É uma série de acusações em planos diferentes: segundo esta publicação no Facebook, o Bloco de Esquerda apoia terroristas internacionais que pertencem ao Hamas, assim como os “atentados ambientalistas” da Climáximo, e é liderado por Mariana Mortágua, “filha de um terrorista que matou e roubou”.

Além disso, a publicação inclui ainda uma imagem que supostamente mostra a dirigente e deputada bloquista Marisa Matias ao lado de vários elementos do Hamas, armados e de cara quase tapada, sugerindo que essa é a prova do apoio do partido ao grupo islâmico.

Começando por esta última questão: é possível, desde logo, perceber numa primeira análise a olho nu que a figura de Marisa Matias foi sobreposta a uma fotografia onde originalmente não estava. Fazendo uma pesquisa no Google pela origem da fotografia, confirma-se: com uma busca reversa é possível encontrar a imagem que mostra estes elementos do Hamas como ilustração de vários artigos online, como esta peça do Wall Street Journal, e sem a presença da deputada bloquista.

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A acusação assenta também na ideia de que o Bloco apoia os “terroristas internacionais” do Hamas, crítica que tem sido feita ao partido, sobretudo por alguns adversários políticos. O partido é muito crítico do regime israelita e num primeiro momento, na reação aos ataques de 7 de outubro perpetrados pelo Hamas, foi muito criticado por não condenar explicitamente o grupo, condenando genericamente os ataques a civis — no voto de pesar que entregou no Parlamento não mencionava o Hamas, criticando ataques, “venham de onde vierem”. Entretanto, o Bloco passou a condenar os “crimes de guerra” que considera que o Hamas, tal como Israel, cometeu, e começou a falar em “atos de terror” e “ataques terroristas” bárbaros cometidos pelo grupo. O Observador dava conta, neste texto, da evolução das posições de Bloco de Esquerda e PCP sobre este assunto.

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Em terceiro lugar, não é verdade que o Bloco de Esquerda apoie os “atentados ambientalistas” da Climáximo. Apesar de o partido ter chegado, no passado, a contar com um dirigente nas fileiras do grupo ativista (João Camargo, que entretanto se desfiliou do Bloco), o partido tem-se mostrado cada vez mais afastado da Climáximo e tem feito questão de criticar de forma dura, e pública, os seus métodos.

Na campanha eleitoral, depois de Luís Montenegro ter sido atacado com tinta verde num evento, a coordenadora escreveu na rede social X:  “O ataque de hoje ao PSD é um ataque à liberdade na campanha eleitoral e portanto à democracia. Se os autores desta ação alegam uma causa justa, então são os piores defensores dessa causa.” No mesmo dia, diria aos jornalistas: “O Bloco desde o primeiro momento repudiou e repudia este tipo de ações. O direito democrático não pode ser condicionado. Nada justifica o condicionamento do debate democrático e a livre ação dos candidatos e candidatas às eleições legislativas em Portugal”.

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Por último, a publicação diz que Mariana Mortágua é filha de um “terrorista” que “matou e roubou”, numa referência ao pai da coordenadora bloquista, Camilo Mortágua, antigo dirigente da Liga de Unidade e Ação Revolucionário que participou no desvio do paquete Santa Maria e no desvio de um avião da TAP e participou na ocupação da herdade da Torre Bela, na Azambuja. Mas fê-lo num contexto de combate à ditadura.

Ou seja, é verdade que Camilo Mortágua fez assaltos, mas foram num contexto de combate ao Estado Novo e não para benefício próprio, uma vez que o dinheiro se destinava a financiar as organizações em que militava. Quando desviou o avião da TAP, o objetivo foi espalhar panfletos contra o regime de Salazar. Depois, passou à clandestinidade. Em junho de 2005, foi condecorado por Jorge Sampaio com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade da República Portuguesa.

Conclusão

A publicação tem por base várias afirmações que não são verdadeiras, assim como uma fotografia manipulada. A imagem de Marisa Matias foi alterada digitalmente. O Bloco condenou os “ataques terroristas” do Hamas, apesar de já ter sido atacado pelos momentos em que não criticou diretamente o grupo, assim como os atos de protesto da Climáximo, que considerou um “ataque à democracia”. E Camilo Mortágua fez “assaltos”, mas num contexto de combate ao regime da ditadura.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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