A Política Internacional sempre foi o maior palco, campo de estudo e análise dos processos, dos problemas e das relações políticas além-fronteiras entre as diferentes nações. Os Estados, desde a sua criação, são considerados os maiores atores derivada a sua componente de soberania e desejo constante, ardente de poder, estatuto, alcance e posição imperial no Mundo.

Há várias décadas que peritos da Política Internacional, das Relações Internacionais e outras disciplinas similares como a Ciência Política, estudam estas mesmas relações, assim como todas as consequências, efeitos e, inclusive, antevisões a fim de tentar compreender o Mundo em questão e o sentido que a própria política vem a tomar ao longo dos diferentes tempos que correm.

Em pleno século XXI, após nos termos deparado com tantos acontecimentos políticos de toda a natureza, de se ter vivido tantos anos com uma política internacional subjacente a uma riqueza indescritível por apresentar fenómenos nunca antes vistos, de termos visto as maiores oscilações mundiais, seja a nível económico, como cultural, ou político; o que é certo, é que existe uma mensagem e perspetiva comum de momento: estamos perante uma das maiores decadências da Política Internacional –enquanto disciplina e enquanto fenómeno que faz jus ao conceito-, tal como dos seus líderes e Chefes de Estado/ Governo.

Este ano, 2022, observámos uma total incapacidade governativa por parte de grandes líderes mundiais, acompanhada por inúmeros pedidos de demissão, revoltas nacionais, subidas ao poder de políticos totalmente incapacitados para o exercício do mesmo, críticas apresentadas a toda a conjuntura que vivemos atualmente com a Guerra na Ucrânia.

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Tomemos como exemplos mais evidentes e relevantes Élisabeth Borne, Mario Draghi, Emmanuel Macron, Boris Johnson – e a crise da sua sucessão –, Magdalena Andersson, Gotabaya Rajapaksa e, ainda, Marta Temido, se remetermos para o nacional. Alguns destes nomes não passaram pelo processo de demissão, conquanto, o conceito é-lhes associado pelas fracas políticas implementadas pelos mesmos e pela grande insatisfação que se faz sentir face às suas nomeações como Membros do Governo.

Claro está que nem todos estes governantes cometeram o grave erro de violar deliberadamente os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Conquanto, ressaltam-nos aos olhos exemplos flagrantes como o caso Covid-19/ Emmanuel Macron protagonizado pela perpetuação das restrições em prol da diminuição do suposto contágio proporcionado pela pandemia e, ainda, pela obrigatoriedade da vacina sem dar espaço à liberdade de escolha dos franceses.

Boris Johnson não ficou atrás no ranking e foi fortemente condenado pelas sucessivas mentiras e violações da lei inglesa no caso “Partygate” aquando o confinamento. Acrescido a isso deu-se uma enorme crise de sucessão que começou com Liz Truss e acabou com o atual Primeiro-Ministro Rishi Sunak num espaço de pouco mais de um mês.

Por fim, o caso mais polémico é, com certeza, focado em Gotabaya Rajapaksa, ex-Presidente do Sri Lanka, pela constante violação dos direitos fundamentais e da Convenção de Genebra desde a sua participação na Guerra Civil durante décadas. Gotabaya é, ainda, associado à falta de igualdade de género no Sri Lanka; ao aumento do terrorismo; à decadência da segurança e da justiça, e ao desaparecimento de várias etnias minoritárias.

A questão permanece: “O que se estará a passar com a Política Internacional?” Ou, “Estaremos perante um enfraquecimento político dos líderes mundiais?” ou, ainda, se correlacionarmos os dois pontos, “Será o enfraquecimento dos líderes mundiais a verdadeira razão da decadência da Política Internacional?”.

Ora, a verdade é uma só: aos poucos os líderes mais débeis e menos carismáticos vão caindo e saindo da Cena Internacional como se tratasse de um efeito dominó que não possui, aparentemente, um fim.

Atualmente, é-nos difícil apontar um líder mundial que possua as características, os valores, os ensinamentos, as abordagens e o carisma necessários para formar o esqueleto político requerido pelos amantes da política e para a própria. Porque tal exercício nos é difícil de executar? Uma vez que, atualmente, não existe um único líder que complete todo este quadro de exigências. Mas, que se terá passado para a formação deste declínio das nossas figuras políticas?

