“É preciso olhar duas vezes”, “poucos vão notar”, “faça zoom”. Estes são alguns dos comentários que deixam os muitos utilizadores do Facebook e admiradores de uma fotografia captada por Beverly Joubert, fotógrafa da National Geographic sediada no Botsuana e que há mais de 30 anos se dedica à conservação de espécies. Num primeiro olhar pode parecer que a imagem captou a passagem de cavalos por um deserto, mas rapidamente se torna claro que se trata na verdade de zebras. Este curioso jogo de sombras, alegam vários utilizadores do Facebook, teria vencido a “Foto do Ano” da revista norte-americana.

A imagem foi captada em 2018 por Beverly Joubert e publicada na conta pessoal de Instagram da fotógrafa e também realizadora a 12 de julho, acompanhada pela legenda: “Onde as sombras adquirem uma forma sólida e os corpos às riscas se perdem na luz.” Mostra uma manada de zebras a atravessar as salinas de Makgadikgadi durante um percurso antigo de migração que estes animais seguiam e que, segundo a revista norte-americana, se acreditava ter sido perdido. A imagem gerou um grande interesse e, todos os anos, vai circulando pelas redes sociais com a legenda de que venceu a “Foto do Ano” da National Geographic — há publicações de 2022, 2023 e 2024. Mas será verdade?

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A imagem foi destacada pela National Geographic, que na conta de Instagram assinalou o efeito curioso retratado por Beverly Joubert. “O início da manhã cria uma ilusão interessante nas águas rasas das Salinas Makgadikgadi, enquanto as zebras seguem antigos caminhos migratórios”, contextualizava. Acrescentava que o trajeto se tinha perdido devido à construção de cercas para manter os animais selvagens afastados do gado, mas que um destes importantes separadores tinha sido derrubado, permitindo assim que uma nova geração de zebras voltasse a trilhar os mesmos caminhos que os seus antepassados já tinham percorrido.

Se nesse ano, como habitualmente, os editores e júris da National Geographic analisaram milhares de fotografias e escolheram destacar 13 numa fotogaleria do ano, a de Beverly Joubert não constava entre os vencedores — a lista completa pode ser consultada aqui. A grande vencedora do concurso foi a fotografia intitulada “Unreal”, do fotógrafo e instrutor de voo Jassen Todorov. A imagem mostra um autêntico cemitério de carros, da Volkswagen e Audi, que jazem no deserto de Mojave, na Califórnia.

Na altura, o fotógrafo que captou a imagem explicou que os modelos, fabricados entre 2009 e 2015 e concebidos de forma a defraudar os resultados dos testes de emissões de dióxido de carbono (o escândalo Dieselgate), foram recolhidos e colocados no deserto norte-americano e estavam simplesmente ali a “apanhar pó”. Com a foto, pretendia que as pessoas tomassem “consciência do desperdício” e se tornassem “mais cuidadosas com o planeta”, segundo disse em entrevista à National Geographic.

Apesar das notícias que davam conta de que Jassen Todorov tinha vencido a nomeação, assim como um prémio de cinco mil dólares, continuaram a multiplicar-se os posts com a ideia de que a foto de Beverly Joubert tinha sido a premiada. A própria fotógrafa chegou a negá-lo, ainda em 2018, em resposta a um utilizador que a questionou sobre o assunto. “Esta imagem não venceu a foto do ano da Nat Geo. Não sei de onde vieram essas alegações, mas estou animada por ver tanto interesse nesta foto”, escreveu.

Fact Check, Beverly Joubert confirma que a sua fotografia que mostra jogo de sombras de zebras não foi considerada "Foto do Ano" pela National Geographic

Conclusão

Não corresponde à verdade que a fotografia de Beverly Joubert, que deu que falar pelo efeito curioso que retratou, tenha sido nomeada como “Foto do Ano” pela National Geographic. Em 2018, o prémio foi vencido por Jassen Todorov, com a fotografia “Unreal”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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