Na noite das eleições, o que fará a Direita se o país der uma maioria PSD+IL+Chega, um pouco à imagem do que as sondagens hoje apontam?

Rui Rocha, Ricardo Blanco, Rodrigo Saraiva, o líder e figuras da referência da Iniciativa Liberal vêm tornando bem clara a posição do seu partido face a entendimentos pós-eleitorais com o Chega: não. Não farão alianças com o Chega e, mais, não aceitarão triangulações, à semelhança da geringonça, em que o PSD faça acordos separados com IL e Chega.

Também no PSD, cuja posição face a entendimentos com o Chega parece ainda não ser clara, há vozes que assumem idêntica posição, como Jorge Moreira da Silva, até de modo mais enfático, não só se opondo a acordos com o Chega como criticando o facto de o PSD ter estado representado no congresso daquele partido.

As sondagens apontam, realmente, para esta característica paradoxal do Chega: está a ganhar representatividade, mas também gera significativos anticorpos. No centro político, onde o PS e PSD disputam vitórias, anunciar abertura para acordos com o Chega é perder votos.

Para antecipar essa noite eleitoral, permita o leitor que dê de barato que, perante uma vitória do PSD, Marcelo convidará Montenegro a formar governo, ainda que este não tenha maioria absoluta. Note que as sondagens mais recentes, mesmo dando vitória ao PSD, esta ocorre por perda do PS e não por crescimento do PSD.

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Aqui chegados, uma primeira conclusão: é o PSD que dá as cartas. Chega e IL têm de manter o telefone livre à espera que toque.

A tese da IL é de que neste cenário o Chega fica “encostado à parede”, obrigado a apoiar um Governo PSD+IL para não ser acusado pela sua própria base eleitoral de entregar o poder à esquerda. A IL está preocupada com o Chega: no momento em que escrevo, os últimos 5 posts no Facebook do partido são precisamente sobre o Chega.

Ora, o PSD tem de se preocupar consigo e com o país. Não tem de andar com a direita ao colo.

Neste contexto, a sua opção é simples: deve formar governo e apresentar-se em minoria no Parlamento. Juntar a IL a esta minoria não faz sentido algum, do ponto de vista do PSD. Chegado ao Parlamento, quem quiser deitar o governo abaixo pagará o preço, certo de que o país quer estabilidade e penaliza quem a coloca em causa. O PSD já viveu este exacto cenário duas vezes, em 1979 com Sá Carneiro e em 1985 com Cavaco Silva. Em ambos os casos fez, um governo minoritário que foi abatido no Parlamento e, de seguida, teve uma vitória eleitoral. Este é o pior cenário eleitoral para a IL que pagará o preço do voto útil, à semelhança do que sucedeu com o CDS em 85 e só não sucedeu em 80 porque se formou a AD, Aliança Democrática. Importa ter presente também o que se passou no pós geringonça com o eleitorado do PC e Bloco.

De algum modo, quer-me parecer que tanto a IL como o Chega podem ficar encostados à mesma parede. Perante um governo minoritário do PSD, as suas bases aceitariam que votassem contra, entregando o poder ao PS? O PRD (de que já ninguém se lembra) desapareceu precisamente por lançar uma moção de censura que as suas bases não entenderam.

Uma alternativa seria PSD e IL (eventualmente com o CDS) apresentarem-se ao país numa aliança pré-eleitoral, revivendo a AD de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Telles. Difícil de negociar, porquanto há um mar de egos insuflados na mesa e a IL ainda acha que não é de esquerda nem de direita, esta teria duas vantagens: maximizar o metodo d’Hondt pela junção de votos e apresentar-se como a grande “frente de direita moderada” em oposição ao socialismo, gerando uma expectativa de vitória. Aqui sim, julgo que haveria um voto útil em desfavor do Chega.

Em todos estes cenários, segue serenamente o Chega. É a noiva que todos negam querer. Resta saber se este, cuja representação eleitoral é hoje significativa, quer dar passos concretos que lhe permitam ser mais que um partido de protesto: formar e apesentar quadros, apresentar uma proposta estruturada que cative a classe média. Um conhecido politólogo afirmava há dias que a melhor coisa que podia acontecer ao Chega seria ter um desaire eleitoral para perceber que tem de evoluir.

Este cenário cai se Marcelo exigir a garantia de uma maioria ou até mesmo um acordo escrito. Neste caso, para o qual o Chega já se manifestou disponível, o que farão PSD e IL? Quando, recentemente, apresentou uma moção de censura, a IL anunciou que o governo PS estava morto. Será ela a ressuscitá-lo?

E termino com a pergunta óbvia: se António Costa precisasse do Chega para obter uma maioria, hesitaria?

Nota editorial: Os pontos de vista expressos pelos autores dos artigos publicados nesta coluna poderão não ser subscritos na íntegra pela totalidade dos membros da Oficina da Liberdade e não reflectem necessariamente uma posição da Oficina da Liberdade sobre os temas tratados. Apesar de terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem pequeno, e o mundo, que querem livre, os membros da Oficina da Liberdade e os seus autores convidados nem sempre concordam, porém, na melhor forma de lá chegar.