, para testes de aviónicos [sistema eletrónico do avião], sistemas de gestão de voo e para testes de aproximação”, refere o artigo. Depois, acrescenta-se que “a cabine do MSN4 está vazia (…) com a exceção dos tanques de lastro e do computador para os engenheiros de teste, com apenas alguns lugares, instalados na retaguarda, para os técnicos que seguem a bordo”.

Na prática, os tanques são preenchidos com água de forma a simular um voo com passageiros, numa fase em que os aviões ainda estão a cumprir a fase de testes antes de poderem ser integrados nas frotas das companhias aéreas. É isso que explica um engenheiro de testes de voo da Bombardier (a partir do minuto 2’32).

A AFP Checamos, fact checker parceira do Observador, verificou um conteúdo semelhante a este e juntou-lhe outras imagens que estão a circular com a mesma ideia subjacente: a de que se está perante a prova de um envenenamento em massa. Nalguns casos, havia até imagens (adulteradas) do painel de controlo de um Boeing 737 com um botão onde se podia ler a inscrição “chemtrails”.

Conclusão

Não são “fotos secretas” e não são a prova de que há aviões usados para “envenenar” a população — ideias que têm origem nos defensores de uma tese de eliminação populacional que dá pelo nome de “chemtrails”.

As imagens aqui em análise são públicas e mostram o interior de um avião em testes. Os tanques são cheios com água para simular o peso de passageiros e carga.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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