Pela primeira vez, no ano de 2024, estabeleceu-se o dia 25 de fevereiro como o dia da Geografia Nacional. Tal iniciativa, que surgiu do seio da Associação Portuguesa de Geógrafos, tem como fundamento o estabelecimento do curso de Ciências Geográficas em Lisboa e Coimbra, no ano de 1935. Esta fixação da data do Geógrafo nacional leva-nos a uma série de reflexões que já se fazem sentir nas mais diversas Faculdades e Institutos de investigação geográfica: qual é o futuro da Geografia?

Comummente associamos a Geografia à ciência da descrição, essencialmente através da representação cartográfica e dos MACS (Matemática Aplicada às Ciências Sociais). A configuração escolar da Geografia remete-a para um conjunto de aprendizagens essenciais na área dos recursos (humanos e geológicos), do turismo, da economia, da demografia, etc. A Geografia no ensino obrigatório fica quase única e exclusivamente focada na descrição dos fenómenos naturais e antrópicos, sem procurar, contudo, uma explicação. Esta visão enviesada de divulgação da ciência geográfica tem contribuído para a degradação do seu prestígio e da sua importância junto dos setores mais importantes da nossa sociedade. E aliado à falta de professores (onde a área da Geografia é uma das áreas onde faltam mais), os jovens têm cada vez menos a perceção do que realmente é a Geografia.

Ora no mundo globalizado de hoje, uma área dotada de esquecimento é uma área vocacionada para o fracasso e para o desinteresse. Poucos são já os que podem apontar as capitais de distrito (quanto mais as NUTS), saber localizar Portugal no ponto de vista geográfico (sem falar nas visões do Portugal insular, continental e Atlântico, muito desenvolvidos por Orlando Ribeiro), o papel do país na Europa, nas comunidades e no mundo. A completa alienação dos jovens a questões tão fundamentais como a complementaridade dos setores de atividade e dos seus subsetores; a noção da diferença entre o crescimento natural (que reflete um conjunto de taxas naturais de mortalidade e natalidade) e do crescimento efetivo (que é a relação entre o crescimento natural e o saldo migratório), têm demonstrado o falhanço da Geografia na área do ensino. Sem falar na parte da Geografia Física, onde a interdisciplinaridade se torna mais evidente (entre a Geologia, Física, Química, etc.), é imperioso questionar o futuro do papel do Geógrafo e da Geografia na nossa sociedade.

Sendo que o geógrafo, na sua formação académica, aprende uma série de conceitos e metodologias, associadas às vertentes físicas e humanas do nosso mundo, é justo colocar a Geografia como uma ciência de charneira, de outro modo uma ciência conectora. O papel da Geografia, em último caso, reveste-se de interligar inúmeras visões “ultra-especializadas” das várias ciências sociais e exatas, o que explica a abrangência dos papéis e matérias dadas em Geografia (do 7.º ao 12.º ano). Infelizmente, esta abrangência tem vindo a ser deteriorada pelas contínuas pseudorreformas do ensino e do facilitismo que se tem vindo a fazer sentir, por forma a corresponder às médias europeias.

Desengane-se quem pense que este problema é única e exclusivamente do ensino regular. Nas universidades, o contínuo aumento do número de alunos e a redução das exigências que se verificaram após a reforma de Bolonha, têm vindo a formar especialistas que, na realidade, não são especialistas de coisa nenhuma. Tal tem resultado numa degradação da Licenciatura como grau académico, levando muitos diplomados a terminar em postos de trabalho precários, contribuindo para a degradação da meritocracia. É necessária uma reforma vigorosa dos papéis do Ensino que, gradualmente, modificará a configuração social (uma vez que o Ensino é a base do Estado de Direito). E, neste aspeto, através da versatilidade e as abordagens múltiplas que a Geografia pode proporcionar, o papel da ciência Geográfica pode ser novamente catapultado, contribuindo para uma melhoria genérica das políticas públicas.

O papel do Geógrafo, neste novo futuro, será não o apenas de descrever, mas de explicar e propor soluções (ainda que possam resultar em apoucamento público), que sejam revestidas de ponderação e conhecimento científico e empírico, ao invés das ondas sensacionalistas que se sentem um pouco por toda a sociedade. Só assim se poderá valorizar a Geografia e contribuir para o avanço científico do país.

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