Lula da Silva, Jair Bolsonaro e a política no Brasil. São três dos ingredientes que mais aquecem as discussões nas redes sociais. E a última teoria recua até 2018, ano da eleição de Bolsonaro como Presidente do Brasil. Em plena ação de campanha na cidade de Juiz de Fora, em setembro desse ano, Jair Bolsonaro foi esfaqueado. Passaram-se cinco anos, o candidato Bolsonaro venceu as eleições, passou a Presidente Bolsonaro, perdeu as eleições seguintes e passou a ex-Presidente Bolsonaro.

Mas o tema voltou às redes sociais. “Explodiu a bomba. Foi o PT que mandou matar Bolsonaro”, lê-se no título de uma imagem. O texto explica, ou tenta explicar, nos parágrafos seguintes: “O advogado já tem provas que condenam Lula. Mas quem o condenará?”

Publicação de Facebook acusa Lula de estar por detrás do ataque a Jair Bolsonaro, em 2018.

Publicação de Facebook acusa Lula de estar por detrás do ataque a Jair Bolsonaro, em 2018.

A imagem mostra Frederick Wassef, advogado de Jair Bolsonaro. E a alegação é a de que esse mesmo advogado teria provas do envolvimento do Presidente Lula da Silva e do seu partido, o PT, no atentado contra Bolsonaro, em 2018. A imagem é um screenshot de um vídeo e quem a partilha alimenta as acusações, com legendas como: “Isso todo o mundo já sabia” ou “Quem vai prender esse Luladrão?”

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Vamos, por isso, recuar a 2018. Em setembro desse ano, Jair Bolsonaro foi esfaqueado numa ação de campanha. Teve que ser hospitalizado e o tema, como seria de prever, fez correr muita tinta. Depois de Bolsonaro ser eleito, o próprio Lula da Silva questionou a história — que classificou como “suspeita e muito estranha” — em torno do ataque.

Mas o autor foi rapidamente identificado e detido. Adélio Bispo de Oliveira confessou o ataque e garantiu que atuou “a mando de Deus”. Chegou a pertencer a um partido de esquerda no Brasil, não o PT de Lula, mas o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), entre 2007 e 2014. Mas o tema não é novo e o PSOL veio prontamente responder e argumentar que “o facto de Adelio Bispo de Oliveira ter sido filiado ao PSOL, entre 2007 e 2014, não altera em nada o posicionamento do partido em relação ao inaceitável atentado sofrido por Jair Bolsonaro”.

Adélio Bispo de Oliveira foi detido e as últimas notícias dão conta de que o autor do ataque contra Bolsonaro vive um impasse, cinco anos após esfaquear Bolsonaro. A imprensa brasileira explica que a defesa insiste que seja internado numa unidade psiquiátrica, enquanto a Justiça o mantém numa prisão federal.

Mas regressemos às acusações de Frederick Wassef. O vídeo que agora volta a ser partilhado é de novembro de 2021. Em entrevista aos meios de comunicação social brasileiros, o advogado que representa Bolsonaro garantia que a Justiça Federal iria reabrir o caso do ataque contra o antigo Presidente do Brasil. Nessa mesma entrevista, Wassef dizia que o autor do ataque era um “assassino profissional” e que tinha provas de que “a esquerda brasileira encomendou a morte do Presidente Jair Bolsonaro“. Mas não apresentou quaisquer provas, e continuou sem o fazer, meses depois.

As acusações do advogado de Jair Boslonaro são por isso recicladas. E como não são novas tiveram resposta logo em 2021. O PT, de Lula da Silva, chegou a anunciar que ia processar Frederick Wassef, que acusou de propagar “desinformação”.

E ainda há tinta para correr sobre a facada a Jair Bolsonaro, em 2018? A Polícia Federal do Brasil abriu dois inquéritos para investigar o ataque. O primeiro em 2018 e o segundo em 2022. O resultado foi o mesmo: Adélio Bispo Oliveira agiu “sozinho” e com “motivações políticas”. Em qualquer uma das investigações foi descartada a participação de outras pessoas ou organizações, como partidos políticos.

Conclusão

A bomba não explodiu. Ao contrário do que alegam várias publicações de Facebook, não há provas de que tenha sido o “PT a mandar matar Bolsonaro”. São partilhadas imagens de uma entrevista dada pelo advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, em que de facto acusava partidos de esquerda, como o PT, de “encomendarem” a morte do então candidato à Presidência do Brasil. Mas há um pormenor importante: apesar de Wassef ter feito essas acusações, ainda em 2021, nunca apresentou provas que levassem a qualquer tipo de ação judicial contra o PT, Lula da Silva ou outro qualquer ator político a este respeito.

Por duas vezes, a Polícia Federal Brasileira abriu uma investigação ao ataque contra Jair Bolsonaro na campanha política de 2018. E por duas vezes chegou à mesma conclusão, o atacante, Adélio Bispo Oliveira, agiu “sozinho” e com “motivações políticas”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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