Muitos acreditam que esta carência se deve à falta de crença por parte dos próprios cidadãos que, optam grande parte das vezes, pelo não-voto, contribuindo para a eleição de candidatos quase que imorais para a realização das suas funções. Outros, afirmam que a decadência da Política Internacional não é um fenómeno atual: tem vindo a ganhar relevo desde o fim da Guerra Fria com a junção da globalização, ataques terroristas e os constantes ataques aos direitos humanos – algo que se considerava garantido e alcançado após o desastre da Segunda Guerra Mundial-.

Aliás, o facto de observarmos, constantemente, estes mesmos ataques aos direitos humanos, à liberdade de expressão, aos direitos, liberdades e garantias, com uma imobilidade tremenda; prejudica os verdadeiros desígnios da Política Internacional e acaba por desvalorizá-la. Por exemplo, nas grandes Organizações, tais como a Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial do Comércio (OMC) e Instituições como a União Europeia (UE); porque não são realizadas fortes críticas aos violadores de todos os pressupostos ocidentais? Porque não são colocadas em prática verdadeiras e arrasadoras sanções, que demonstrem a não tolerância a todas estas profanações do Direito Internacional?

Esta decadência, tanto da Política Internacional, como da própria Política Externa, poderá tornar-se a razão da queda da União Europeia, ou até mesmo do Ocidente e da sua comunidade de valores não-assegurados.

Respondendo à última questão apresentada, na minha perspetiva, a decadência da Política Internacional está a ser causada, essencialmente, pelos seus líderes e não o contrário. A falta de coragem dos líderes mundiais em empregar oratórias de fortes mensagens, a suavidade com que encaram os acontecimentos políticos e a levidade que vêm o seguimento da mesma, tudo isso demonstra a incapacidade política de governação. A política deve ser a mais nobre das funções, e a sua prática deve ser assegurada por indivíduos com a força de vontade e de trabalho que esta missão requere. A forma como os processos eleitorais são elaborados nos diferentes países também não são, na maioria das vezes, beneficiadores desta tese política e acabam por dar vitórias não merecidas por contagem errada de votos. Reformas eleitorais são, assim, igualmente, um elemento a ter-se em conta quando falamos do enfraquecimento dos líderes mundiais e da decadência da política. Conquanto, há que ter uma outra questão em conta: onde estão os verdadeiros líderes mundiais? Será que já esgotámos o plafond no passado e, de agora em diante, precisamos de nos contentar com os líderes que nos são apresentados?

O politicamente correto, inerente à questão da inércia das Organizações Internacionais –assim como da própria Sociedade Internacional- perante fenómenos impensáveis em pleno século XXI, mancha, de igual modo, a imagem da política.

Por outro lado, há que reconhecer que o politicamente correto, hoje em dia, é um dos maiores trunfos que um político e, inclusive, um mero cidadão podem empregar para obter a atenção dos eleitores e de pessoas exteriores que, interpretarão tal gesto como fruto de uma boa prestação por parte do individuo em questão. Ora, o estudo do politicamente correto, por si só, constituiria uma tese de Doutoramento dadas as vastas explicações e interpretações que oferece. Mesmo assim, o politicamente correto, hoje em dia, é aplicado de forma estratégica e abarca, única e exclusivamente, temas sensíveis e atuais como as alterações climáticas, o racismo reforçado pelo Movimento ‘Black Lives Matter’, entre outros pontos que chamam publicamente a atenção da opinião pública.

Não desvalorizando as causas e as bandeiras que todos estes movimentos defendem, a verdade é que muitos políticos mencionam este tipo de temáticas, não por pura preocupação social, mas sim para gerar um consenso político-eleitoral que se irá refletir, segundo o seu objetivo, em número de votos. Aliás, se prestarmos atenção, os mesmos políticos que aludem este tipo de matérias, são os mesmos que quando se encontram num cargo político/ governativo, prestam 0 políticas correlacionadas.

Assim sendo, é consensual, principalmente nas camadas mais jovens, que a decadência política se faz sentir de uma forma acentuada nas diversas vertentes e questões abarcando os líderes políticos, a política internacional e, por arreste, os próprios ideais.